Principal causa de cegueira evitável, a catarata tem na cirurgia o único tratamento realmente eficaz. Embora o procedimento esteja entre os mais realizados no Brasil e no mundo, um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) revelou que ainda persistem grandes desigualdades e dificuldades no acesso à cirurgia no país.
A catarata é uma lesão ocular que atinge e torna opaco o cristalino. Entre os sintomas estão: sensação de visão embaçada ou com névoa, sensibilidade à luz e alteração da visão de cores. Com a progressão da doença, as pessoas poderão enxergar apenas vultos.
A doença é responsável por 51% dos casos de cegueira no mundo, o que representa 20 milhões de pessoas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), no Brasil, surgem cerca de 550 mil novos casos por ano.
De acordo com o novo Radar da Demografia Médica no Brasil, publicado recentemente, em 2024, foram realizadas cerca de 1,8 milhão de cirurgias de catarata no Brasil. O SUS respondeu por 64% desse total. Porém, ao considerar o tamanho da população assistida, a taxa foi de 736,3 por 100 mil habitantes usuários exclusivos da rede pública.
Já entre beneficiários de planos de saúde, que representam aproximadamente um quarto da população, a taxa alcançou 1.276,8 por 100 mil habitantes. Ou seja, em 2024, os planos de saúde realizaram, em média, 73,4% mais cirurgias de catarata do que o SUS em todo o país.
O levantamento foi coordenado pelo Professor Doutor Mário Scheffer, do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP e analisou a distribuição de oftalmologistas e a realização de cirurgias de catarata nos sistemas público e privado.
A disparidade se torna ainda mais evidente na análise regional. No Norte, os planos de saúde realizaram 157% mais procedimentos do que o SUS; no Sul, a diferença chegou a 138%. No Sudeste, onde o cenário é menos desigual, os convênios médicos ainda assim realizaram 39% mais cirurgias que a rede pública.
A desigualdade na oferta de cirurgia de catarata afeta diretamente a qualidade de vida da população. O atraso no tratamento prolonga a incapacidade visual, dificulta a realização de atividades cotidianas e pode levar à perda progressiva da visão.
Dados do Ministério da Saúde indicam que a cirurgia de catarata com implante de lente intraocular foi o procedimento com a maior fila de espera do sistema público de saúde em 2024. O número de solicitações superou 168 mil em todo país.
Oferta desigual de oftalmologistas
O estudo também revelou a distribuição desigual de médicos especialistas no país. Em 2024, o Brasil contava com 16.784 oftalmologistas, o que corresponde a uma média nacional de 8,96 por 100 mil habitantes. Essa proporção, no entanto, varia significativamente entre os estados.
O Distrito Federal apresenta a maior taxa, com 19,18 oftalmologistas por 100 mil habitantes, seguido por São Paulo (11,25) e Espírito Santo (10,97). Na outra ponta, os menores índices estão no Amazonas (3,60), Pará (3,77) e Maranhão (4,22). Além disso, 65% de todos os especialistas estão concentrados em apenas 48 cidades com mais de 500 mil habitantes.
O estudo também calculou o número médio anual de cirurgias de catarata realizadas por cada oftalmologista. Os resultados revelam contrastes expressivos: no Piauí, cada especialista realizou cerca de 180,38 procedimentos por ano; em Alagoas, 147,20. No extremo oposto, o Distrito Federal registrou apenas 21,54 cirurgias por profissional e, no Tocantins, a média foi de 37,06. Essa variação evidencia um possível subaproveitamento da força de trabalho especializada em algumas regiões do país.
A desigualdade na oferta de cirurgia de catarata afeta diretamente a qualidade de vida da população. O atraso no tratamento prolonga a incapacidade visual, dificulta a realização de atividades cotidianas e pode levar à perda progressiva da visão.
Dados do Ministério da Saúde indicam que a cirurgia de catarata com implante de lente intraocular foi o procedimento com a maior fila de espera do sistema público de saúde em 2024. O número de solicitações superou 168 mil em todo país.
“É inadmissível que ainda exista fila para essa cirurgia no SUS. Ela pode e deve ser zerada, pois não faltam oftalmologistas no país. A coordenação de iniciativas e recursos entre esferas governamentais, o aproveitamento de parte da capacidade privada na rede pública, a padronização de práticas e preços, e a convocação de oftalmologistas mediante garantias de remuneração e condições de trabalho adequadas são medidas que poderão ampliar enormemente o acesso ao tratamento da catarata”, concluiu o Prof. Dr. Mário Scheffer, pesquisador da FMUSP.
Ribeirão Preto: Consulta em 6 meses e cirurgia em quatro
O tempo médio para um paciente conseguir uma consulta em oftalmologia na Rede Municipal de Saúde de Ribeirão Preto, de acordo dados do Complexo Regulador disponibilizados no Site da Secretaria Municipal de Saúde é seis meses. Já o para conseguir uma cirurgia de catarata, segundo a pasta, o tempo é de cerca de mais 4 meses.
No caso específico da cirurgia de catarata, os procedimentos são realizados pelos seguintes prestadores de serviços para o município: Santa Casa de Misericórdia, Hospital Santa Lydia ou pelo Hospital Electro Bonini pertencente a Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).
Na Rede Pública de Ribeirão Preto, quando uma pessoa apresenta queixas relacionadas à visão, deve procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS). Lá, é feita a triagem e o seu encaminhamento para um oftalmologista dos prestadores de serviços sem que seja necessário aguardar consulta com o médico da unidade. O encaminhamento é feito para o prestador de serviços mais adequado para atender o tipo de necessidade do paciente.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, uma das prioridades do atual governo é o enfrentamento da fila de espera para a realização de cirurgias de catarata. Para isso, a cidade recebeu recursos de diversas emendas parlamentares, que serão usadas para ampliar a oferta e a redução do tempo de espera. A previsão é que seja realizado um mutirão.
Falha fez pacientes ficarem cegos em Taquaritinga
O Ministério Público de São Paulo (MP/SP) ajuizou, no mês de maio, uma ação civil pedindo o pagamento de R$ 3 milhões e outras medidas compensatórias contra os responsáveis por um mutirão de cirurgias de catarata que deixou 13 pessoas cegas no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) da cidade de Taquaritinga.
A ação tem como objeto a Fundação Santa Casa de Franca que administrava a Unidade e era a responsável pela equipe que trabalhava no AME e a Secretaria de Estado da Saúde. Após o incidente a Santa Casa foi descredenciada da gestão o equipamento médico.
Durante a apuração, que durou três meses, a Promotoria apontou muitas falhas. Entre elas, a falta de controle dos protocolos cirúrgicos e a utilização inadequada de um antisséptico diretamente no globo ocular dos pacientes.
Segundo o MP, os danos sofridos pelos pacientes foram causados pelo uso nas vistas dos pacientes de um antisséptico – clorexidina tóxica – que serve para esterilizar a pele. Ela foi aplicada diretamente nos olhos dos pacientes no lugar do Soro Ringer, que serve para hidratar regiões ressecadas durante o selamento da incisão operatória.
Os profissionais que atuaram nos atendimentos foram afastados e os pacientes estão sendo acompanhados por equipe especializada no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HC/RP).
Principais doenças oculares
Conjuntivite aguda bacteriana: é reconhecida pela vermelhidão, secreção aquosa, mucosa ou purulenta. Recomendações: fazer lavagens e limpeza local frequentes com soro fisiológico ou água filtrada fervida. Se não houver melhora em dois ou três dias, procurar um oftalmologista;
Conjuntivite aguda viral: é reconhecida pela vermelhidão, lacrimejamento e pouca ou nenhuma secreção; às vezes pode ocorrer hemorragia. Se não houver melhora em uma a três semanas, deve-se procurar um oftalmologista;
Tracoma: é uma conjuntivite crônica, reconhecida por vermelhidão ocular, que pode levar à cegueira. Deve ser tratada por oftalmologista;
Catarata: é a opacificação do olho (cristalino). É reconhecida pela alteração de cor da pupila, que pode variar entre o cinza e o branco. Acarreta a perda gradativa da acuidade visual, porém sem dor. Deve ser tratada por meio de cirurgia pelo médico oftalmologista;
Glaucoma: é o aumento da pressão intraocular. Deve ser diagnosticada e tratada pelo oftalmologista.
Medidas de proteção para os olhos
– Evitar coçar os olhos
– Cuidados com a maquiagem: remover os produtos de beleza dos olhos antes de dormir; não usar produtos fora do prazo de validade; não usar produtos de outra pessoa; usar produtos antialérgicos e sem conservantes;
– Verificar regularmente o nível de glicose no sangue para evitar problemas oculares provocados pela diabetes;
– Pelo menos uma vez por dia, higienizar a área em volta dos olhos, como pálpebras, cílios e cantos, para remover impurezas e secreções secas evita coceira, irritação ou até conjuntivite
– Piscar com mais frequência e fazendo pausas repetidas lubrifica as córneas, evita o ressecamento dos olhos, descansa a vista e auxilia no combate à chamada síndrome da visão de computador;
– Usar protetor ocular sempre que houver risco de algo atingir seus olhos;
– Lavar os olhos com bastante água limpa se neles cair qualquer substância;
– Usar óculos ou lentes de contato apenas quando prescritos por médico oftalmologista;
– Antes de colocar ou ao tirar as lentes de contato, lavar bem as mãos e higienizar as lentes com produtos indicados pelo fabricante. O estojo onde as lentes são guardadas também deve estar sempre limpo;
– Utilizar óculos escuros em ambientes com claridade excessiva;
– Consumir mais peixe: o alimento é rico em ômega 3 e contém vitaminas A, B, D e E, essenciais para a saúde;
– Não fumar, praticar exercícios físicos, manter o peso adequado e uma boa alimentação, são atitudes saudáveis inclusive para os olhos;
– Visitar regularmente o médico oftalmologista para fazer exames preventivos!

