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Ministério do Trabalho diz que cansaço da tripulação pode ter contribuído para queda de avião da Voepass

Destroços do avião da empresa ribeirão-pretrana Voepass (Foto - Scretaria de Segurança de São Paulo/- Divulgação)

Uma auditoria feita pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontou que o cansaço da tripulação pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a queda do avião da Voepass Linhas Aéreas, que matou 62 pessoas em 9 de agosto do ano passado em Vinhedo (SP).

O MTE anunciou nesta terça-feira, 16 de setembro, que a análise feita pela pasta incluiu as escalas de trabalho do piloto e do copiloto do avião entre os dias 1º de maio e 9 de agosto, quando a aeronave caiu. A Voepass foi procurada pelo jornal Tribuna  e emitiu nota:

“A Voepass possui Programa de Gerenciamento de Risco de Fadiga (GRF),documento técnico aprovado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e segue regulamentação específica do setor, motivo pelo qual formalizamos defesa. Ademais, somente o Relatório Final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do acidente”, diz

“A conclusão foi que a empresa montou escalas que reduziram o tempo de descanso da tripulação, o que pode ter causado cansaço em um nível capaz de prejudicar a concentração e o tempo de reação dos profissionais. Esse fator, somado a outras possíveis causas, pode ter contribuído para o acidente com o voo 2283”, disse o ministério.

O MTE verificou os horários de entrada e saída em hotéis para confirmar o período de descanso da tripulação. Nessa varredura, a pasta identificou a falta de controle efetivo da jornada de trabalho e descumprimento dos limites de jornada e períodos mínimos de descanso.

Segundo o ministério, houve descumprimento da Lei dos Aeronautas e da convenção coletiva da categoria. Devido às irregularidades, a empresa foi alvo de 10 multas, que somam cerca de R$ 730 mil. Além de ter sido notificada por não recolher mais de R$ 1 milhão em Fundo de Garantia por Tempo de Servilço (FGTS) de seus funcionários.

Em abril, a Voepass entrou com um pedido de recuperação judicial declarando dívidas de R$ 429 milhões. A empresa foi criada em 1995 quando ainda levava o nome de “Passaredo”. Um relatório do Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) indicou que, durante o voo, a aeronave modelo ATR-72 enfrentou condições meteorológicas propícias à formação de gelo, mas o sistema de degelo foi ligado e desligado repetidas vezes, indicando possível falha.

Foram registrados também alertas Cruise Speed Low (baixa velocidade de cruzeiro) e, posteriormente, Degraded Performance (performance degradada) – quando o avião encontra condições que reduzem sua capacidade de voo, como o acúmulo de gelo, que diminui a sustentação.

O voo 2283, operado por um ATR-72 de matrícula PS-VPB da Voepass Linhas Aéreas, saiu do Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, em Cascavel (PR), às 11h58, com 58 passageiros e quatro tripulantes. A aeronave tinha como destino o Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, em Guarulhos (SP).

Quando se preparava para iniciar o procedimento de pouso, o avião perdeu altitude. Eram 13h21 quando começou a cair em espiral. A queda foi filmada por várias pessoas, atônitas com o que viam. Levou cerca de um minuto. O avião caiu no quintal de uma casa em um condomínio, na cidade de Vinhedo, na região de Campinas (SP). Com o impacto no solo, explodiu e pegou fogo. Todos a bordo morreram.

Estava escrita uma das maiores tragédias da aviação brasileira, que resultou no fim das operações da Voepass. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) cassou, em 24 de junho, o Certificado de Operador Aéreo (COA) da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa do grupo Voepass Linhas Aéreas. A decisão é definitiva e inclui multa de R$ 570,4 mil.

vítimas – O voo era comandado pelo capitão Danilo Santos Romano, de 35 anos, tendo como copiloto o primeiro-oficial Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61. As comissárias de bordo eram Débora Soper Ávila, de 28 anos, e Rúbia Silva de Lima, de 41.

Todos os ocupantes da aeronave eram brasileiros. Três deles também possuíam cidadania venezuelana e um tinha dupla nacionalidade com Portugal. Entre os passageiros, 27 eram moradores de Cascavel.

O grupo de vítimas incluía oito médicos, sendo seis oncologistas que viajavam a São Paulo para participar de uma conferência sobre câncer. Também estavam no voo quatro professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e dois servidores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Duas crianças estavam a bordo: um menino de quatro anos e uma menina de três. Uma cadela da família do menino também morreu no acidente. Pelo menos dez pessoas com passagem não embarcaram porque esperavam no portão errado.

Dentre as 62 vítimas, estavam três pessoas com forte ligação com Ribeirão Preto. A comissária de bordo Rúbia Silva de Lima, de 41 anos, nasceu e morava na cidade, em Bonfim Paulista. A médica Sarah Sella Langer atuou na rede municipal de Saúde entre os anos de 2017 e 2022. O comandante Danilo Santos Romano, de 35 anos, era casado com a bancária ribeirão-pretana Thalita Machado Santana, de 31 anos.

Também morreram o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos, e a comissária Débora Soper Ávila, de 28 anos. A comissária de bordo Rúbia Silva de Lima foi sepultada em 17 de agosto de 2024, em Ribeirão Preto. Ela trabalhava na Voepass havia 14 anos.

O acidente com o ATR-72 500 da Voepass foi o primeiro com vítimas em solo brasileiro desde o caso do avião da TAM que fazia o voo 3054, em 17 de julho de 2007 – a aeronave saiu de Porto Alegre (RS) e chocou-se contra um prédio da própria companhia depois de derrapar na pista do Aeroporto de Congonhas. Morreram 199 pessoas, 187 a bordo e doze em terra, a maior tragédia da aviação em território nacional.

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