Em uma última tentativa de unificar o MDB e o PSDB no mesmo palanque presidencial, os dirigentes das duas siglas marcaram para este fim de semana a montagem e coleta de dados de uma pesquisa quantitativa e qualitativa para testar os nomes dos respectivos pré-candidatos: a senadora Simone Tebet (MS) e o ex-governador João Doria (SP).
Os marqueteiros de ambos concordaram com a contratação do professor de estatística da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Paulo Guimarães, dono do Instituto Guimarães de Pesquisa e Planejamento (IGPP), mas a negociação em torno das perguntas a serem incluídas no questionário foi marcada por uma série de divergências.
Pesquisa
Estrategista de Simone Tebet, Felipe Soutello queria ampliar o questionário qualitativo e acrescentar até 30 “atributos” a serem apresentados aos entrevistados, o que teria sido vetado por Lula Guimarães, marqueteiro de Doria. Por outro lado, o grupo do ex-governador teria sugerido deixar de fora questões sobre a rejeição aos nomes, o que também foi negado.
Por fim, eles chegaram a um acordo e formularam um questionário enxuto com temas como competência, experiência, capacidade de unir o Brasil e melhorar a economia. O resultado da pesquisa já deve ser apresentado aos dois partidos na semana que vem e a ideia é divulgar os números até dia 18, data originalmente anunciada como prazo final para a formalização de uma candidatura única de terceira via.
Questionário
Apesar de considerar o questionário favorável a Doria, o grupo de Simone e tucanos da direção executiva do PSDB acreditam que é muito difícil que o resultado seja favorável ao ex-governador, uma vez que hoje, de acordo com as pesquisas já disponíveis, o tucano até aparece na frente da emedebista, mas dentro da margem de erro em geral.
Após a apresentação dos resultados, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, vai convocar uma reunião da executiva do partido. O grupo de Doria deixou claro que não vai aceitar uma eventual imposição do comando da sigla para retirar sua candidatura e alega que o resultado das prévias do ano passado credenciam o ex-governador a ter a palavra final sobre o rumo tucano no pleito. O MDB sinalizou que aceitaria ter Doria como vice de Simone, mas o tucano rechaça a ideia e ameaça levar o caso para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Tebet também já sinalizou em diversas entrevistas que rejeita o papel de vice, alegando que essa indicação é resultado de discriminação de gênero, por ser mulher. Na prática, integrantes dos dois lados da disputa apostam que o cenário mais provável é que cada partido siga seu caminho, embora Doria tenha já o apoio do Cidadania, que formou uma federação com os tucanos.
Divergências
As convenções partidárias, que vão bater o martelo formal do posicionamento na corrida presidencial, serão realizadas no fim do primeiro semestre. O clima nos bastidores entre as equipes dos pré-candidatos ficou tenso nos últimos dias.
“Com todo respeito à senadora Simone Tebet, mas essa disputa é assimétrica em relação ao currículo. É uma desproporção comparar uma ex-prefeita de Três Lagoas, que tem 120 mil habitantes, o mesmo que (o bairro de) Pinheiros (na capital paulista), e o João, que foi governador e prefeito da quarta maior cidade do mundo”, disse Lula Guimarães.
Ainda segundo o marqueteiro do tucano, o fato de o MDB ter uma candidata mulher não representa uma vantagem. “Não acho que faz diferença. Uma das maiores rejeições da política brasileira foi a uma mulher, Dilma Rousseff”, afirmou.
Ele ainda minimizou o impacto da rejeição a Doria: “Essa rejeição é fruto de uma máquina de destruição do bolsonarismo e foi construída artificialmente. Já Felipe Soutello tem outra leitura. “Simone não tem rejeição a ser combatida para construir sua imagem e, portanto, tem mais facilidade de quebrar a inércia e combater a polarização”, afirmou o marqueteiro emedebista.