Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Deve ter sido uma experiência fascinante a vez primeira que os homens, recém iniciando a povoação da Terra, observaram aquela abóboda escura, cheia de pontos luminosos. Sem entenderem o que seria, criaram inúmeras lendas para explicar o que viam quando a noite chegava, escura e cheia de olhinhos.
Seriam as fogueiras dos deuses, aquecendo-se na noite fria ? Seriam os olhos dos seres mágicos que habitavam aquela abóboda inacessível, uns protetores, outros inimigos?
O fato é que as estrelas, os planetas e os demais brilhos que apareciam na abóbada celeste sempre fascinaram o homem.
Desde os primeiros tempos, surgiram pessoas que se interessavam pelo céu noturno, daí nascendo a astronomia, a mais antiga das ciências.
Os mesopotâmicos, os egípcios, os chineses, os gregos logo compreenderam que com a observação celeste podiam prever as estações do ano e os eventos que desafiavam a inteligência da época. As cheias do rio Nilo, que fertilizavam suas margens, dependiam da posição que algumas estrelas assumiam no firmamento, em determinado período do ano. Da observação feita pelos chineses, nasceu a astronomia. Os gregos, mesclaram esta ciência com a filosofia recente, ampliando o conhecimento. No nosso continente, os incas e maias tinham um sofisticado sistema de observar o céu, usado para prever eventos que se repetiam e estabelecer calendários de plantar e colher. Mesmo os nossos povos originários, como os tupis, tinham um sofisticado sistema de observação celeste, que ajudava na fixação das épocas de plantação e colheita, além de alimentar lendas.
Na Idade Média, os árabes expandiram os seus conhecimentos astronômicos e no Renascimento vemos surgir Copérnico, com sua teoria heliocêntrica, Kepler formulando as leis do movimento planetário e Galileu inventando o telescópio.
Hoje, a astronomia tornou-se uma ciência interplanetária, com o aperfeiçoamento dos instrumentos de observação e mesmo com telescópios cortando o espaço, buscando novidades inimagináveis.
Assim como o homem levantava seus olhos para o céu, por que não reproduzir a abóboda celeste, evitando assim as observações frustradas pelo mau tempo?
As primeiras cogitações sobre o assunto surgiram no Deutsches Museum (Museu Alemão) de Munique, quando o astrônomo Max Wolf sugeriu ao diretor daquela instituição o invento de uma máquina que poderia reproduzir o céu, o movimento das estrelas, a visão dos planetas, bem como um edifício próprio que teria uma abóboda onde o firmamento seria projetado.
Oscar von Miller, que dirigia o museu, aceitou o desafio e trabalhou duramente com a empresa Carl Zeiss, especialista em lentes e máquinas fotográficas, daí nascendo o primeiro projetor de estrelas.
No dia 7 de maio de 1925, o Planetário do Deustches Museum foi aberto ao público. O projetor era ainda precário, mas, já projetava os astros através de luzes que passavam por orifícios. Foi um sucesso, copiado por várias cidades europeias. Com a prática, o projetor foi sendo aperfeiçoado, até que em 1983 incorporou computadores em seu funcionamento, abrindo novas e infinitas possibilidades.
Hoje, no mundo, existem mais de 4.000 planetários, instituições de ensino que possibilitam a todos o estudo da astronomia de uma forma lúdica e motivacional. Promovem estudos, apresentam shows do universo e atraem pelo realismo da reconstrução da abóboda celeste.
No Brasil, há mais de 100 planetários, 13 dos quais em nosso estado, que também abrigou o primeiro do país, o Planetário do Ibirapuera, inaugurado em 1957.
Assistir a uma de suas sessões é uma das mais belas e fascinantes experiências que podemos ter.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras

