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19 de abril de 2024 | 20:29
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ARIEL MILANI MARTINE
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Região foi ‘lar’ de dino inédito

Com o uso de novas técni­cas de identificação, pesquisa­dores descobriram que os fós­seis de um dinossauro achados há 24 anos em Cândido Ro­drigues, na macrorregião de Ribeirão Preto, são de uma es­pécie de titanossauro até agora inédita na paleontologia brasi­leira. Antes se acreditava que os ossos eram de um dinossau­ro semelhante aos que viveram na Argentina.

A nova descoberta já per­mitiu que o gigante jurássico, que media cerca de 20 metros de comprimento, fosse reba­tizado. O estudo, publicado no último dia 29 de abril na revista inglesa Historical Bio­logy, foi desenvolvido pelos pesquisadores Julian Silva Junior e Max Langer, da Uni­versidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Fabiano Vidori, colaborador do Mu­seu de Monte Alto, Thiago Marinho, da Universidade Federal do Triângulo Minei­ro, e pelos pesquisadores ar­gentinos Augustin Martinelli e Martin Hechenleitner.

Segundo Julian Silva Junior, o Arrudatitan tinha entre 19 e 22 metros de comprimento, sendo considerado o terceiro maior
dinossauro do país

Utilizando novos dados e técnicas que surgiram re­centemente, eles concluíram que o dinossauro brasileiro não era “parente” de outros dinos argentinos, como se acreditou inicialmente. Na época, o animal foi reconhe­cido como uma espécie nova entre os Aeolosaurus, mas de um gênero já conhecido na Argentina.

“Analisando as estrutu­ras das vértebras caudais do dinossauro de Cândido Rodrigues, observamos que são distintas dos demais di­nossauros de seu grupo e tais feições serviram para estabelecer um diagnóstico para propor um novo gêne­ro”, explica Silva Junior, autor principal do estudo publica­do agora.

Nome Arrudatitan maximus é em homenagem ao professor Antônio Celso de Arruda Campos, coordenador das escavações
que aconteceram entre 1997 e 98

O dinossauro ganhou um novo nome de “batismo”: Arru­datitan maximus, em homena­gem ao professor Antônio Celso de Arruda Campos, coordena­dor das escavações que aconte­ceram entre 1997 e 98, falecido em 2015 – chamado carinho­samente pelos amigos de “Seu­toninhossauro”. Segundo Julian Silva Junior, o Arrudatitan tinha entre 19 e 22 metros de compri­mento, sendo considerado o ter­ceiro maior dinossauro do país.

O gigante pertencia ao grupo dos saurópodes, di­nos herbívoros caracterizados por pescoços e caudas longos. Além do grande tamanho, esse dinossauro se destaca por ter um esqueleto leve, porém re­sistente para suportar o peso do animal. O paleontólogo Fabiano Iori conta que o Ar­rudatitan viveu há cerca de 85 milhões de anos, no período cretáceo, convivendo com di­nossauros predadores, croco­dilos, tartarugas e moluscos da mesma época.

Fósseis em exposição no Museu de Monte Alto e um osso ainda no local da descoberta na primeira escavação (detalhe), em 1997, em Cândido Rodrigues

Conforme a diretora do Museu de Paleontologia de Monte Alto, Sandra Tavares, o estudo amplia o conhe­cimento sobre os fósseis de titanossauros que vivem na região. Os fósseis do Arruda­titan maximus, além de sua importância científica, estão entre as peças mais aprecia­das da coleção do museu pela dimensão dos ossos. “Em breve, os fósseis poderão ser vistos pelo público em geral na reabertura do museu, logo após a estabilidade da pande­mia do coronavírus”, diz.

 

Caçadores
Os fósseis da espécie ago­ra identificada como inédita no Brasil foram achados pelo comerciante de frutas Ade­mir Frare e seu sobrinho Luiz Augusto dos Santos Frare, na época com 12 anos, mo­radores de Cândido Rodri­gues que, nas horas vagas, se transformavam em caçadores de dinossauros. A dupla tinha o hábito de percorrer os sítios da região em busca de fós­seis e, numa dessas caçadas, acharam ossos muito grandes e entraram em contato com o museu de Monte Alto.

Iori relata que as escava­ções revelaram uma raridade paleontológica. “Começamos a escavar e não parava de apa­recer fósseis. Encontramos vértebras, costelas, partes da bacia e ossos de membros, muitos deles ainda estavam articulados, principalmente os ossos da região dos fêmu­res e início da cauda”, contou. O animal havia sido batizado inicialmente de Aerosaurus maximus, já que se acredi­tava que o grande herbívoro fosse parente dos dinossauros dessa espécie que viveram na Patagônia argentina.

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