A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira, 19 de setembro, a segunda fase da Operação Spoofing, que investiga a invasão de celulares pelo menos mil pessoas, entre elas autoridades como o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça Sérgio Moro e os procuradores da Operação Lava Jato, inclusive Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa.
O programador de computadores Thiago Eliezer Martins dos Santos, o “Chiclete”, de 25 anos, foi preso em Brasília, e o estudante de Direito Luiz Henrique Molição, de 19 anos, foi preso em casa, em Sertãozinho, na Região Metropolitana de Ribeirão Preto.
“Chiclete” se encontrou com Walter Delgatti Neto, de 30 anos, o “Vermelho”, em Brasília. Ele já esteve envolvido em um episódio de compra de uma Land Rover com Tulio Guerreiro, ex-jogador de futebol do Botafogo e do Corinthians – a transação não se concluiu. Cerca de 30 policiais federais participaram das ações cumprindo seis mandados de busca e apreensão em quatro imóveis ligados aos investigados.
As ordens foram cumpridas em São Paulo, Sertãozinho e Brasília. Os seis mandados de busca e apreensão e os dois de prisão temporária – por cinco dias – contra “Chiclete” e Molição foram expedidos pelo juiz Ricardo leite, da 10ª Vara Federal de Brasília (DF). O programador e o estudante já estão detidos numa carceragem da PF em Brasília. Os dois devem ser ouvidos nesta sexta-feira (20). A investigação está sob sigilo.
Molição conheceu Walter Delgatti Neto na faculdade onde faziam o mesmo curso. Na casa dele, no bairro Primeiro de Maio, em Sertãozinho, a PF apreendeu documentos e computadores. Na primeira fase da operação, em julho, foram presos “Vermelho”, o motorista Danilo Cristiano Marques, de 36 anos, o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, e a namorada dele, Suelen Priscila de Oliveira, de 25. Todos são suspeitos de hackear o ministro Sergio Moro, Deltan Dallagnol, Bolsonaro (e outras autoridades – são cerca de mil pessoas no total, entre empresários, jornalistas e autoridades dos três Poderes.
“Vermelho” foi preso no Edifício Premium, na avenida Leão XIII, no bairro da Ribeirânia, na Zona Leste de Ribeirão Preto. O apartamento foi alugado por Marques, suspeito de ser o testa de ferro do amigo – todos são de Araraquara, onde o motorista foi preso. O casal foi detido em São Paulo. Uma imagem da tela do celular de Delgatti indica que ele pode ter hackeado os celulares de políticos de Ribeirão Preto.
As vítimas seriam o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB), o deputado federal e líder do MDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi, e o deputado estadual Léo Oliveira (MDB), usuários do aplicativo Telegram. Inicialmente, os quatro presos são investigados pelos crimes de associação criminosa, invasão de dispositivos informáticos e interceptações telefônicas. Caso também sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem integrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.
Na lista de “Vermelho” estão ainda os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A lista de autoridades alvo do grupo também inclui o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Otávio Noronha. O senador Cid Gomes (PDT-CE) também foi alvo de Walter Delgatti.
“Vermelho” que confessou o hackeamento e o repasse das informações para o portal The Intercept Brasil, que tem divulgado diálogos atribuídos a Moro e aos procuradores. O hacker disse que não cobrou contrapartidas financeiras para repassar os dados. A PF tem focado em desvendar se houve pagamento para a obtenção e compartilhamento de mensagens por parte dos hackers. No fim de agosto, novas medidas foram pedidas relacionadas à apuração de fraudes bancárias. Os quatro presos na primeira fase tiveram a prisão temporária convertida em preventiva, sem prazo para terminar.
Habeas corpus negado
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou na quarta-feira (18) um pedido de liberdade feito pela defesa de dois supostos hackers presos em julho no âmbito da Operação Spoofing – o casal Gustavo Elias dos Santos e Suelen Priscila de Oliveira. O DJ é apontado pela Polícia Federal como o “testa de ferro” de “Vermelho”.
O habeas corpus foi apresentado pelo advogado Ariovaldo Moreira, que defende o casal. Ele afirmou que a Justiça Federal e a Polícia Federal não são as instituições competentes para conduzir a Spoofing, e que o foro competente deveria ser a Justiça estadual em Araraquara, no interior de São Paulo. A ministra afirmou, na decisão, que ainda não era possível o STF analisar o pedido de liberdade, porque ainda não foi concluída a análise do mérito do habeas corpus que a defesa apresentou no Superior Tribunal de Justiça.