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29 de março de 2024 | 7:04
Jornal Tribuna Ribeirão
(Foto:Kaio Lakaio/VEJA)
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Esportes

Salário do futebol feminino brasileiro se equipara ao da Série C masculina

Por Catharina Obeid e Gonçalo Junior
Os gritos por igualdade salarial que marcaram o título dos Estados Unidos no Mundial de Futebol Feminino têm eco no Brasil. Por aqui, homens também ganham mais do que mulheres. Nos grandes clubes, eles recebem muito mais mesmo. Enquanto a folha de pagamentos dos gigantes de São Paulo giram entre R$ 10 milhões, os gastos com os times femininos ainda são da ordem de R$ 100 mil. É uma diferença de cem vezes. Portanto, brutal. No caso dos times menores, a remuneração das jogadoras oscila e é compatível com a dos homens das Séries B, C e até D do Campeonato Brasileiro. 

De acordo com informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) da Secretaria da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia (antigo Ministério do Trabalho), os salários de mulheres são de R$ 2.556,34. No caso dos homens, R$ 5.577,53. Ou seja: os homens ganham 118% a mais. A amostragem é de dez mil profissionais pesquisados.

“Elas têm salários comparados com jogadores da Série B ou até uma série inferior, infelizmente”, diz Thaís Picarte, goleira do Santos e vice-presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais de Futebol do Município de São Paulo. “Essa diferença salarial é um absurdo. Pior é que não sei se a gente vai conseguir igualar isso algum dia”, diz Cristiane, do São Paulo. “Lá fora, a situação é a mesma. Dificilmente, você encontra uma atleta que ganhe 15 mil euros ou uns R$ 60 mil”, diz a ex-jogadora do PSG, o mesmo time de Neymar. 

Questionado pelo Estado sobre a diferença salarial, Marco Aurélio Cunha, coordenador das seleções femininas da CBF, citou jogos recentes que não tiveram cobrança de ingressos do futebol feminino. “São unidades de negócio diferentes. Um é consolidado e lucrativo no País; o outro está em formação e ainda precisa de investimentos. Eles podem ser iguais financeiramente?”, questiona. 

O professor Eduardo Carlassara, doutorando da Escola de Educação Física e Esporte da USP, concorda que o modelo de negócio precisa ser repensado. “A diferença de remuneração entre os gêneros está atrelada à procura e ao preço dos ingressos. Na Rio-2016, os ingressos para as competições masculinas eram 33% mais caros do que as femininas. Isso pode influenciar na remuneração”, explica. 

Além dos baixos salários, muitas não têm registro profissional. Entre os 52 clubes que disputam o Brasileiro feminino, menos de 10% assinam a carteira das atletas. Sem registro, a jogadora não tem acessos aos direitos trabalhistas. Pior: não consegue recorrer aos benefícios do INSS quando sofre um contusão grave, por exemplo. “Uma colega ficou nove meses esperando uma ressonância e mais de um ano para conseguir a cirurgia”, conta Thais. 

Essas dificuldades não se limitam aos clubes menores ou equipes recém-criadas por exigência da CBF, mas atingem as atletas da seleção que permanecem no País. As jogadoras do Corinthians, por exemplo, assinaram um acordo de prestação de serviços com duração de um ano. 

Marco Aurélio Cunha reconhece a falta de profissionalização no Brasil. “Ainda é uma atividade semiprofissional. Se exigirmos isso (carteira assinada) de todos, não haverá chance de sobrevivência de muitos clubes”, argumenta o dirigente. 

Aline Pellegrino, diretora de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol (FPF), defende que todas as condições precisam melhorar. “Temos de focar em aumentar o número de campeonatos, principalmente nas categorias de base, e focar na estrutura para os treinamentos e partidas”, afirma.

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