Tropas russas atacaram o porto de Odessa, no sul da Ucrânia, na segunda-feira, 9 de maio, segundo as autoridades ucranianas. O ataque faz parte, aparentemente, dos esforços russos para interromper as linhas de abastecimento e remessas de armas para as forças ucranianas.
O porto foi atingido por mísseis russos na data em que o presidente Vladimir Putin liderou as comemorações de Moscou do Dia da Vitória. Incêndios foram causados, e bombeiros estiveram no local até a madrugada desta terça-feira (10). Uma pessoa foi morta e cinco ficaram feridas.
Imagens feitas na noite de segunda-feira mostram um prédio em chamas e detritos em Odessa, a terceira maior cidade do país. Ao amanhecer, o prefeito Gennadi Trukhanov visitou o edifício e disse que “não tinha nada em comum com infraestrutura militar ou objetos militares”, sugerindo que o ataque foi direcionado a um local civil.
A Ucrânia alega que pelo menos algumas das munições usadas no ataque são da era soviética, o que pode indicar uma precisão menor da mira. Entretanto, o Centro de Estratégias de Defesa, think thank ucraniano que acompanha a guerra, afirma que a Rússia usou algumas armas de precisão.
Autoridades ucranianas, britânicas e americanas alertam que o uso dessas armas pode estar sendo feito de maneira rápida pela Rússia. Isso diminui o estoque, pressiona a capacidade de construir mais armas no mesmo ritmo e aumenta o risco de mísseis mais imprecisos serem usados à medida que o conflito avança.
Mesmo que não consiga separar a Ucrânia do Mar Negro, os ataques russos contínuos com mísseis em Odessa refletem a importância da cidade como um centro estratégico de transporte. Os militares russos atacaram repetidamente o aeroporto da cidade e alegaram que destruíram vários lotes de armas ocidentais.
Odessa também é uma importante porta de entrada para embarques de grãos, e o bloqueio da Rússia já ameaça o abastecimento global de alimentos. Além disso, a cidade é um patrimônio cultural, cara tanto para ucranianos quanto para russos, e atacá-la também carrega um significado simbólico.
Azovstal
Um dos exemplos mais dramáticos da capacidade da Ucrânia de não dar vitória fácil à Rússia está em Mariupol, onde combatentes ucranianos permanecem escondidos na usina siderúrgica de Azovstal, apesar do cerco que dura onze semanas. O regimento de Azov, que defende o local, afirmou nesta terça-feira que os aviões de guerra russos continuam os bombardeios.
A situação dentro da usina é difícil de descobrir com clareza. Nos últimos dias, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Cruz Vermelha organizaram um resgate de dezenas de civis que estavam dentro de Azovstal e chegaram a declarar que eram os últimos civis presos na usina.
Entretanto, duas autoridades ucranianas voltaram a afirmar nesta terça-feira que cerca de 100 pessoas ainda estão no local. Outros disseram que era impossível confirmar essa informação.
ONU denuncia milhares de mortos
Há milhares de civis mortos na Ucrânia além dos 3.381 relatados pela ONU em quase onze semanas de guerra no país, disse nesta terça-feira (10) a chefe da Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia. A equipe, que inclui 55 monitores no país, afirma que a maioria das mortes ocorreu devido ao uso de armas explosivas, com ampla área de impacto, como mísseis e ataques aéreos.
“Temos trabalhado em estimativas, mas tudo o que posso dizer por enquanto é que é milhares de vezes mais alto do que os números que demos atualmente”, disse Matilda Bogner em entrevista em Genebra, quando questionada sobre o número total de mortos e feridos.
A Rússia nega ter como alvo os civis e chama sua invasão, lançada em 24 de fevereiro, de “operação militar especial” para desarmar a Ucrânia e livrá-la de nacionalistas antirussos fomentados pelo Ocidente. Bogner afirmou que sua equipe também está investigando o que descreveu como “alegações confiáveis” de tortura, maus-tratos e execuções pelas forças ucranianas contra as forças invasoras russas e grupos armados afiliados.