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17 de abril de 2024 | 23:32
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Ramba segue para santuário em MT

Depois de quase três déca­das trabalhando como “artista” em circos, a elefanta asiática Ramba, de ao menos 53 anos, chegou ao Brasil, nesta quarta­-feira, 16 de outubro, para uma merecida aposentadoria. A passageira ilustre, com seus 3,6 mil quilos, desembarcou às seis horas da manhã no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, três horas de­pois de partir do aeroporto de Santiago, no Chile, a bordo de um Boeing 747-400.

Ramba foi trazida no inte­rior de uma caixa de quase seis toneladas, com água, alimenta­ção, temperatura controlada e câmeras internas de monitora­mento. A elefanta passou pelos trâmites da Receita Federal, foi inspecionada por técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na­turais Renováveis (Ibama) e re­cebeu uma guia de transporte expedida por funcionários do Ministério da Agricultura, Pe­cuária e Abastecimento.

Às nove horas da manhã, Ramba seguiu em comboio rodoviário para o Santuário de Elefantes do Brasil, uma re­serva de 1,1 mil hectares, em Chapada dos Guimarães (MT). A viagem internacional marca um novo capítulo na história da elefanta que nasceu selva­gem e foi domesticada para ser atração circense. A maratona, iniciada em Rancágua, a 90 quilômetros de Santiago, deve terminar somente na noite des­ta quinta-feira (17), ou na ma­nhã de sexta-feira (18) com a chegada ao destino.

No percurso de 1.500 qui­lômetros, Ramba vai ter água à vontade e será alimentada com feno, frutas e legumes, além de suplementos. Se quiser, terá di­reito a caminhadas em fazen­das ao longo do trajeto, que já estão de preparadas para essa eventualidade. Além do cami­nhão-guincho da empresa Por­to Seguro, que cedeu o trans­porte, uma equipe de apoio incluindo uma veterinária e o presidente do santuário, Scott Blais, seguem com o comboio, escoltado pela Polícia Rodoviá­ria Federal (PRF).

Aparato
A chegada de Ramba mo­vimentou os bastidores do ae­roporto de Viracopos, que em 59 anos de história, já recebeu baleia, onça, canguru, avestru­zes, boiadas inteiras, mas nun­ca tinha recebido um elefante. A operação de desembarque mobilizou cerca de 30 pesso­as. Após um voo de três horas, Ramba chegou um pouco agi­tada, segundo o presidente do santuário, Scott Blais, que estava com ela no avião. “Ela sente que não está com os pés em terra firme e fica um pouco nervosa, mas logo se acalma”, disse.

Funcionários da conces­sionária do aeroporto abri­ram uma faixa com os dizeres: “Ramba, seja bem-vinda ao Brasil. Viracopos te recebe de braços abertos”. O contêiner foi aberto para higienização, mas a elefanta permaneceu no in­terior. No santuário, a elefanta será recebida pelas novas com­panheiras Maia e Rana, que já vivem ali. A caixa será aberta em uma baia forrada com areia para que ela possa ter contato com o chão.

Maus-tratos
A idade de Ramba é incer­ta, calculando-se que tenha entre 53 e 60 anos. Em liber­dade, um elefante vive até 80 anos, mas o cativeiro pode re­duzir essa previsão. Conhecida como a última elefanta de circo do Chile, Ramba foi comprada na Ásia e levada para a Argen­tina na década de 1980. Du­rante três décadas, ela viajou de caminhão, presa a corren­tes, para ser vista pelas plateias.

Em 1997, o animal foi con­fiscado do circo “Los Tachuelas” pelo Serviço Agrícola e Pecuário do Chile, devido às denúncias de negligência e maus tratos. Embora proibido de usá-la em apresentações, o circo conti­nuou como depositário até a elefanta ser resgatada, em 2011, pela ONG Ecópolis de proteção aos animais, e levada para Ran­cágua. A entidade, que atua com outros animais silvestres e tem pouca experiência com elefan­tes, acabou entrando em contato com o santuário brasileiro.

De acordo com a voluntária Valéria Mindel, a elefanta conti­nuava sofrendo com o rigor do inverno chileno e com a solidão. O santuário abriu um financia­mento coletivo no Brasil e nos Estados Unidos para custear a transferência e contou com apoio de empresas para o trans­porte de Ramba. A entrada da elefanta no País foi autorizada pelo Ibama. O aeroporto de Vi­racopos não cobrou taxas alfan­degárias. Aos 46 anos, Scott Blair dedica sua vida a esses animais. Ramba é o 36º elefante resgatado por Blair e sua mulher, Katheri­ne, e transferido para os santuá­rios espalhados pelo mundo.

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