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29 de março de 2024 | 10:57
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Siamesas devem ter alta nesta sexta-feira

Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, gêmeas siamesas que nasceram unidas pela cabeça, devem ter alta do Hospital das Clínicas da Facul­dade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP/USP), nes­ta sexta-feira, 7 de dezembro. Elas vão passar as festas (Na­tal e Ano-Novo) em Patacas, distrito de Aquiraz, distante 35 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, onde nasceram, mas retornarão em janeiro para o período de reabilitação, que deve durar um ano.

Maria Ysadora foi submetida à uma pequena e simples cirur­gia de reparação nesta quinta-feira (6). A equipe médica fez a correção de uma cicatriz. Antes, em 22 de novembro, a irmã Ma­ria Ysabelle já havia passado por operação no HC para implan­te de pele na parte posterior da cabeça. Os dois procedimentos transcorreram sem incidentes e as meninas estão bem. Elas são consideradas gêmeas siamesas craniopagus. Para fazer história na medicina brasileira, a equipe do HC teve a ajuda fundamental da Gphantom.

A startup é ligada ao Supera Parque que produziu, em par­ceria com o Grupo de Inovação em Instrumentação Médica e Ultrassom (Giimus) do Depar­tamento de Física da USP, si­muladores clínicos para que os médicos pudessem treinar cada passo da complexa cirurgia. Os modelos físicos, também conhecidos por simuladores clínicos, permitiram que os profissionais pudessem intera­gir e verificar as conexões entre as estruturas, além das princi­pais veias e artérias, planejando a melhor forma de executar a cirurgia, inédita no Brasil.

As gêmeas também ganha­ram “bonecas siamesas”. O brin­quedo foi confeccionado por artesãs a pedido dos médicos e tem como objetivo facilitar a compreensão das meninas sobre o processo de separação. O pai das gêmeas, Diego Freitas Fa­rias, conta que elas ainda estão se adaptando à nova vida. “Elas sentem falta uma da outra. Às vezes, jogam o brinquedinho para trás, colocam na cabeça. Fica cheio de brinquedo na ca­beça. Daí, a gente fala que elas não estão mais juntas, estão ao lado uma da outra. Aos pou­cos, vão acostumando, é um processo”, diz.

As bonecas feitas em tecido têm os nomes de Maria Ysabel­le e Maria Ysadora gravados na roupinha, além de cachinhos, como os cabelos das gêmeas. No topo da cabeça, as artesãs colo­caram um velcro, que permite unir as duas, assim como as sia­mesas nasceram. “Fiquei muito emocionada porque relembrei como elas eram. No começo, quando eram mais novas, ti­nham esses cachinhos também. Eu acho que é bom elas enten­derem, vou explicar como elas nasceram, que estão separadas, mas sempre unidas”, diz a mãe, Débora de Freitas.

As duas foram separadas há pouco mais de um mês depois de uma série de cinco cirurgias que começou em fevereiro. A separação definitiva ocorreu em 27 de outubro. As duas irmãs têm desenvolvimento normal, como qualquer criança da idade delas, estão aprendendo a falar, brincam juntas e até já ficam sentadas para se alimentar. No dia 7 deste mês, as irmãs deixa­ram a Unidade de Terapia In­tensiva (UTI) Pediátrica do HC, onde passaram nove dias. No dia 31 de outubro, a equipe mé­dica divulgou uma foto em que as gêmeas aparecem nos colos do pai Diego e da mãe Débora Freitas, separadas e com as cabe­ças enfaixadas.

As irmãs passaram por cinco cirurgias desde fevereiro. A úl­tima, como em todos os proce­dimentos que envolvem as sia­mesas, contou com apoio de 30 profissionais. O procedimento é inédito no Brasil. O médico norte-americano James Goo­drich, referência mundial no assunto e que criou o método de separação de siamesas por etapas, acompanhou a opera­ção. Segundo ele, antes da ci­rurgia por fases era muito difícil salvar as duas pessoas e os pais, muitas vezes, tinham de esco­lher quem sobreviveria.

A família está morando tem­porariamente no campus da USP com o apoio de voluntários. Esse tempo no HC é necessário para que a equipe veja se elas vão ter algum tipo de déficit. Todo o processo de separação das me­ninas é custeado pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS). Nos Estados Unidos, uma cirurgia de separação como a delas custa cerca de R$ 9 milhões.

A equipe que participou da cirurgia de separação foi composta por neurocirurgiões, cirurgiões plásticos, neurora­diologistas, anestesistas, pedia­tras intensivistas e enfermeiros – foram homenageados pelo prefeito Duarte Nogueira Jú­nior (PSDB) e pela Câmara de Vereadores. Comandado pelo professor chefe do Departa­mento de Neurocirurgia Pedi­átrica, Hélio Rubens Machado, o procedimento foi dividido em cinco etapas para que pudes­se ser concretizado.

A primeira operação ocor­reu em 17 de fevereiro e durou cerca de sete horas. A segunda cirurgia, em 19 de maio, teve duração de oito horas. A ter­ceira cirurgia ocorreu em 3 de agosto e se estendeu por oito horas. A quarta cirurgia acon­teceu em 24 de agosto, quando os médicos implantaram ex­pansores subcutâneos para dar elasticidade à pele e garantir que, na separação total de cor­pos houvesse tecido suficiente para cobrir os dois crânios. A última levou mais de 20 horas.

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