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A Colômbia e sua Literatura (28): Emilia Ayarza 

Rosemary Conceição dos Santos* 

 

De acordo com especialistas, Emilia Ayarza foi uma poetisa com extensa obra literária, considerada uma das vozes mais interessantes e marcantes da poesia colombiana. Nascida em Bogotá em 1919, morreu aos 47 anos em Los Angeles, Califórnia. Dona de extensa obra literária, Avarza, de forma vigorosa e criativa, imprimiu um novo sentido à poesia feminina. Injustamente esquecida por aqueles que selecionam os marcos que constroem a tradição literária, a antologia de sua obra, de 1947 a 1962, e publicada em 1996, permitiu que a sociedade relembrasse sua produção prolífica. Colaboradora da revista Mito na década de 1950, a autora foi reconhecida no círculo de poetas de Bogotá em meados do século XX. Nos famosos encontros e tertúlias boêmias que Emilia Ayarza realizava em sua casa, com vários artistas, escritores e poetas, tornou-se amiga dos “cadernos”, como eram chamados os autores que escreviam seus poemas em cadernos antes de publicá-los em livros. Integrando a geração pioneira de poetisas na Colômbia, onde também se destaca Matilde Espinosa (Cauca, 1912); Maruja Vieira (Vale do Cauca, 1922) e Mariela del Nilo (Vale do Cauca, 1917), Gloria Cepeda (Cauca, 1930) e Dora Castellanos (Cundinamarca, 1924), entre outras, é com esta geração que a poesia colombiana de autoras femininas adquire outra dimensão. Essas poetisas lutaram, ao lado dos escritores homens de sua geração, para conquistar um espaço e um papel de liderança no mundo da poesia, embora os escritores homens sempre tenham recebido maior reconhecimento. Prova disso é que a atenção dada à obra de Emilia Ayarza chegou postumamente, já que durante sua vida ela era desconhecida e pouco conhecida. As vozes dessas mulheres foram um eco fundador e consolidaram uma tradição para o surgimento de poetisas posteriores, como Marga López (1945), Piedad Bonnett (1951) ou Renata Durán (1948) (Castro, 2011). 

Ayarza viajou pelos Estados Unidos, Canadá, Europa, África, América Central e do Sul. Mudando-se para o México, ali viveu durante os últimos dez anos de sua vida, onde foi calorosamente recebida, não apenas por sua poesia, mas também por seu socialismo político e sociabilidade cultural. No México, trabalhou como jornalista para a revista Mujer e o jornal El Excelsior, tendo uma coluna de opinião, por volta de 1947, no jornal colombiano El Tiempo. Em 1962 ganhou um prêmio no México pelo conto “ Juan Mediocre Assoa o Nariz ” e deixou um romance inédito: “Há uma árvore contra o vento”. A poesia de Emilia Ayarza é vigorosa e transbordante. Com um tom intimista e grande sinceridade literária, ele tenta traduzir não apenas sua própria angústia, mas também estados gerais de incerteza e caos, de sonhos e esperanças. Sendo reconhecida como a poetisa mais ousada de sua geração, sua linguagem também tem uma acuidade visual atemporal e quase vanguardista, superando muitos poetas de sua época. A geração de poetas à qual Emilia Ayarza pertence conseguiu romper com o conservadorismo literário colombiano da época, abandonando formas, linguagem e estruturas rígidas. Uma geração menos apegada aos valores tradicionais, não apenas em determinada forma e valores estéticos dentro da escrita, mas também nos temas sobre os quais ela foi escrita, o que revela, sem dúvida, o caráter dinâmico da criação literária, que se transforma, se historiciza e avança. 

Seu poema “A Morte Chegou a Cali” é um relato intenso da tragédia ocorrida em 7 de agosto de 1956, quando sete caminhões militares que viajavam do Porto de Buenaventura para Bogotá, carregados de dinamite, explodiram em Cali. Ayarza, com seu poema, deixa um documento para a história do nosso país. Sua poesia não se concentrava apenas em temas amorosos e pendia para outros, o que dá uma ideia de como a autora rejeita a pura intuição lírica, para buscar, na cultura, a inspiração natural. O que lhe confere uma projeção mais ampla e a perpetuidade de sua obra. Embora Ayarza não tenha um propósito político óbvio neste poema, ele denota uma posição contra a violência em nosso país. Ela faz isso de maneira semelhante em “O Testamento”, onde conta ao filho sobre a Colômbia que lhe deixou como herança: “Você deve saber que a fome – meu filho -é a primeira letra de Colômbia”. Por sua vez, “O Testamento” incorpora com vigorosa força o caráter de um panfleto, de uma denúncia. É um legado e um apelo ao mesmo tempo. Seu poema assume uma voz que oscila entre a raiva, a indignação e o sarcasmo, enquanto ele faz um balanço do legado que deixa para seu filho: “Porque homens de talento, aqueles que tinham o país em suas mãos -como um lenço de chita inglês. Eles brincavam de cabra-cega em massa e eles cruzaram a fronteira orgulhosamente, enquanto uma hemorragia de mortes escapou através das artérias rompidas da pátria”. Por outro lado, “Diário de uma Mosca”, que em seu estilo inclui mais características de prosa, pretende registrar o mundo contraditório das grandes cidades. Uma poética da cidade moderna. Inicialmente concebido como uma coletânea de trabalhos jornalísticos, traz com textos marcados pelo humor e comentários irônicos. Com sua imaginação independente e criativa, e sob a figura de uma mosca, ele narra desde os espaços mais íntimos, como o quarto de um recém-casado, até o tedioso mundo dos escritórios do Estado. 

Durante a década de 1940m a postura feminista de Emilia Ayarza se destacou em sua coluna no jornal El Tiempo . Nela, ela focou seu discurso no trabalho das mulheres fora de casa, expondo a capacidade das mulheres de exercer qualquer atividade, transmitindo às demais mulheres a idoneidade do trabalho feminino. Dessa forma, Avarza criticou as restrições impostas às mulheres para se desenvolverem profissionalmente. Ayarza acreditava não apenas na necessidade de igualdade entre homens e mulheres, mas também no direito das mulheres de adquirir independência, e isso justamente por meio do trabalho fora de casa. Seu discurso poderia ser lido como liberal, na medida em que ela entendia que para reivindicar os direitos das mulheres, tanto civis quanto políticos, era importante pensar em termos de igualdade e independência. Emilia Ayarza propôs que as mulheres modernas deveriam trabalhar, estudar, se educar e se tornar mulheres conscientes e corajosas; um argumento feminista e vanguardista para a sua época: “A mulher feminista está plenamente convencida da superioridade, da igualdade, da necessidade de lutar em pé de igualdade com os homens. A outra, a antifeminista, acredita no oposto. Ela está convencida de que ultrapassar os limites da agulha e da bobina é perder a tão propalada feminilidade. “ 

Professora Universitária* 

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