Por Adriana Cristofoli
O Setembro Amarelo surgiu com a ideia de quebrar tabus, reduzir estigmas, estimular que as pessoas busquem e ofereçam ajuda. Desde 2015, quando ocorreu a primeira edição, ano a ano este movimento vem crescendo com mais pessoas reconhecendo que falar sobre suicídio é fundamental, mas exige cuidados.
Para o psicólogo Felipe Areco, Mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – EERP-USP e doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, falar sobre suicídio exige preparo, ética e responsabilidade. “Não estamos tratando apenas de números, mas de histórias interrompidas, famílias em pedaços e silêncios que doem”, declara. Para ele a prevenção verdadeira não cabe em uma ação pontual nem em uma publicação com hashtag.
Segundo a International Association for Suicide Prevention (IASP), uma pessoa com depressão tem 20 vezes mais risco de morrer por suicídio do que alguém sem o transtorno. “Vale ressaltar que a depressão é um dos fatores de risco mais relevantes, mas não é o único”, observa. Outro dado importante mostra que, entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a terceira principal causa de morte, a segunda entre mulheres e a terceira entre homens.
Cuidar da saúde mental é um processo contínuo. É fundamental manter vínculos afetivos, respeitar limites, cultivar hábitos saudáveis e valorizar espaços de acolhimento. Acima de tudo, é essencial buscar apoio profissional quando o sofrimento persiste.
“Nos últimos anos, tenho observado um aumento significativo de casos de depressão no consultório, ainda que nem sempre relacionados à ideação suicida”, declara. Segundo ele, os grupos mais afetados são jovens adultos, pressionados por estudos e trabalho, e adultos de meia-idade, que enfrentam perdas e transições importantes em suas vidas.
É essencial diferenciar tristeza de depressão. A tristeza é uma emoção natural e passageira; já a depressão é persistente, marcada por desesperança, perda de interesse, alterações no sono e na alimentação, fadiga e sentimentos de inutilidade. “O que diferencia a depressão da tristeza comum é o impacto profundo na vida cotidiana”, pontua.
Felipe esclarece que a depressão resulta de uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Envolve predisposição genética e alterações neuroquímicas, mas também questões como baixa autoestima, dificuldades na elaboração de perdas e ambientes sociais pouco acolhedores.
Nesse cenário, a internet pode ser tanto aliada quanto gatilho. “Se por um lado aproxima e favorece conexões, por outro reforça comparações, alimenta a sensação de inadequação e intensifica a exposição a conteúdos negativos’, analisa.
“Falar sobre saúde mental e suicídio é, acima de tudo, falar sobre vida. É reconhecer histórias que precisam ser escutadas e abrir espaço para enfrentarmos juntos os desafios que atravessam a existência humana”, finaliza.
Estado de SP tem aumento de 40% em atendimentos por saúde mental
O número de atendimentos em saúde mental realizados por psicólogos no Sistema Único de Saúde (SUS) do Estado de São Paulo cresceu 40% entre 2022 e 2024, passando de 1,6 milhão para 2,4 milhões de procedimentos. Apenas nos primeiros seis meses de 2025, já foram registrados 1,3 milhão de atendimentos, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Para o psiquiatra e diretor técnico do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (Caism), Elson Asevedo, os principais cuidados para quem enfrenta desafios com a saúde mental envolve uma rotina e hábitos saudáveis. “Cuidar da mente é como cuidar do corpo. Exige hábitos diários e uma abordagem preventiva. Não é só sobre tratar doenças, mas sobre promover o bem-estar e a resiliência emocional”, afirma.
Entre as práticas recomendadas estão a realização de atividades físicas regulares, associadas a uma alimentação equilibrada e a um sono de qualidade, a manutenção de conexões sociais saudáveis, que fortalecem o sentimento de pertencimento e a reserva de tempo para lazer e relaxamento, por meio de hobbies, leitura, meditação ou contato com a natureza.
Além dos cuidados do dia a dia, o especialista indica que procurar ajuda é um passo crucial e, assim como a saúde física, requer avaliação e cuidado qualificado para evitar que um sofrimento inicial evolua para um quadro mais grave. “Estudos científicos demonstram que a combinação de medicação e psicoterapia é mais eficaz que qualquer tratamento isolado, especialmente, em casos de depressão moderada a grave. Esta abordagem integrada oferece melhores resultados tanto para os sintomas quanto para o funcionamento geral e qualidade de vida”, destaca o psiquiatra.
Acesso à saúde mental no SUS
A SES destaca que a porta de entrada para atendimento psicológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é feita na Atenção Básica, por meio da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), que são administradas pelos municípios.
A Raps é instalada em todo o estado sob responsabilidade dos municípios, cabendo ao Estado o apoio e fortalecimento à Rede. É importante ressaltar que os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) podem ser procurados para avaliação e acompanhamento, quando necessário. Entretanto, desde as UBSs, até a urgência/emergência nos hospitais gerais possuem condições para atendimento em alcoolismo e o devido encaminhamento para especialistas da rede.
Quando há necessidade de cuidados de alta complexidade em hospital de referência, o paciente é encaminhado conforme quadro clínico.
Ribeirão Preto promove atividades do Setembro Amarelo em unidades de saúde
A Prefeitura de Ribeirão Preto, através da Secretaria Municipal da Saúde, preparou uma série de ações voltada ao Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização sobre a prevenção do suicídio.
Ao longo do mês, serão realizadas atividades em unidades de saúde e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade, com foco na promoção do cuidado e do bem-estar mental.
Programação nos CAPS
No CAPS II Central, no próximo dia 25, às 10h, será exibido o curta-metragem “Na travessia do Vazio”, dirigido por Gabriel Peixe, com um debate sobre autocuidado e socialização na sequência.
O CAPS III iniciou sua programação na quinta-feira (11), às 9h, com a exibição dos curtas “Brilhante” e “Dia e Noite”, além de atividades criativas de escrita e desenho. No dia 18, às 9h, será realizada a Caminhada Amarela, com pacientes e profissionais até a Praça Pedro Biagi, onde haverá alongamento ao ar livre. Para encerrar o mês, no dia 25, às 9h, acontece uma roda de conversa sobre comportamento autodestrutivo, aberta para relatos pessoais.
Atividades nas Unidades de Saúde
Na USF (Unidade de Saúde da Família) Paulo Gomes Romeo, nos dias 17 e 24, os profissionais irão tratar de temas ligados à saúde do trabalhador, incluindo a Síndrome de Burnout, voltadas tanto a pacientes quanto a servidores da saúde.
Já no próximo dia 17, às 9h, a USF (Unidade de Saúde da Família) Vila Albertina promoverá a roda de conversa “Está Tudo Bem”, com usuários da região.
CVV precisa de voluntários
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é um serviço voluntário e gratuito de apoio emocional para todas as pessoas que querem ou precisam conversar, sob total sigilo, com o objetivo de prevenir o suicídio e valorizar a vida. Para ser voluntário é necessário ter pelo menos 18 anos de idade, tempo disponível para um plantão semanal, uma reunião mensal e estar disposto a acolher as pessoas que precisam conversar de maneira sigilosa. As inscrições para o curso que é gratuito e virtual, podem ser feitas pelo link https://cvv.org.br/seja-voluntario. São 02 opções de turmas: às quintas-feiras, com início dia 25/09/2025 e previsão de término dia 11/12/2025 das 19h às 22h e aos sábados com início dia 27/09/2025 e previsão de término dia 13/12/2025 das 14h às 17h.