Quando lhe perguntam por que aceitou o convite do prefeito Ricardo Silva para comandar uma das principais secretarias municipais, o médico Maurício Godinho responde que aceitou o convite porque acredita no Sistema Único de Saúde (SUS), no potencial de Ribeirão Preto de ser referência em saúde pública e no prefeito Ricardo Silva com quem diz estar aprendendo diariamente.
Doutor pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e ex-coordenador administrativo da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE). Godinho afirma que como gestor, sempre buscou alta performance e resultados concretos, e que enxergou na secretaria a oportunidade de aplicar essa visão em larga escala.

Tribuna Ribeirão – O senhor está completando nove meses à frente da Secretaria Municipal de Saúde. Como avalia este período à frente da pasta?
Maurício Godinho – Nesses nove meses à frente da Secretaria de Saúde, eu avalio que avançamos muito, mas também enfrentamos grandes desafios. Herdamos problemas históricos, como déficit de profissionais, filas em especialidades, sobrecarga das UPAs e estruturas físicas que precisavam de modernização. Ao mesmo tempo, conseguimos imprimir um ritmo de alta performance: inauguramos novos serviços como a tomografia no Hospital Santa Lydia, aprimoramos a telemedicina e demos início a obras e reformas importantes. Também entregamos a nova sede da Secretaria, que passou a reunir cerca de 500 profissionais em um espaço amplo, moderno e acessível, trazendo setores que antes estavam espalhados em diferentes prédios. Isso não só promoveu economia em aluguéis, mas também aproximou equipes, melhorou a integração do trabalho e trouxe mais conforto tanto para os servidores quanto para a população que precisa dos serviços administrativos. Ainda há muito por fazer, mas o saldo é positivo: hoje a rede municipal de saúde está mais organizada, com resultados concretos e uma visão clara de futuro.
Tribuna Ribeirão – Quais foram os principais problemas e desafios que o senhor encontrou na Rede Municipal de Saúde?
Maurício Godinho – Havia filas extensas para exames e especialidades, sobrecarga das UPAs, déficit de profissionais em áreas estratégicas, estruturas físicas deterioradas e serviços espalhados em prédios alugados que geravam custos sem trazer benefícios para a população. Esses desafios eram sentidos diariamente tanto pelos pacientes quanto pelos servidores. Desde o início, minha missão foi encarar essa realidade de frente, reorganizar fluxos, ampliar serviços e iniciar um processo de transformação estrutural que já começa a dar resultados.
Tribuna Ribeirão – Como coordenador administrativo da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE), o senhor atuava na ponta do atendimento emergencial. Já na rede também tem que cuidar da medicina preventiva e criar ações para evitar que as pessoas adoeçam. Como o município está dinamizando estas ações?
Maurício Godinho – Na Unidade de Emergência, eu convivia diariamente com os casos mais graves. Agora, na Secretaria, nosso grande desafio é justamente atuar antes da doença acontecer. Estamos dinamizando isso de várias formas: fortalecendo a Atenção Primária, que é a porta de entrada do SUS; ampliando as ações de promoção da saúde com grupos de atividade física, prevenção de doenças crônicas, vacinação e campanhas educativas nas escolas e comunidades. Também investimos em programas como o de saúde mental, saúde da mulher e da criança, além da telemedicina, que facilita o acompanhamento precoce. Nosso objetivo é que a população precise cada vez menos das emergências, porque teve acesso a um cuidado contínuo e preventivo perto de casa.
Tribuna Ribeirão – Uma das queixas dos profissionais de saúde pública é a queda na adesão da população às campanhas de vacinação. Como reverter essa tendência?
Maurício Godinho – A queda na adesão é multifatorial: o desinteresse vacinal depois da pandemia, crescente desinformação nas redes sociais e falta de lembrança ativa dos usuários. Para reverter, estamos combinando três frentes: comunicação nas redes sociais e na imprensa, ações em escolas municipais, com a atualização da carteira de vacinação e em breve, nas escolas estaduais; e facilitação do acesso, com horário de funcionamento da sala de vacina até meia hora antes do fechamento da unidade de saúde, e busca ativa por grupos de risco em determinas épocas do ano, como ocorreu nos primeiros meses após a confirmação do vírus da febre amarela em macacos bugios no campus da USP. Todas as metas e cronograma são acompanhados pela equipe técnica da Divisão de Vigilância em Saúde.
Tribuna Ribeirão – O senhor afirmou recentemente que muitos dos atendimentos feitos pelas UPAs poderiam ser resolvidos nas unidades básicas de saúde. A que o senhor atribui essa sobrecarga no pronto atendimento?
Maurício Godinho – Principalmente a cultura, para alguns usuários, de buscar atendimento imediato no pronto atendimento de urgência. Nossa resposta tem sido reforçar capacidade resolutiva das UBSs e por este motivo, descentralizamos os atendimentos. A partir de maio, todas as 47 unidades de saúde passaram a acolher pacientes sem necessidade de agendamento, durante o horário de funcionamento, para garantir um atendimento mais adequado para os quadros leves e desafogar as UPAs. Também implantamos o Cuidar+On, o serviço de telemedicina, para atendimentos com enfermeiros, clínico gerais e psicólogos.
Tribuna Ribeirão – Que avaliação o senhor faz do atendimento por telemedicina dinamizado pela prefeitura, este ano? Quantas consultas já foram realizadas este ano?
Maurício Godinho – O Cuidar+On foi essencial para ampliar o acesso da população e reduzir deslocamentos. No primeiro mês do serviço, em agosto, foram 25 mil atendimentos. Em 85% dos casos houve a emissão de receita médica ou atestado. Isso demonstra boa adesão inicial e potencial para desafogar a rede física.

Tribuna Ribeirão – O senhor também deslocou seu gabinete para as UPAs. O que senhor detectou ao ver in loco o atendimento feito por elas?
Maurício Godinho – Ao acompanhar o atendimento in loco identifiquei pontos fortes: equipes dedicadas e profissionais comprometidos, mas também necessidades. Fizemos alguns ajustes, como a implantação do painel eletrônico de chamada de fila única e a separação física dos fluxos adulto e pediátrico, além da reorganização geral dos fluxos de atendimento. Também constatamos a necessidade de investimentos em pequenas reformas, para otimizar os espaços. Com a contratação de mais especialistas, tornamos as UPAs mais resolutivas. No início do ano, as unidades contavam com clínicos gerais e pediatras. Hoje, há emergencialistas, traumatologistas, ginecologistas, cirurgiões, psiquiatras e assistentes sociais, diminuindo a dependência de vagas em hospitais.
Tribuna Ribeirão – O que a Secretaria tem feito para reduzir o tempo de espera no atendimento nas UPAs?
Maurício Godinho – Além da ampliação dos especialistas, que tornam as UPAs mais resolutivas, há o reforço de equipe em horários de pico, implementação de fluxos de triagem mais eficientes, integração com teleconsulta, aparelhos de raio-x mais modernos e com diagnósticos mais rápidos e agora, a implantação da sala de tomografia no Hospital Santa Lydia. Todo paciente na UPA que necessite de tomografia será transferido para o Santa Lydia, que atende exclusivamente o SUS, sem que seja preciso aguardar por transferência a hospital. Também estamos monitorando indicadores de fila/tempo de espera diariamente para ações corretivas rápidas.
Tribuna Ribeirão – Como está o processo de reativação e transformação da UBDS Central em UPA?
Maurício Godinho – O processo está avançando e o edital de licitação deve ser publicado em breve. A meta é transformar o prédio antigo em uma UPA com capacidade para atender a demanda local e reduzir sobrecarga em outras unidades. Seguimos trabalhando nas etapas de projeto.
Tribuna Ribeirão – Uma das queixas dos usuários é a demora para conseguir atendimento em várias especialidades. Como resolver isso?
Maurício Godinho – Resolver fila de especialidades exige ações estruturadas: ampliar a oferta com convênios de prestação complementar enquanto estruturamos a rede. Vamos otimizar regulação, ampliar agendas de retorno e teleconsultas com especialistas para triagem e acompanhamento, além de programas de capacitação para dar mais resolutividade à atenção primária. Estamos também negociando parcerias e redistribuindo recursos para ampliar o número de consultas especializadas ofertadas pela rede.
Tribuna Ribeirão – Em sua avaliação a estrutura física da Rede Municipal de Saúde é satisfatória?
Maurício Godinho – Temos unidades bem estruturadas, mas também encontramos prédios antigos, com necessidade de reformas e adaptações para oferecer conforto e acessibilidade. É um desafio histórico. Nos últimos meses, avançamos muito: inauguramos a nova sede da Secretaria, iniciamos reformas em unidades básicas e de pronto atendimento, estamos reformando e modernizando o Hospital Santa Lydia. Nosso compromisso é avançar continuamente nesse processo de modernização, porque sabemos que estrutura adequada significa mais dignidade para o paciente e melhores condições para o servidor trabalhar.
Tribuna Ribeirão – Existe déficit de profissionais na saúde municipal?
Maurício Godinho – Como em grande parte dos municípios brasileiros, temos carências em especialidades e profissionais. Dentistas, por exemplo. Assumimos a atual gestão sem previsão orçamentária para novas contratações e com um cenário crítico, marcado por um déficit estimado de 60 cirurgiões dentistas e 60 auxiliares de saúde bucal. Entre 2017 e 2024 ocorreram 131 desligamentos de profissionais da saúde bucal, com o chamamento de apenas 78 profissionais de todas as categorias ligadas a odontologia.
Tribuna Ribeirão – O que o levou a aceitar o convite do prefeito Ricardo Silva para ser secretário de Saúde?
Maurício Godinho – Eu aceitei o convite porque acredito no SUS, no potencial de Ribeirão Preto de ser referência em saúde pública e no prefeito Ricardo Silva com quem tenho aprendido diariamente. Por princípio trabalho com desafios e pessoas que acredito. Como gestor, sempre busquei alta performance e resultados concretos, e enxerguei na secretaria a oportunidade de aplicar essa visão em larga escala, beneficiando milhares de pessoas todos os dias. O prefeito Ricardo Silva me deu a confiança e a autonomia para conduzir esse processo de transformação, e isso foi determinante. Estou aqui para honrar essa confiança, fortalecer a rede, valorizar os profissionais e, acima de tudo, oferecer um atendimento digno e humano à população.

