19 de abril de 2024 | 0:51
Jornal Tribuna Ribeirão
JF PIMENTA
Início » Riscos de surto de zoonoses no Brasil
DestaqueSaúde

Riscos de surto de zoonoses no Brasil

Dois terços dos estados brasileiros têm risco médio a alto para ser o próximo palco de surto de zoonoses — doen­ças naturalmente transmissí­veis entre animais e humanos —, aponta um estudo publica­do na revista Science Advan­ces. Segundo Ricardo Augusto Dias, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zoo­tecnia (FMVZ) da Universida­de de São Paulo/USP, o qual analisa os dados trazidos pela pesquisa, a transmissão pode acontecer a partir do contato com o animal vivo, morto ou ainda pelo contato com seus produtos e subprodutos, como carne, pele, urina e fezes, geral­mente, quando há caça, abate e consumo desses animais, ou mesmo o uso deles como pets. O professor informa que essas doenças são mais comumente transmitidas por animais do­mésticos, mas a transmissão por animais silvestres é possí­vel e a severidade tende a ser ainda maior.

O que está por trás?
A pesquisa, a qual analisou dados de incidência de casos e mortes, ocorrência de mamí­feros e seus patógenos, caça e perda de vegetação natural, aler­ta para a aceleração do próximo surto no país devido ao aumen­to da vulnerabilidade social e ambiental. De acordo com Dias, os surtos acontecem com mais frequência entre populações mais vulneráveis socioeconomi­camente e em ambientes deses­tabilizados, como em áreas onde há derrubada de floresta ou de novas ocupações: “Geralmente, essas áreas são mais pobres, en­tão não há uma estrutura que possa garantir a saúde do am­biente, a saúde dos animais ou a saúde humana”.

De acordo com o relatório, outra condição para o fluxo de zoonoses ocorre à medi­da que a ocupação humana avança para áreas naturais, intensificando o contato com animais selvagens. A malária e leishmaniose, por exemplo, estão diretamente relacionadas ao desmatamento. O hantaví­rus e a febre amarela também são doenças relacionadas a atividades agrícolas e florestais em locais desmatados em um curto período de tempo.

Um surto de zoonose também, conforme explica o estudo, tem relação com a cobertura vegetal. Um estado considerado de alto risco é o Maranhão, que tem quase 35% do seu território coberto por floresta. Já o Ceará, que tem a Caatinga como bioma preva­lecente, é considerado de bai­xo risco para desenvolver um surto. Mas Dias acrescenta que uma zoonose não surge apenas em grandes ambientes verdes: “Podem acontecer também em regiões já antropizadas, prin­cipalmente aquelas zoonoses ligadas a animais domésticos, que são as mais prevalentes e graçam sobre uma população bem maior”.

Contenção de risco
Uma possível resposta à cri­se citada pela pesquisa é a alta conectividade entre as cidades e a capilarização do acesso ao sistema de saúde, possibilitan­do que uma pessoa doente se trate em outro município caso não consiga ser atendida onde mora. O professor também cita reduzir a pobreza e ga­rantir o acesso da população a serviços de saneamento básico, ambientes mais equilibrados e uma alimentação equilibrada, como outras medidas para conter o avanço das zoonoses. Além disso, ele responsabiliza o poder público para fazer a vigilância e o controle dessas doenças, bem como dar maior atenção às regiões vulneráveis.

Dias também defende a res­ponsabilidade governamental nesse cenário. Para ele, os ser­viços de gestão de saúde pú­blica, saúde ambiental e saúde animal devem fazer a vigilân­cia e o controle dessas doenças e dar maior atenção às regiões vulneráveis: “Uma coisa que é notória, não só no Brasil, mas em outros países, principal­mente aqui da América Lati­na, da África, da Ásia, é que está havendo um movimento de negligência com relação aos serviços de saúde animal e humana, quanto mais a saúde ambiental”, expõe.

“É necessário o fortaleci­mento desse tipo de serviço e o aprimoramento das técnicas dos serviços de informação, dos serviços de vigilância, de inteligência em saúde única, como eu definiria, na integra­ção de informações da saúde animal, da saúde humana e da saúde ambiental”, completa. Ele reforça que a responsabi­lidade não recai apenas para gestores locais, mas também para gestores estaduais e na­cionais. (Com informações do Jornal da USP).

Mais notícias