18 de abril de 2024 | 21:50
Jornal Tribuna Ribeirão
Início » Viagem ao fim do mundo
Artigos

Viagem ao fim do mundo

O fim do mundo fica na Argentina, em Ushuaia, a cidade mais austral do Planeta, a menos de 1.000 km do Polo Sul. Os argentinos pronunciam “ussuaia” esta palavra originária dos índios que ocuparam sua área, há mais de 5.000 anos atrás. Apesar do clima inclemente, invernos com -25 graus e verões com máximas de 10 graus, os indígenas viviam nus e faziam grandes fogueiras noturnas para se aquecer.

Quando em 1520, Fernão de Magalhães em sua primeira via­gem de circum-navegação da terra, à procura de uma passagem que ligasse o Atlântico ao Pacífico, navegou pelo estreito que levaria seu nome, avistou as fogueiras e deu à terra nova o nome de Tierra Del Fuego. Mais abaixo, outro pequeno canal levaria o nome de um navio famoso, o Beagle, que, em 1831 levava a bordo o cientista Charles Darwin. Partindo da Inglaterra, fez es­cala no Rio de Janeiro, onde coletou amostras e, em seu caminho para as Ilhas Galápagos aportou onde seria erguida Ushuaia.

O povoamento da região que pertencia à Espanha foi difícil e só depois da independência argentina, em 1816, é que come­çaram a chegar os primeiros imigrantes, criadores de ovelhas e exterminadores dos nativos. Hoje com 60 mil habitantes, do­tada de todo conforto, ponto turístico importante da América do Sul, com uma Zona Franca vibrante e moderna, Ushuaia foi fundada em 1884 como um pequeno povoado. No começo do século XX, o governo argentino construiu um grande presídio na cidade, o que trouxe mais habitantes. Hoje desativado, o Presídio é interessante museu sobre a história da região.

Ushuaia tem atrativos nas duas principais estações do ano: no inverno, oferece boas pistas de esqui e demais esportes de neve. No verão, seus restaurantes, museus, passeios pelo canal avistando lobos marinhos, aves e pinguins, bem como trilhas pelos parques atraem turistas de todo mundo. Seus pores do sol com os Andes de fundo são espetaculares. A cidade começa em pequena faixa de terra entre as margens do estreito e o início dos Andes,o que faz dela uma cidade de grandes subidas. Amplas avenidas paralelas ao estreito são cheias de lojas. Hotéis de todas as categorias ficam na frente ao ancoradouro onde se tomam os barcos para os passeios ou se escondem nas montanhas.

A gastronomia de Ushuaia baseia-se em frutos do mar. A merluza negra, peixe de águas geladas e profundas, é a grande estrela. Sua carne é branca e muito macia e os res­taurantes oferecem vários tipos de pratos feitos com o peixe. Nos restaurantes à beira do ancoradouro, a grande pedida é a centolla, caranguejo gigante pescado ali perto e que espera, em aquários, a escolha do cliente.

Na primeira vez, não se resiste a pedi-la inteira, inician­do-se um ritual com martelos, tesouras, alicates e pinças para retirar a tenra carne do corpo e braços do crustáceo, cerimô­nia de horas. Na próxima vez, o escaldado turista pede a cen­tolla já sem sua carapaça, o que permite degustar sua carne sem o trabalho de retirá-la da embalagem natural. Com peixe e crustáceo toma-se vinho branco que não falta, produzido na Argentina e de grande qualidade, salientando-se aqueles elaborados na própria Patagônia.

Mas, o que encanta mesmo em Ushuaia é a sensação de estar no fim do mundo, o silêncio profundo que vem dos contrafor­tes dos Andes, as nuvens que se tingem ao por do sol, a mágica caminhada por bosques de árvores e flores diferentes e seculares, o deslizar tranquilo de um barco no estreito, em meio a leões marinhos, pinguins e outras aves e o reconhecimento da difícil trajetória do homem para domar a natureza maravilhosa.

Mais notícias