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19 de abril de 2024 | 4:34
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Polícia Rodoviária x Polícia Rodoviária

Hoje revisito minha gaveta cheinha de recordações. Saudades? Muitas, pois meu peito está carregado de lembranças. Foram 30 anos convivendo com parceiros das mais diversas manias e crenças, mas, na hora em que um precisava do outro, dava-se a vida pelo amigo.

Faz uns 30 anos que, levado por Sócrates, fui conhecer o Tio João, médium vidente, um espírita maravilhoso. Passei a estar na companhia dele com frequência e, adorando essa aproximação com a doutrina espírita, até me perguntava: “Porque não vim antes”?

Nas conversas que tivemos, Tio João nos contava que sua vidên­cia era tamanha que foi forçado a deixar de dirigir a Kombi do “Lar dos Jovens Idosos”, onde era presidente, porque espíritos atravessa­vam a rua na sua frente e ele vivia brecando, assustando quem estava junto e não conseguia ver o que ele enxergava.

Contei a ele várias histórias que vivi nos meus 30 anos de estra­da, como, por exemplo, o acontecido em certa noite gelada, tipo três da madrugada, na Base da Polícia Militar Rodoviária de Santa Rita do Passa Quatro. Meu parceiro era o Matos, o movimento no horá­rio era muito fraco. Estávamos na sala de onde, pela janela, víamos a pista. A porta de madeira estava fechada, mas não trancada. De repente ouvimos três batidas: toc, toc, toc.

Matos falou: “Pode entrar!” Nada aconteceu e a batida se repetiu. Matos disse outra vez: “Pode entrar!” E nada acontecia. Quando bateram na porta pela terceira vez, nós mesmo a abrimos. Não havia ninguém, demos uma geral em volta da base e nada encontramos. Ficamos incrédulos: como é possível batidas tão reais?

Tio João, ao ouvir a história, disse com a maior naturalidade: “Olha, Bueno, com certeza era um espírito, nós estamos rodeados deles, muitos ainda não perceberam que desencarnaram. Reze sem­pre um Pai Nosso ao chegar ao trabalho, e ao sair agradeça a Deus, peça proteção a Jesus e siga tranquilo. Tenha sempre muita fé”.

Tempos depois, na mesma base, estava com meu parceiro Ferraz, espírita. Era meio da tarde quando parou um ônibus da Viação Co­meta e o motorista gritou: “Corra aqui, seu guarda!”. Lá fomos nós. Um passageiro no terceiro banco estava se contorcendo, desfigurado, e Ferraz me disse: “Buenão, um espírito pegou o cara, corra e me traga um copo d’água”. Ele ficou rezando o Pai Nosso, Ferraz fez uma oração, o cara bebeu a água e muito assustado se recompôs.

O motorista disse que havia parado na biquinha d’água da serra de Santa Rita e a partir dali o cara passou mal. Ferraz disse: “Buenão, na biquinha, como as cachoeiras, são lugares que espíritos adoram”. Meses depois, lá estava eu com o Ferraz novamente e me para outro Cometa na mesma situação. Corremos lá, meu parceiro fez uma oração e com as mãos perto da cabeça do cara, disse: “Buenão, tire o sapato do pé direito dele e me dê”.

Desamarrei o sapato do sujeito que não parava de espernear, pas­sei pro Ferraz que tascou o nariz do cara dentro e o homem voltou ao normal, meio perdidão. Seguiram viagem. Intrigado, perguntei: “Ferraz, outro dia foi a água, hoje sapato?” Ele emendou: “Buenão, obedeço o que meu guia fala no meu ouvido”.

Os Pelotões de Franca e Ribeirão Preto tinham dois timaços de futebol, e resolveram armar um jogo regado a chope e churrasco. Tenente Furlaneto, hoje coronel, preocupado em não perder, co­mentou com o Ferraz, que para tranquilizá-lo, disse: “Deixa comigo, comandante, vou fazer um trabalho, vou amarrar as pernas daque­les caboclos, eles não vão correr em campo e nós vamos ensacar e depois vamos pro churrasco cheios de moral”.

Final da história, o tal trabalho deu ruim e o pelotão de Franca goleou o nosso de Ribeirão Preto e o churrasco foi uma grande festa de confraternização. Ferraz, inconformado, até hoje desconfia que os francanos neutralizaram sua mandinga (heheheheh). Um baita abraço aos queridos amigos vigilantes rodoviários.

Sexta conto mais.

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