Tribuna Ribeirão
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Sem comemorações

Tais Roxo Fonseca

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O termo burnout surgiu nos anos de1970 mas somente em 2022 foi oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença do trabalho mais conhecida como mesopatia do trabalho. A síndrome de burnout é um problema que afeta pessoas de todas as etnias, classes sociais, profissões, sem distinção, por isso é um assunto que deve ser levado a sério, pois, essa doença desencadeia ansiedade, pânico, depressão e ideação suicida.

Burnout significa queima total, esgotamento profissional , exaustão extrema , resultante de situações de trabalho desgastante . Qual é o significado da palavra burnout em inglês – burn out – queima por completo. A pesquisadora Ana Maria Rossi, presidente do Internacional Stress Association no Brasil , nascida em Ribeirão Preto e filha do inesquecível amigoAtilio Rossi, define o estresse profissional como uma reação fisiológica que requer esforço de readaptação constante.

Ela ensina que a anatomia do burnout tem três dimensões (por definição todo o quadro de burnout precisa apresentar essas três facetas: a exaustão que corresponde ao cansaço físico e mental que se estende além do expediente, o cinismo, que corresponde a indiferença e o descaso em relação ao trabalho aos colegas e clientes e a perda de eficácia, quanto a produtividade, sendo que neste ponto o trabalhador se sente completamente inútil.

A sociedade está cada vez mais cansada, de acordo com levantamento da OMS, cerca de 90% da população mundial relata sofrer com estresse ocupacional em seu dia a dia. As causas apontadas que desencadeiam essa doença que pode levar a incapacidade laborativa e até a morte estão calcadas em situações de humilhação, assedio psicológico , excesso de trabalho e exigem um tratamento medicamentoso acumulado com terapia.

Ocorre que não basta tratar o mal sem cuidar da raiz do problema, pois estamos morrendo de trabalhar em escalas laborais contraproducentes, que não permitem que o individuo possa descansar e conviver com sua família. Os empregadores como um todo precisam reavaliar as condições inadequadas de trabalho que favorecem o acometimento de transtornos mentais e o aumento do número de suicídios, além de diminuir a própria produção. 

Estamos colocando nossas vidas em risco em troca de salários risíveis que mal chegam a dar conta das necessidades essenciais.

A população ativa passa atualmente a maior parte do tempo no local de trabalho , com isso restam poucas horas do dia para dedicar se ao relaxamento e minimizar as dores da rotina, sendo que a maioria enfrenta condições difíceis e ambientes altamente desgastantes, vindo alimentar a intenção de subtrair a própria vida , essa ideia reflete a vontade de encerrar o ciclo de sofrimento .

Não temos que comemorar a prisão de pessoas, na minha opinião, esse é realmente o verdadeiro sentido da justiça para aqueles que transgridem as normas jurídicas postas, como o fez confessadamente Jair Messias Bolsonaro. O que devemos comemorar, quando esse dia chegar, é o respeito ao trabalhador, o fim da escala 6 por 1, por exemplo , bem como o resgate dos direitos trabalhistas banidos cruelmente pela reforma trabalhista que ceifou a Consolidação das Leis do Trabalho .

Atualmente a justiça do trabalho tem conferido indenizações reparadoras em virtude da detecção de burnout através de perícias irrefutáveis, contudo , quem está no meio jurídico e também na área da saúde sabe que jamais esse ser humano restabelecerá a sua plena atividade pessoal e laboral, carregando sequelas para toda a vida.

A vida vale a pena ser vivida mas nos tempos de despersonalização do ser humano caracterizada pelo distanciamento emocional sem possibilidade de realizações pessoais ,sem perspectivas para o futuro, frustração e sentimentos de incompetência e fracassos fica extremamente impossível comemorar qualquer coisa . 

Todos entendem o acidente de trabalho como em um caso típico quando o metalúrgico perde o dedo em uma máquina, contudo, precisamos insistir em debater o outro tipo de acidente do trabalho, a mesopatia do trabalho, a doença do trabalho, como o burnout que está encaminhando milhares de jovens a incapacidade total e permanente para desenvolver qualquer atividade laboral e até a morte.

Estou trabalhando em um caso jurídico que a moça de 27 anos não consegue mais passar na rua da sede de sua empregadora, essa moça já tentou o suicídio e perdeu a criança no último mês da sua primeira gravidez.

* Advogada

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