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Economia prateada, um mercado em expansão

Viagens, imóveis adaptados, condomínios planejados e atividades físicas: para o público 60+ não há limites para buscar viver mais e viver bem

Setores como turismo e imóveis adaptados despertam o interesse de pessoas com mais de 60 anos (Divulgação)

Por Adalberto Luque

Os aposentados Dagmar Borges (75 anos) e Hilson Sobreiro Cavalcanti (77 anos) estão preparando as malas para mais uma viagem. Em outubro vão embarcar para 10 dias em Portugal, com hospedagem nas cidades de Lisboa e Porto, mas conhecendo várias cidades e pontos turísticos.

Ambos não pararam de trabalhar. Dagmar foi gráfica boa parte da vida e, após se aposentar, já teve uma bomboniere e, há vários anos, é costureira. Mora em um condomínio com cinco torres e 240 apartamentos.

Tem uma grande clientela no próprio condomínio, além de um imóvel que aluga para complementar sua renda. “O que ganho é para viajar”, admite Dagmar.

Dagmar e Hilson já foram a quatro países e estão de malas prontas para conhecer Portugal (Foto: Arquivo Pessoal)

Seu companheiro também trabalha. Aos 77 anos, é impressor gráfico. Juntos já foram a quatro países e dezenas de cidades brasileiras, desde que ingressaram no grupo dos 60+.

No Brasil, viajaram de Norte a Sul. E a cada dois ou três anos, arriscam-se em viagens internacionais, sempre tudo bem planejado. Já foram a Orlando (Estados Unidos), Buenos Aires (Argentina), Montevidéu e Punta De Leste (Uruguai) e Santiago (Chile).

Em outubro vão desembarcar em Lisboa para sua primeira passagem pelo continente europeu. “Ainda temos muitos outros passeios programados”, revela a costureira Dagmar.

Turismo cresce

Um dos setores mais procurados pelo grupo dos 60+ é o turismo. Com mais tempo livre, autonomia e vontade de aproveitar a vida, o público da terceira idade tem se tornado um dos mais presentes nas excursões em grupo. Viagens com conforto, tranquilidade e boa companhia estão entre os principais desejos dos idosos — e as agências de turismo têm acompanhado de perto essa mudança no comportamento.

Christian Urbano, da agência Family Turismo, que atua em Ribeirão Preto e região, destaca que os passageiros acima dos 60 anos estão entre os mais fiéis e participativos da empresa. “É um público que valoriza muito cada detalhe da viagem. Eles querem conhecer lugares diferentes, mas sempre com um ritmo mais leve, com segurança e boa estrutura”, explica.

O empresário Christian Urbano: “muitos querem se divertir, conhecer lugares novos, ouvir música, participar de atividades, sem correria, com tudo bem planejado” (Foto: Divulgação)

Ele lista entre os roteiros mais procurados passeios de Maria-Fumaça, visitas a fazendas históricas, bate-voltas a cidades próximas e estâncias turísticas como Poços de Caldas, Serra Negra e Caldas Novas. “Eles gostam de lugares com história, com natureza, e que tenham algo especial – como uma boa refeição caseira, por exemplo. Quando o pacote inclui alimentação, isso já faz muita diferença na escolha”, afirma.

Os destinos religiosos, como Aparecida do Norte, continuam em alta, mas já não são mais os únicos no topo da lista. “Antes, o foco era quase todo voltado às romarias. Hoje, muitos querem se divertir, conhecer lugares novos, ouvir música, participar de atividades. E sempre sem correria, com tudo bem planejado”, conta Christian.

Acompanhamento com monitores, horários definidos e um transporte confortável são diferenciais valorizados por esse público. “Eles são exigentes, mas, quando se sentem bem acolhidos, voltam, indicam, formam grupos. É um público fiel e que realmente aproveita a experiência.”

Para o empresário, o crescimento da participação da terceira idade no turismo é uma tendência natural. “Esse público quer viver mais e melhor. E viajar está entre os maiores prazeres dessa fase. É gratificante ver a alegria com que voltam de uma viagem. Isso nos motiva a investir cada vez mais em roteiros pensados especialmente para eles”, conclui Christian.

Economia prateada

O Sebrae divulgou em seu site um estudo do relatório Consumer Generations, da Tetra Pak, mostrando que o poder de compra das pessoas acima de 60 anos deve superar os 30 trilhões de reais em todo o mundo este ano.

Em parte, isso se dá porque boa parte do público 60+ não conta apenas com a previdência social. Muitos construíram patrimônio ou continuam trabalhando. O Ipea, por exemplo, aponta que até 2040 metade da força de trabalho no Brasil terá mais de 50 anos.

E se engana quem pensa que este público está fora da internet. Nos últimos 4 anos, aumentaram as pesquisas nas buscas do Google relacionadas ao envelhecimento, demonstrando um aumento de 13% ao ano.

Esta faixa etária da população tende a estar mais conectada à internet e redes sociais, consumindo mais informações, serviços e produtos. O que exige das empresas e marcas uma atenção especial para atender, também, a terceira idade.

Público 60+ não quer produtos genéricos, mas dirigidos a eles, que entendam suas necessidades e gostos (Foto: Alfredo Risk)

No site, o Sebrae também cita a pesquisa “Mercado Consumidor 50+” mostrando que 45% dos idosos se identificam com o segmento de medicamentos, mas há 5% que sentem identificação com o setor de moda e vestuário. Demonstrando uma lacuna nesse mercado, que tem como principal foco o público mais jovem.

Além disso, 60% das mulheres idosas se mostram insatisfeitas por não serem representadas no mercado de beleza e sentem dificuldade em encontrar produtos elaborados especialmente para elas. É o que aponta a pesquisa Beleza na Terceira Idade, conduzida pelo Mundo do Marketing, em parceria com a Reds e eCGlobal, conclui o Sebrae, citando uma série de oportunidades de investimentos dirigidos.

Imóveis adaptados

O corretor imobiliário Tadeu José Henriques explica que, com o envelhecimento da população brasileira, cresce a demanda por imóveis que ofereçam conforto, segurança e qualidade de vida para pessoas com mais de 60 anos. “Ribeirão Preto e sua região metropolitana, composta por 34 municípios, já somam mais de 1,7 milhão de habitantes, sendo que cerca de 15% desse total pertence à faixa etária 60+. Só na cidade de Ribeirão Preto, são mais de 120 mil pessoas com 60 anos ou mais, segundo o Censo 2022”, observa.

Henriques destaca que os chamados empreendimentos Senior Living vêm ganhando espaço no Brasil, com foco em pessoas que desejam envelhecer com autonomia, conforto e segurança.

“Os imóveis de padrão médio e alto voltados para esse público costumam oferecer acessibilidade total, com rampas, elevadores, corredores largos e banheiros adaptados; áreas de lazer tranquilas e funcionais, com jardins, salas de leitura, piscinas aquecidas e academias com equipamentos específicos; serviços de apoio como ambulatório, farmácia, assistência médica e programas de longevidade; monitoramento inteligente, portaria 24h e sistemas de emergência; espaços para eventos, oficinas, passeios e atividades que estimulam a memória e o bem-estar”, revela.

Para o empresário do setor imobiliário, o mercado de moradias adaptadas para idosos está em plena expansão. “Incorporadoras de alto padrão já lançam projetos exclusivos para esse público, com unidades que variam de 60 m² a 120 m² e incluem serviços personalizados. Os preços podem variar conforme o nível de assistência e infraestrutura, mas o investimento é visto como seguro e com alto potencial de valorização.”

Oportunidade

Henriques entende que, além de atender às necessidades da população 60+, esses empreendimentos representam excelente oportunidade de investimento. “A chamada “economia prateada” movimenta bilhões e deve crescer ainda mais nos próximos anos, com projeções indicando que mais de 35% da população brasileira será idosa até 2070”, acredita.

Henriques destaca o interesse de pessoas com mais de 60 anos por imóveis com acessibilidade, áreas de lazer, serviços de apoio e segurança (Foto: Divulgação)

De acordo com o corretor imobiliário, em Ribeirão Preto já são mais de 93 mil pessoas com 60 anos ou mais, o que representa cerca de 13,5% da população total, o que justifica atenção a esse segmento de mercado.

“Estima-se que mais de 30% da população brasileira será idosa até o final do século, com a região de Ribeirão Preto seguindo esse padrão acelerado. O fenômeno é impulsionado por fatores como melhor acesso à saúde, saneamento, alimentação e longevidade, segundo especialistas”, aduz Henriques.

O profissional entende que esse aumento previsível da população 60+ cria demanda por moradias adaptadas, com foco em acessibilidade, segurança e conveniência.

“Empreendimentos voltados para esse público – como condomínios com serviços de saúde, lazer tranquilo e infraestrutura inclusiva – tendem a se valorizar. A chamada ‘economia prateada’ movimenta bilhões e representa uma oportunidade estratégica para investidores e incorporadoras”, conclui.

Vida nada sedentária

Com 13 anos de corridas e 250 medalhas no currículo, Luiz Gésum Giansante leva uma vida nada sedentária aos 71 anos. Mas isso não era assim quando se aposentou aos 58 anos, após uma carreira como bancário e passando pelas cidades de Umuarama, Curitiba, Paranaguá, Belo Horizonte, Ribeirão Preto e São Paulo.

Aposentado, veio para Ribeirão Preto onde estavam filhos e netos. Mas ganhou sobrepeso e foi orientado por seu ortopedista a praticar hidroginástica.

Após seis meses, as dores do joelho causadas pelo futebol eventual sumiram. Com os amigos de academia, iniciou nas caminhadas, passando para corridas de rua e praticando ciclismo.

Participou de todas as 13 edições da Meia Maratona Internacional, organizada pelo Tribuna Ribeirão. Também completou nove vezes o circuito da Corrida de São Silvestre, na Capital. Além de ter disputado uma série de outras corridas em várias cidades.

Gésum Giansante (primeiro à esquerda) tem 250 medalhas no currículo com 13 anos de corridas, tendo disputado todas as provas da Meia Internacional de Ribeirão e nove Corridas de São Silvestre, além de pedalar e fazer hidro com a esposa (Foto: Arquivo Pessoal)

Com o passar dos anos, além de atleta, tornou-se auxiliar na coordenação dos Jogos da Melhor Idade (Jomi), modalidade atletismo. Sua equipe é bicampeã estadual e busca o tri em setembro, na cidade de São João da Boa Vista, região de Casa Branca.

Preparo

As corridas são sua paixão, sobretudo as provas de 10 km, mas Giansante também corre 15 e 21 km. Mas segue uma rigorosa rotina de treinos para evitar dissabores. Semanalmente, treina duas vezes corrida nas praças e ruas de Ribeirão Preto. Ele e a esposa Vanda também fazem hidroginástica três vezes por semana. Além disso, ele pedala pelo menos uma vez com grupos de ciclistas e, nas manhãs de domingo costuma pedalar em trechos de velocidade, isso quando não há corridas dominicais.

“Toda esta rotina de corridas e treinos, sem exageros e sobrecargas, tem trazido muitos benefícios para minha saúde e posso destacar a redução de peso natural, pela pratica da atividade física; aos 71 anos, não tomo remédios e me sinto muito bem fisicamente e psicologicamente, pois participo de grupos de corredores, grupos de ciclistas e do próprio JOMI, convivendo com atletas de todas as idade, inclusive atletas do JOMI, com mais de 80 anos, como a dona Carmem (97 anos), dona Maria Tereza (93 anos), Sr. Pedro (93 anos) e dona Maria José (88 anos), exemplos de dedicação, saúde e envelhecimento saudável a ser seguido”, finaliza Giansante.

 

 

 

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