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VÍDEOS – Um ano da tragédia com o voo 2283 da Voepass

Aeronave ATR-72 seguia de Cascavel (PR) para Guarulhos (SP) quando começou a perder altitude e caiu, matando 58 passageiros e 4 tripulantes em 9 de agosto de 2024

Por: Adalberto Luque

Dois minutos antes daquela que seria sua última decolagem, em 9 de agosto de 2024, o copiloto Humberto Alencar enviou uma mensagem para a esposa. Expressava preocupações com uma “confusão danada” e voos “raramente redondinhos”, mas tranquilizou afirmando que “chegaremos bem”.

O voo 2283, operado por um ATR-72 de matrícula PS-VPB da Voepass, saiu do Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, em Cascavel (PR), às 11h58, com 58 passageiros e 4 tripulantes. A aeronave tinha como destino o Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, em Guarulhos (SP).

Quando se preparava para iniciar o procedimento de pouso, o avião começou a perder altitude. Era 13h21, quando começou a cair em espiral. A queda foi filmada por várias pessoas, atônitas com o que viam.

A queda levou cerca de um minuto. O avião caiu no quintal de uma casa em um condomínio, na cidade de Vinhedo, região metropolitana de Campinas. Com o impacto no solo, explodiu e pegou fogo.

Todos a bordo morreram. Estava escrita uma das maiores tragédias da aviação brasileira, que resultou no fim das operações da Voepass. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) cassou, em 24 de junho, o Certificado de Operador Aéreo (COA) da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa do grupo Voepass Linhas Aéreas. A decisão é definitiva e inclui multa de R$ 570,4 mil.

1 ano da tragédia

A queda do voo 2283 da Voepass completa um ano neste sábado (9). Para marcar a data e cobrar celeridade nas investigações, foi programado um ato ecomênico e a inauguração de um memorial em tributo às 62 vítimas. A manifestação ocorre na cidade de Vinhedo, onde ocorreu a queda da aeronave ATR 72 500. Segundo o advogado Leonardo Amarante, que representa mais de 100 familiares de vítimas da tragédia e a Associação dos Familiares do Voo 2283 (entidade formada para acompanhar juridicamente e institucionalmente o caso), grande parte deles estará presente para o ato, que ocorre a partir das 08h30, na Rua do Observatório, 295, Mirante Estrelas, em Vinhedo.

Os 56 passageiros e 4 tripulantes morreram assim que o avião explodiu no quintal de uma casa em Vinhedo (Foto: Reprodução)

De acordo com o advogado, a homenagem acontece dias após a divulgação de novos fatos: uma testemunha relatou que, na madrugada anterior ao acidente, o piloto do ATR 72 500 apontou falhas no sistema de degelo da aeronave, que não foram registradas no diário técnico (TLB).

Leonardo esclarece que, do ponto de vista civil, isso não altera as ações individuais já em andamento – a maioria já resultou em acordos com a Voepass e a LATAM. Porém, essas informações podem embasar uma futura ação coletiva por danos morais coletivos, ainda não ajuizada.

“O Programa de Reparação, instaurado para celebração de acordos pelas famílias junto às empresas aéreas e a seguradora, está no seu estágio final. Consideramos que ele foi bem-sucedido, tendo quase todas as famílias representadas pelo nosso escritório firmado acordo para recebimento de indenizações (abrangendo os danos morais, materiais, o dano morte e, em certos casos, pensionamento)”, explica o advogado.

Amarante pondera que, embora nenhuma vida possa ser devidamente reparada financeiramente, entende que os valores obtidos, considerando a jurisprudência atual nesse tipo de caso, são satisfatórios. “No entanto, a obtenção das indenizações individuais não exaure a atuação do escritório, que, representando a Associação de Familiares das Vítimas paralelamente a cada um de seus clientes, pretende pleitear indenização por danos morais coletivos.”

O advogado disse que segue atuando pela responsabilidade criminal e administrativa das empresas envolvidas.

O avião pegou fogo logo após a queda (Foto: Redes Sociais)

As vítimas

O voo era comandado pelo capitão Danilo Santos Romano, de 35 anos, tendo como copiloto o primeiro oficial Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61. As comissárias de bordo eram Débora Soper Ávila, de 28 anos, e Rubia Silva de Lima, de 41.

Todos os ocupantes da aeronave eram brasileiros. Três deles também possuíam cidadania venezuelana e um tinha dupla nacionalidade com Portugal. Entre os passageiros, 27 eram moradores de Cascavel.

O grupo de vítimas incluía oito médicos, sendo seis oncologistas que viajavam a São Paulo para participar de uma conferência sobre câncer. Também estavam no voo quatro professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e dois servidores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Duas crianças estavam a bordo: um menino de quatro anos e uma menina de três. Uma cadela da família do menino também morreu no acidente. Pelo menos dez pessoas com passagem não embarcaram porque esperavam no portão errado.

Dentre as 62 vítimas estavam três pessoas com forte ligação com Ribeirão Preto. A comissária de bordo Rubia Silva de Lima, de 41 anos, nasceu e morava na cidade, em Bonfim Paulista. A médica Sarah Sella Langer atuou na rede municipal de Saúde entre os anos de 2017 e 2022. O comandante Danilo Santos Romano, de 35 anos era casado com a bancária ribeirão-pretana Thalita Machado Santana, de 31 anos.

A comissária de bordo Rúbia Silva de Lima morava em Bonfim Paulista, tinha 41 anos e trabalhava na Voepass havia 14 anos (Foto: Redes Sociais)

Também morreram o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos; e a comissária Débora Soper Avila, de 28 anos. A comissária de bordo Rúbia Silva de Lima foi sepultada em 17 de agosto de 2024, em Ribeirão Preto. Ela trabalhava na Voepass havia 14 anos.

O acidente com o ATR-72 500 da Voerpass foi o primeiro com vítimas em solo brasileiro desde o caso do avião da TAM que fazia o voo 3054, em 17 de julho de 2007 – a aeronave saiu de Porto Alegre (RS) e chocou-se contra um prédio da própria companhia depois de derrapar na pista do Aeroporto de Congonhas. Morreram 199 pessoas, 187 a bordo e doze em terra, a maior tragédia da aviação em território nacional.

O segundo caso com maior número de mortos ocorreu em 29 de setembro de 2006 com um avião da Gol e um jato Legacy, na Serra do Cachimbo (PA), em que 154 pessoas morreram. O terceiro ocorreu com o voo 168 da extinta Vasp. O avião ia para Fortaleza e bateu na Serra da Aratanha, perto de Pacatuba, no Ceará.

Morreram os 137 ocupantes do Boeing 727. Em 1996, No dia 31 de outubro, um Fokker 100 da TAM caiu dois minutos após a decolagem, destruindo oito casas no Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo. Além dos 96 passageiros e tripulantes, três pessoas foram atingidas em terra e também perderam a vida. O acidente da Voepass é o quinto com mais vítimas.

Desdobramento

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) cassou, em 24 de junho, o Certificado de Operador Aéreo (COA) da Passaredo/Voepass após constatar falhas graves e persistentes no sistema de supervisão da empresa, que já estava com as operações suspensas desde março. A decisão, sem possibilidade de recurso, inclui multa de R$ 570,4 mil.

A medida decorre do acidente de 9 de agosto de 2024, em Vinhedo (SP), que matou 62 pessoas. O avião ATR-72 caiu no quintal de uma casa após rodopiar no ar. Foi o pior acidente aéreo no país desde o da TAM, em 2007.

A Anac identificou falhas em inspeções obrigatórias de manutenção, que deveriam ter sido conferidas por técnicos independentes. A reincidência dessas falhas evidenciou a perda de controle da companhia sobre sua segurança operacional.

A Voepass entrou em recuperação judicial em abril. Sediada em Ribeirão Preto, já havia passado por reestruturação entre 2012 e 2017. Com R$ 400 milhões em dívidas, operava 146 voos mensais a partir do aeroporto Leite Lopes e empregava cerca de 480 pessoas.

Investigações

Quase um ano após a queda do avião da Voepass que matou 62 pessoas em Vinhedo, no interior paulista, o relatório final sobre o acidente ainda não foi divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira.

A investigação, aberta no dia da tragédia, teve um relatório preliminar publicado cerca de um mês depois, apontando que os tripulantes discutiram falhas no sistema de degelo da aeronave, acionado e desligado diversas vezes ao longo do voo.

Sem declarar emergência ou informar mau tempo, o voo 2283, que partira de Cascavel (PR) rumo a Guarulhos, começou a perder altitude às 13h21. Um minuto depois, caiu em parafuso sobre uma casa em Vinhedo. Todos os 58 passageiros e os quatro tripulantes morreram.

No relatório preliminar, o investigador encarregado da Comissão de Investigação, Tenente-Coronel Aviador Paulo Mendes Fróes, comentou o relatório preliminar. “É importante destacar que não existe um fator único para um acidente, mas diversos fatores contribuintes. No caso do PS VPB, a perda de controle da aeronave ocorreu durante o voo sob condições favoráveis à formação de gelo, mas não houve declaração de emergência ou reporte de condições meteorológicas adversas”, explicou.

O Cenipa afirma que a apuração é conduzida por uma equipe multidisciplinar especializada, devido à complexidade do caso.

“Episódio mais difícil de nossa história”

A Voepass divulgou nota sobre um ano da tragédia de Vinhedo. Leia na íntegra:

No dia 9 de agosto de 2024, vivemos o episódio mais difícil de nossa história. A queda do voo 2283, na região de Vinhedo (SP), resultou em perdas irreparáveis. Um ano depois, seguimos solidários às famílias das vítimas, compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória. Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente.

A tragédia nos impactou profundamente e mobilizou toda a nossa estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, nossa prioridade. Nas primeiras horas após o acidente, formamos um comitê de gestão de crise e trouxemos profissionais especializados — psicólogos, equipes de atendimento humanizado, autoridades públicas, seguradoras, além de suporte funerário e logístico.

Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos fortemente dedicados a resolução das questões indenizatórias o quanto antes, neste aspecto com estágio bastante avançado das indenizações restantes. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Nos solidarizamos com toda a forma de homenagem às vítimas do acidente.

Sobre a apuração das causas do acidente, reiteramos nossa confiança no trabalho do CENIPA, com o qual temos colaborado desde o início das apurações, e reforçamos que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do CENIPA poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido. Cabe lembrar que o relatório preliminar divulgado pelo órgão em setembro de 2024 confirmou que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido, e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. A atuação da empresa esteve sempre pautada em padrões de segurança internacionais, contando inclusive com a certificação IOSA, um requisito de excelência operacional emitido apenas para empresas auditadas IATA, além de ter o acompanhamento periódico da ANAC como agência reguladora. Em três décadas de atuação, em um setor altamente regulado, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi a prioridade máxima da companhia.

Agimos sempre com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme e com respeito e sensibilidade a dor dos familiares das vítimas, e com toda a sociedade brasileira.

 

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