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19 de abril de 2024 | 15:37
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Pinóquio e a mitomania

O ano de 2022 promete novidades em vários campos. No cinema será lançado o aguardado live-action “Pinóquio” da Disney, com direção de Robert Zemeckis, o mesmo de “Forrest Gump”, que repetirá a parceria com Tom Hanks, desta vez no papel de Geppetto. O velhinho solitário criou um boneco de madeira que sonhava se transformar em humano e se tornou o mentiroso mais conhecido de todos os tempos.

A mentira está em nosso cotidiano e começa na infância, onde inúmeras vezes nos deparamos com situações onde crian­ças mentem com naturalidade. Isso ocorre principalmente até os cinco anos de idade quando elas, ainda, têm dificuldade de dife­renciar a fantasia da realidade. Ao atingir os sete, já adquiriram noções de valores sociais, sabendo diferenciar verdade e mentira.

Também sabem o quanto a mentira pode prejudicar alguém. Segundo os especialistas, as cinco principais razões pelas quais as crianças mentem são: para não decepcionar alguém; fugir de responsabilidades; chamar atenção; evitar castigos e impressio­nar. Muitas pessoas continuam mentindo na fase adulta e com tamanha frequência que adotam as falsas histórias como meio de sobrevivência ou estilo de vida.

A ciência faz classificação dos mentirosos. Uma delas é a pseudolalia, quando a pessoa mente sem um objetivo específico, mente por mentir. Já na mitomania a compulsão por mentir geral­mente é para suprir alguma necessidade básica, características semelhantes a um transtorno de personalidade.

Quem sofre de mitomania mente tanto que cria desde fatos pequenos e aparentemente inofensivos até histórias mirabolan­tes extremamente elaboradas e ricas em detalhes. Seus relatos não são inteiramente improváveis e até contêm referências à realidade. O cardápio de aventuras é bem variado e geralmente o mentiroso se coloca como herói. Não podemos confundir com a hipocrisia, que é o ato ou efeito de fingir, dissimular sua verdadeira personalidade, intenções ou sentimentos e que em geral é motivada pela busca de alcançar a realização de vantagens pessoais ou por medo de assumir a sua real identidade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 12% da população brasileira ou 25 milhões de pessoas, sofrem com males mentais, sendo os mais conhecidos o transtorno obses­sivo-compulsivo (TOC), bipolaridade, síndrome do pânico, hipocondria, depressão, ansiedade e esquizofrenia. A família tem um papel fundamental no relacionamento com essas pessoas, zelando, protegendo, dando compreensão e afeto. No caso dos mitômanos os cuidados devem ser redobrados, pois suas menti­ras podem trazer consequências desastrosas.

Certos indivíduos elegem inimigos imaginários para atacar ou se fazer de vítima, uma forma hábil de ocultar as próprias falhas, medos, incertezas ou incompetência. O interessante é que muitas vezes falam com tanta habilidade que acabam conven­cendo seus interlocutores. Eles não têm limites e reproduzem suas fábulas em atividades familiares, profissionais, religiosas, políticas ou mesmo diante de grandes públicos.

A boa notícia é que existem tratamentos que podem ser feitos por psicólogos, porém alguns requerem a psiquiatria clínica com o uso de medicamentos. Embora a literatura médica indique que não se trata de uma doença contagiosa, existem relatos de mi­lhares de pessoas que acabam envolvidas, enganadas e iludidas de tal forma que possuem dificuldade em diferenciar a mentira da realidade e acreditam nos mitômanos, passando a viver no mesmo universo paralelo.

A nova versão do filme da Disney promete muitas novidades, efeitos especiais e computação gráfica, mas as lições da história original devem ser preservadas, entre elas a de que mentira tem perna curta e se arrepender de um erro traz recompensas positi­vas. Que venha 2022.

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