Tribuna Ribeirão
Artigos

A fragilidade do império

Feres Sabino *
advogadoferessabino.wordpress.com

A surpresa dos eleitores trumpista, e do mundo, diante da ordem internacional permanentemente violadas pelos Estados Unidos e Israel, convertida, e de repente convertida numa desordem econômica mundial, sem precedentes, surge aparentemente inexplicável. Aliás, na base dessa surpresa e dessa desordem está a perda do poder global pela potência dominante, para a qual essa realidade torna-se inaceitável.

A cegueira da arrogância não olhou, e se olhou não quis enxergar, o crescimento de outros pais como potencias, ou militar ou econômica, que surgem no palco do mundo, agora multipolar. Essa arrogância chegou a tal ponto que, após o esfacelamento da União Soviética, ouvia-se a voz do absurdo dizendo que chegávamos ao “Fim da História”. No chão estavam os escombros da então socialismo real, e no ar a bandeira do capitalismo financeiro agindo para fazer mais ricos os ricos e mais pobres os mais pobres.

Os Estados Unidos, na lógica da expansão capitalista, à procura de salários e custos baixos na produção, alienaram fábricas, reservando, para si, não por ato voluntário, as empresas integrantes do sinistro complexo militar-empresarial, expressão que se refere a conexão entre essas áreas, e objeto do discurso de despedida do Presidente Dwight D. Eisenhower, general, herói de guerra, sobre os perigos dessa relação, expressando preocupação com sua influência potencial na política e na sociedade.

Se o parque industrial da potência então hegemônica é para fabricar armas, é preciso que haja mercado, porque elas precisam ser vendidas, para movimentação dessa economia necessita guerras sejam feitas. Então, quando não promoviam a instabilidade de governos, que aspirassem alguma autonomia no seu desenvolvimento, simplesmente agiam nas sombras ou às claras, indireta ou diretamente, fazendo guerras e mais guerras, ou simplesmente destruindo alguma organização social que pudesse servir de modelo de crítica à ordem dominante hegemônica. É o caso do bombardeio da Libia, ao qual se somam as guerras do Afeganistão, Iraque etc., todas perdidas. Aliás, não precisava vencê-las, fundamentalmente é preciso destruir.  E sequencialmente todos os Presidentes eleitos fizeram a mesma política, protegidos pela máscara da hipocrisia.

E o artigo publicado no jornal francês Le Monde, “A fragilidade financeira dos EUA”, de autoria de Thomas Piketti, republicado em a Terra é Redonda, em 13 de julho de 2025,professor francês, diretor na École des Hautes Études em Sciences Sociales no Paris Scholof Economic, aponta essa fragilidade sem precedentes, como o fator do desespero e da agressividade de Trump, comparando a situação atual com a dos impérios europeus, francês e britânico, liderados pelo Reino Unido, a partir do ano de 1800 até 1914.

Os impérios do século dezenove e início do século vinte tinham déficts em sua balança comercial, igual a apresentada na atualidade pelos EUA. A diferença, porém, é que as potencias hegemônicas daqueles séculos mantinham sobre a batuta exploradora do colonialismo e recebiam, por conta dessa dominação, os “superávits em produtos manufaturados e no transporte marítimo foram amplamente superados pelos vastos fluxos de matérias-primas pelo resto do mundo (algodão, madeira, açúcar etc) embora estes fossem mal compensados”. “Em contraste, os ativos dos EUA no exterior nunca geraram renda suficiente para compensar seus déficts, deixando o país com um nível de dívida externa sem precedentes”.

A proposta do economista, diante dos desequilíbrios globais “seria estabelecer uma moeda comum anexada às principais moedas, permitindo que o mundo se liberte do dólar e melhore os meios de troca, para os países mais pobres, tudo com objetivo de financiar um modelo de desenvolvimento mais equilibrado e sustentável. Esperemos que a brutalidade de Donald Trump ao menos acelere essa concretização”.

Por isso a taxação exagerada, seguido das bravatas de promessa de mais taxação, faria as vezes dos produtos coloniais, que acertaram a balança comercial dos potenciais colonizadores.

Só que não termina, por aí. A fervilhante geopolítica tem na Ucrânia, que faz guerra por procuração dos EUA, OTAN e Europa contra a Rússia, pretendendo simplesmente sangrá-la, assim como Israel e seu bárbaro expansionismo hitlerista, cumpre seu papel para desestabilizar para dominar a região.

O impasse está criado. Seremos colônia ou um país soberano? O Brasil, apesar da escumalha ética de parlamentares de oposição e governos perdidos na ignorância e no desprezo da soberania e da dignidade nacional, quando rastejam para prestigiar um inelegível criminoso, precisa emergir forte desse desafio assombroso para declarar que será mais forte, depois de calar as vozes traidores e simpatizantes do “imperador” do mundo, sem a vergonha de colocar na cabeça o boné identificador da estupidez, e reiterado com viagem de solidariedade à Israel, cujo sionismo hitlerista se esbanja em beber diariamente sangue palestino, em nome do genocídio, que merece repudio universal.

* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras

 

Postagens relacionadas

Os desafios de estudar personalidade (10)

Redação 1

Estamos desenganados

Redação 1

COVID-19: Quando e como reabrir as escolas (11)

William Teodoro

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com