Rui Flávio Chúfalo Guião *
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O dia 29 de maio de 1453 marca não só a ocupação de Constantinopla pelos árabes, como estabelece o fim da Idade Média e o começo da Idade Moderna. Naquele dia, os muçulmanos destruíam o Império Romano do Oriente, que falava grego e fechavam a rota terrestre que abastecia a Europa das tão caras e procuradas especiarias.
Tornou-se necessário, então, tentar um caminho marítimo paras a Índias, como eram chamados os territórios do oriente, nascendo as Grandes Navegações, que tiveram em Portugal e Espanha seus grandes protagonistas.
Portugal estabeleceu como prioridade contornar a África para chegar às Índias enquanto a Espanha pretendia achar esse caminho navegando para oeste, através do grande Mar Oceano, como era chamado o tenebroso Oceano Atlântico.
No dia 12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo chega a América, embora não tivesse a ideia de estar aportando em um continente, talvez algumas ilhas. Em 1498, a armada de Vasco da Gama chega finalmente às Índias.
As duas grandes potências decidem, então dividir entre si os novos mundos descobertos, o que foi feito pelo Tratado de Tordesilhas, que estabeleceu um meridiano a 375 léguas marítimas das ilhas de Cabo Verde. O que ficasse à leste seria de Portugal, a porção oeste da Espanha.
Hoje, sabemos que esta linha imaginária começa em Belém, no Pará e termina em Laguna, SC. Mas, os mapas da época eram imprecisos e somado ao desejo de Portugal de estabelecer seus limites no Rio da Prata, os portugueses consideravam a região do atual Uruguai como de sua propriedade.
Obviamente, houve várias escaramuças entre o Império Português e o Vice-Reinado espanhol na América do Sul pela posse da terra, chamada de Banda Oriental, escaramuças estas que se abrandam com a fusão dos dois reinos, a União Ibérica, entre 1580 e 1640.
Restaurado o Reino de Portugal, em 1680 os portugueses fundam a Colônia de Sacramento, em frente a Buenos Aires e ali permanecem até 1777, quando, pelo Tratado de Santo Ildefonso as terras da Banda Oriental e parte do atual Rio Grande do Sul são entregues aos espanhóis.
Recém chegado ao Brasil em 1808, o Príncipe D. João declara guerra à França e à Espanha (governada por um irmão de Napoleão) e manda invadir, em 1811, a Banda Oriental. Porém, logo depois retira as tropas do Uruguai.
Em 1813, as Províncias Unidas del Rio de la Plata, considerando o Uruguai como parte delas, declaram independência da Espanha.
Em 1821, D. João resolve invadir de novo o Uruguai, tomando a parte do Rio Grande do Sul que foi cedida à Espanha pelo Tratado de Santo Ildefonso e criando a Província Cisplatina, como parte do Brasil, que permanece como nosso território até sua independência definitiva, em 1828.
Os uruguaios aproveitaram as guerras pela independência brasileira, que enfraqueceram o novo Império do Brasil para se tornarem um estado independente.
Hoje o Uruguai (Uruguay, seu nome oficial) é um dos países mais estáveis da América do Sul, depois de passar pela aura autoritária que varreu a região, nos anos 1960. Sua população é de aproximadamente 3.600.000 habitantes e sua renda per capita por poder aquisitivo é de US$ 47,679.00 (a do Brasil é de US$ 26,252.00). Considerado o país menos corrupto da América Latina, foi pioneiro em grandes avanços sociais, como o estabelecimento do divórcio em 1907, o voto feminino em 1932 e a legalização da maconha.
Apesar de sua formação ter se consolidado por intensas lutas contra Portugal e Brasil, os uruguaios são um povo amistoso, que recebe bem os brasileiros, sempre com seus vinhos de superior qualidade e sua tradicional parrilla.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras

