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28 de março de 2024 | 18:15
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‘Zeperri’, o pai do pequeno príncipe

Há mais de 70 anos, “O pequeno príncipe”, livro infantil traduzido para mais de 250 idiomas, circula pelas milhões de almas generosas, encantando as crianças e deixando perplexo os adultos, que se reconhecem nele pela criança que cada um foi, um dia. Era essa mesma a vontade do artista que se rea­liza no tempo e no espaço, especialmente quando o sucesso pertence à sua memória, já que morto em 1944.

Seu autor, filho de família nobre da França, nascido em Lyon, em 1900, traz em seu nome cumprido a trajetória, iniciada na Idade Média, quando era comum homenagear pa­rentes e padrinho adotando seus nomes. Ficou célebre assim como Saint-Exupéry, mas o nome de batizado é esse – Antoi­ne Jean-Baptiste Marie Roger de Saint-Exupéry.

Já não mais estava em condições físicas para voar, com 44 anos, quando decidiu assumir um posto na aviação militar de reconhe­cimento, no palco da Segunda Guerra Mundial, que tanto o fazia sofrer ao ver sua França invadida; tanta destruição, tanta morte, na Europa em conflito. Mas, já tinha prestígio como homem de letras, e mesmo como piloto de avião já acumulara experiência, atraves­sando ou posando no deserto ou atravessando mares e continentes, na época em que os aviões eram “geringonças”.

Voltou à ativa pelo seu prestígio e pelos amigos influentes que sabiam de sua paixão antiga, e de sua decisão em ajudar a sua Franca naquela combustão de ódio. Voltou para morrer como piloto abatido, no dia 31 de julho de 1944, próximo aos Alpes, como se pensou durante décadas.

Mas, em 1998, um pescador francês próximo a Marselha, sul da França, retirou do Mediterrâneo uma pedra calcificada. O brilho dela aguça a curiosidade que fê-lo quebrá-la. Era um bracelete. Nele estava inscrito “Antoine de Saint-Exupery”. A verdade surgira das águas. E em 2002, um arqueólogo encontrou os destroços do P-38 que fora abatido. A intrigante coincidência aconteceu depois dos destroços da morte.

Um velho piloto alemão, muito idoso, teve a certeza que fora ele que abatera aquele avião naquele dia. A misteriosa dor nasceu do paradoxo de ter abatido justamente o escritor que o influenciara, com seus livros, para ele escolher profissão de piloto de aviação.

Saint-Exupéry, na sua vida, não sofreu só pane no deserto, como também lá residiu, com seu porte e espírito iluminado e conciliador, para convencer os líderes berberes, que sempre sequestravam ou matavam os pilotos acidentados ali, e que se dedicavam como ele ao correio postal.

Certamente, seu tempo de permanência reflexiva e silenciosa na África fez com que penetrasse a profundeza de sua alma, para seu verbo eclodir fácil, poético, infantil ou adulto em tantas obras presentes no nosso espírito e em nossas bibliotecas.

Esteve em muitos lugares do litoral brasileiro, entre 1929 e 1931, de Natal a Porto Alegre, deixando histórias no Rio de Janeiro, Florianópolis, Petrópolis Santos, piloto do correio postal, da empresa aérea francesa, Aeropostale, que depois se­ria absorvida para dar nascimento à Air France. Lá no Ceará, um pescador falava sobre a passagem do escritor por aquelas bandas, referindo-se a Saint-Exupéry como “Zeperri”.

A Companhia das Letras, na sua edição de 2015, tem um pos­fácio da pesquisadora Mônica Cristina Correa. Uma preciosida­de, especialmente quando, um dia, Exupéry marcou nossa juven­tude, com seu ensinamento misterioso: “o essencial é invisível”.

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