23 C
Ribeirão Preto
20 de abril de 2024 | 12:59
Jornal Tribuna Ribeirão
Início » Zong, o navio negreiro
Artigos

Zong, o navio negreiro

O tráfico de escravos mantido pela Inglaterra sofreu um gravíssi­mo choque com o relato da viagem do navio Zong, comandado pelo capitão Luke Collingwood, que saiu da Ilha de São Tomé, na África, no rumo das Américas. A tragédia histórica ocorreu quando o navio se aproximava da Jamaica. Há imprecisão quanto à época dos fatos que teriam ocorrido em 1781 para uns, ou em 1783 para outros.

Afirma-se que o comandante do Zong dirigia pela primeira vez um navio, logo após abandonar a medicina. Aproximando-se da Jamaica percebeu que vários dos 442 escravos embarcados haviam contraído determinada doença. O seguro não pagava morte por do­ença, mas, sim, por afogamento. O capitão ordenou que 132 escravos, entre homens, mulheres e crianças fossem amarrados e amordaçados e atirados ao mar onde morreram afogados ou devorados por peixes.

A notícia gerou um grande abalo na Inglaterra. O pintor William Turner registrou a tragédia em um quadro que, por entre outras razões, causou também grande escândalo. O pintor abandonava o figurativismo da época para valer-se de uma técnica flagrantemente emocional.
Turner foi considerado um louco até porque sua mãe já havia sido internada num hospício anteriormente. O quadro atualmente compõe o acervo do Museu de Belas Artes de Boston. O “Slave Ship” é considerado como a mais importante pintura produzida na Inglaterra.

Tanto o escândalo quanto o seu registro por Turner, fizeram eclodir na Inglaterra um movimento abolicionismo. O comércio de escravos foi proibido em 1807, mas a abolição interna somente foi decretada em solo inglês em 1833.

Depois de 1807, a Inglaterra passou a policiar os mares para coibir o comércio internacional de escravos, travando a navegação de navios negreiros oriundos da África dirigidos para os países americanos. Muitos foram os navios com bandeira portuguesa e bra­sileiros impedidos de transportar escravos africanos para o Brasil.

No centro desse confronto, vários foram os comandantes portu­gueses e brasileiros que lançaram ao mar escravos africanos adultos e crianças. Como se sabe o reconhecimento de direitos aos negros demorou para ocorrer tanto na África e como nas Américas.

No Rio de Janeiro, os libertos foram reunidos no Morro do Cas­telo, no centro da cidade. Ocorre que os franceses naqueles tempos inauguraram a Avenida dos Campos Elíseos, suscitando muita inve­ja pelo mundo. A Alemanha e o Brasil tentaram imitar os franceses.

No Rio, os negros libertos foram então transferidos para outro morro afastado do centro da cidade. O Morro do Castelo foi der­rubado. No local está a Esplanada do Castelo, uma das principais praças da cidade.

O governo ordenou que se abrisse uma avenida que ligasse o local com o cais do porto, imitando Paris. A avenida recebeu ini­cialmente o nome de Avenida Central. Depois foi rebatizada como Avenida Rio Branco.

Os negros libertos foram amontoados num morro localizado para os lados do porto. No local havia muita plantação de fava, tendo então recebido o nome de favela. Nasceu assim no Brasil a primeira e não a derradeira favela.

Nos Estados Unidos, a discriminação racial também foi instalada. Haviam regiões nas quais, até bem pouco tempo, era vedado aos negros registrar o nascimento de seus filhos e nem mesmo levá-los à escola.

Se todos os homens e mulheres possuem a mesma natureza, qualquer espécie de discriminação racial fere a norma de existência de todos os seres.

Mais notícias