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28 de março de 2024 | 10:02
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Recreativa de Ribeirão

Todas as cidades têm um ou vários corações. Na década de cinquenta, por volta de 1955, um dos corações de Ribeirão Preto era a Recreativa.

Antes dela o local era ocupado pelo Comercial F.C., tanto que até hoje o emblema dela tem raízes no símbolo do time de futebol. Naquele tempo, a Prefeitura Municipal havia emprestado para o clube um enorme terreno, que ainda está ali, para ser nele mantida uma pista de atletismo para sócios e não-sócios. Hoje a área é ocupada por quadras de tênis.

Não havia ainda a Avenida Nove de Julho. A porta do clube dava para a Praça Camões. Onde hoje se encontra o seu prédio principal ficavam as quadras de tênis. A piscina tinha como limite a Rua Visconde do Inhaúma e Bernardino de Campos. A área ocupada hoje pela piscina coberta era ocupada pelo salão de bailes. Ali o colombiano Carlos Ramirez cantou “Bonequi­nha Linda”, canção por ele e Xavier Cugat oferecida para Ester Willians no filme Escola de Sereias. Um sucesso!

O clube, com o apoio da Prefeitura, mantinha algumas equipes desportivas. Uma delas era constituída pela turma da piscina. Na Olimpíada de Helsinque somente dois atletas pon­tuaram para o Brasil: Ademar Ferreira da Silva, do São Paulo F. C., no salto triplo, e o nadador Milton Buzin da Recreativa, no salto de trampolim.

Na quadra de bola ao cesto, hoje denominada quadra de basquete, brilharam Tales e Lício Avezum, o primeiro membro da receita estadual e o segundo médico em Araçatuba. Compu­seram a seleção brasileira e paulista de basquete.

A equipe de vôlei, dirigida por Geraldo de Paula Melo, desta­cou grandes atletas, entre os quais o Santana e a Rosa Maria.

A pista de atletismo trouxe grande glória para o clube e para Ribeirão Preto. Os atletas eram dirigidos pelo extraordinário Geraldinho. No Brasil havia apenas três grandes equipes de atle­tismo: o São Paulo, o Flamengo e a Recreativa de Ribeirão.

O Flamengo tinha na sua equipe um atleta especialíssimo que disputava com sucesso várias modalidades do esporte: José Teles da Conceição. O Flamengo era José Telles da Conceição.
O São Paulo brilhava com o resultado do trabalho de um técnico sueco que modernizou o atletismo brasileiro.

A Recreativa e a Prefeitura valiam-se do trabalho do Geraldi­nho que montou uma equipe histórica que, como registrei antes, era composta por sócios e não-sócios. Entre eles Sílvio Braga e Teodomiro Uchôa, donos da Casa do Atleta, e, Francisco de Assis Moura, Delegado de Polícia de Brodowski.

Francisco de Assis Moura, o Chicão, era o atleta mais perfeito da América Latina. Sofreu uma grande contusão que o afastou das disputas. Mas continuou treinando. Em 1954, no Quarto Centenário de São Paulo, Chicão foi escalado para compor a equipe brasileira para participar do Sul-americano. Não havia outro decatleta.

Chicão tinha como principal adversário um atleta vene­zuelano muito ágil. Na última prova, salvo engano a corrida de mil quinhentos metros rasos, Chicão e o venezuelano, estavam praticamente empatados. Portanto, o Chicão deveria perder. Acompanhávamos a prova pelo rádio. Não havia TV.

O venezuelano saiu na frente. Na primeira curva os estudan­tes da Faculdade de Direito de São Paulo emitiram o seu grito de guerra. O Chicão não somente foi às lágrimas como disparou numa velocidade espantosa, vencendo a corrida e recebendo o prêmio: oficialmente tornou-se o mais completo atleta da América Latina. O Dr. Francisco de Assis Moura, fazia parte da Recreativa e de Ribeirão Preto.

É possível que minha memória tenha cometido erros. Mas não me esqueço daqueles meus quinze anos coincidentes com o centenário de Ribeirão e dos dias de glória da Recreativa.

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