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18 de abril de 2024 | 9:13
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Vá!

Perci Guzzo *
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Migrem para o campo! E não levem o barulho, a sujeira, a aglomeração e a ganância que lhes são peculiares. Esta pandemia é resultado da artificialização excessiva do ambiente urbano. Até o ar está condicionado. Condicionado, viciado, poluído e burocrático. Muito em breve custará caro respirar ar puro nas cidades.

Planejem vossa mudança para a zona rural. Se organizem em ecovilas, aluguem chácaras ou comprem pequenos sítios e saiam da cidade. A cultura urbana está em livre decadência. Rompam com a ilusão de dias melhores em nossas urbes.

Mais do que esperar a vacina, para enfrentarmos a covid-19 e outras epidemias, é preciso reinventar radicalmente nossa maneira de habitar o mundo. Devemos nos organizar para fazermos a transição. É necessário que provoquemos um imenso êxodo urbano!E que ele aconteça de modo respeitoso coma zona rural.

Sugiro que comecemos a nos preparar para deixar as metrópoles, megalópoles e grandes cidades. Recomendo que sejamos menos dependentes, menos preguiçosos e que almejemos menos conforto artificializado. Que sejamos empregados de nós mesmos e que cultuemos o cuidado com a terra. Que valorizemos o tempo de existência, nosso bem maior.

Dizem que no próprio problema encontra-se a sua solução. A covid 19 nos dá a incomensurável oportunidade de mudarmos radicalmente para nos safarmos da decadência, do sofrimento e da extinção. A covid 19 é uma sindemia, ou seja, a associação de duas ou mais enfermidades que se somam às condições sociais e ambientais, resultando em impactos e danos ampliados. As interações biológicas e sociais também nos permitem considerá-la como uma doença biopolítica, como descreveu o filósofo Paulo Ghiraldelli em recente artigo na Folha de São Paulo (A doença misteriosa – 5/fev/2021).

Sendo assim, a solução passa por uma reformulação profunda das cidades e das estruturas de poder político e financeiro, já que a urbanização é o maior projeto do capitalismo voltado essencialmente para o lucro. Nos territórios urbanos, o bem-estar e a saúde das pessoas são fatores secundários.

Para ferir o calcanhar de Aquiles do patriarcado branco que engendra e   engrenagem enferrujada, sugiro que migremos para o campo. A intenção é que toda avareza seja lançada à estratosfera e que sejamos essencialmente solidários. Basta de assistirmos por tamanha disparidade: tanto sofrimento!

Em síntese: reforma agrária justa e valorização dos pobres, dos miseráveis, dos pretos,dos índios e dos idosos – todos eles os que mais morrem quando acometidos pela covid. E mais, políticas educativas e técnicas de conhecimento, cultivo e manejo da terra, da água, da vegetação e do clima.

covid-19 é definitiva e outras doenças surgirão e se somarão a ela. O rompimento com o ritmo, o ciclo, e a lógica da Natureza é muito grande.Sugiro que vocês organizem vossas mudanças ao invés de ter de fazê-las a toque de caixa.

Vá! Parta em busca de uma nova vida. Não espere apenas pela vacina. Ela tem uma importância imensa, mas não é a solução na raiz do problema.

Tudo o que exponho neste artigo parece ficção. No Brasil atual, então, nem se fale. Um país à beira da barbárie. Infelizmente o bolsonarismo me atravessa a vida. Mas tenho observado de uns anos para cá que a realidade tem dado passos largos em direção à ficção. Saibamos ficcionar a salvação. Migrem para o campo!

* Ecólogo e mestre em Geociências, é autor do livro “Prefiro onde o verde prevalece” pelo selo Corixo Edições 

 

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