Levy Teles (AE)
A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) participou por videoconferência da oitiva do hacker Walter Delgatti Neto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados e trocou acusações com ele durante a sessão Delgatti disse que a parlamentar ribeirão-pretana pediu para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ordenar a prisão, bloquear os bens e decretar a quebra do sigilo bancário do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo ele, a congressista prometeu dar um emprego, o que não fez, e ainda teria dito que, se ele fosse descoberto, poderia afirmar que foi feito a mando dela. “Você é um mitomaníaco”, disse Zambelli, que está presa na Itália. Ela ainda questionou a sanidade mental de Delgatti, ao afirmar que ele toma remédios para tratar déficit de atenção. Precisou o presidente da CCJ, Paulo Azi (União-BA), intervir pedindo que cessassem as acusações pessoais. ”Acredita quem quiser acreditar em mim. Quem quiser acreditar em você, acredita.
Todo esse processo é baseado no fato de que: ou a pessoa acredita no Walter, ou a pessoa acredita na Carla”, disse Zambelli. A deputada licenciada recebeu autorização da justiça italiana para participar da oitiva desta quarta-feira, 10 de setembro, de forma remota. No depoimento, Delgatti afirmou que Zambelli pediu a invasão do sistema porque ela “queria desacreditar o sistema de Justiça”.
Ele ainda afirmou que recebeu o aval da deputada para denunciá-la caso fosse pego. “Se caso você for pego ou processado, você pode falar que quem mandou fazer isso fui eu”, teria dito Zambelli, segundo Delgatti. “Ela olhou em meus olhos e me disse”, prosseguiu o hacker. Delgatti foi condenado e preso pela invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na invasão do dia 4 de janeiro de 2023, o hacker incluiu um pedido de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Já a deputada Zambelli foi condenada a dez anos de prisão como mandante do crime que teve o objetivo, segundo a sentença, de desacreditar a segurança do Judiciário e reforçar a versão, sem provas, de fraude na eleição de 2022. A urna, ao contrário do sistema do Judiciário, que não tem ligação com a internet, não podendo ser acessada à distância.
Para parlamentares que defendem a cassação imediata da Carla Zambelli, a oitiva de testemunhas na CCJ é uma manobra para atrasar a cassação da parlamentar. Não há prazo para finalizar a análise desse processo na CCJ. A Constituição diz que deputados condenados em transito em julgado, como a Zambelli, devem perder o mandato. A perda, porém, deve ser confirmada pela Câmara.
O relator, deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), reconheceu a possibilidade de pedir a íntegra dos autos do processo, como querem os colegas de partido de Zambelli, o que pode atrasar o desfecho da análise na CCJ. Delgatti ficou conhecido como hacker de Araraquara (SP) por ter invadido o celular de autoridades envolvidas na operação Lava Jato, ação que deu origem à Vaza Jato, série de reportagens que indicaram irregularidades da operação. O hacker chegou a ser preso, em Ribeirão Preto, na Operação Spoofing da Polícia Federal (PF), em 2019.

