A equipe de especialistas em cirurgia ortopédica do Hospítal das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) realizou, pela primeira vez na instituição, procedimento de correção de deformidade óssea usando tecnologia que combina fixador externo moderno com um sofisticado software de planejamento e promete revolucionar o tratamento de casos complexos, permitindo corrigir múltiplas deformidades simultaneamente de forma mais precisa e eficiente.
O procedimento pioneiro, conduzido pelo cirurgião Paulo Bortolin, foi executado no paciente Lucas Santos, de 17 anos, com sequela de osteomielite na tíbia direita, resultando em uma deformidade angular e encurtamento do membro em 3,5 cm. A técnica inovadora teve como objetivo central a correção da angulação do osso e o alongamento gradual da perna para igualá-la, garantindo um resultado funcional e estético ideal.
O uso dessa nova tecnologia representa um salto qualitativo em relação aos métodos convencionais. Enquanto o alongamento ósseo já é uma prática estabelecida, a tecnologia atual permite um planejamento muito mais refinado, reduzindo o tempo de tratamento e o risco de complicações.
“Embora o caso inicial tenha sido escolhido por sua simplicidade, a experiência adquirida abrirá caminho para a aplicação da técnica em pacientes com deformidades complexas e tridimensionais, que chegam de todo o Brasil para tratamento”, explica Bortolin.
A equipe médica agora se concentra no acompanhamento do paciente, que passará por um processo de correção e alongamento progressivo. A previsão é que a correção completa ocorra em cerca de 40 dias, com a consolidação do osso levando de quatro a seis meses.
O monitoramento contínuo permitirá avaliar a eficácia do método e identificar os pacientes que mais se beneficiarão da inovação, solidificando o Hospital de Ribeirão Preto como um centro de referência em soluções ortopédicas de alta complexidade.
Inovação – O sistema ortopédico tradicional, embora eficaz, utiliza um fixador externo circular que requer o uso de dobradiças para realizar a correção de deformidades ósseas. Diferentemente, a nova tecnologia, conhecida como sistema hexapodal, emprega seis barras telescópicas que permitem liberdade de movimento em todos os três planos espaciais.
Isso possibilita corrigir simultaneamente alongamento, encurtamento, angulação e rotação, otimizando o processo e o tempo de tratamento. Além da correção simultânea, o novo sistema conta com um software de planejamento avançado que prevê o resultado final da cirurgia e, se necessário, recalcula a estratégia de correção em caso de imprevistos.
Essa capacidade de monitoramento em tempo real e de ajuste preciso representa um avanço significativo, especialmente para casos complexos, garantindo uma precisão maior e resultados mais satisfatórios para os pacientes, superando as limitações dos fixadores externos tradicionais.
Recuperação – Uma semana após a cirurgia, a avaliação é “muito boa”. “O paciente está se recuperando bem, sem dor, e já foi orientado sobre como manipular o fixador externo e movimentar as articulações”, afirma o cirurgião Paulo Bortolin.
Segundo ele, o novo sistema de fixador externo facilita a comunicação com o paciente, o que contribui para o sucesso da recuperação. A previsão de tratamento se mantém: a correção completa da deformidade deve ocorrer em 40 dias, e o fixador será retirado em cerca de seis meses.
Emoção – “Para mim é muito importante ver o meu filho com a perna normal, bem, contente. Isso para mim é muito gratificante. E que eu tenho a dizer, agradecer a todos, todos, porque o HC é um hospital que acolhe. Ele nasceu aqui e hoje está aqui para ser curado”, afirma sem conseguir lágrimas de alegria, a mãe Marceli Ferreira Passos.
Para o pai Valci Pereira dos Santos “significa um passo muito grande, sabe? Que pelo que ele já passou, não é de hoje que ele vem tentando fazer essa cirurgia. Desde quando ele nasceu. Então, para mim é gratificante ver o desenvolvimento desse novo equipamento que está sendo usado na perna dele. Feliz demais”
O filho, estimulado por uma pergunta sobre o que diria para o pai e mãe, acabou emocionando os dois. “O que eu tenho para dizer para eles é? Sou muito grato aos dois. Sempre estiveram comigo nessa luta desde pequeno. Por causa dos dois, nunca me importei com isso”, disse Lucas Santos.
“Sempre estiveram do meu lado, sempre me apoiaram, me ajudaram sempre quando eu precisei. E se Deus quiser, isso aqui vai dar certo com os ao meu lado aí me ajudando como sempre. E é uma felicidade imensa passar por isso.
“É gratificante ver ele reconhecer o sofrimento e o esforço que a família dedicou para que ele pudesse estar bem. Tenho fé de que tudo continuará dando certo e que, em breve, ele poderá andar normalmente”, fala a mãe trocando olhares com o filho. Em seis meses, ele volta a jogar futebol.

