Nos textos anteriores publicados aqui no Tribuna, vimos como é formado, como funciona e como se desenvolveu nosso cérebro ao longo da História. A Inteligência Artificial tem semelhanças estruturais com o nosso cérebro? Ela pensa da mesma maneira que nós?
“Aquilo que conhecemos como IA, é uma “simulação” do nosso cérebro, que funciona de forma diferente. O conceito geral é simular em forma artificial as redes neurais humanas, permitindo que a IA trabalhe sob o conceito de “deep learning”. Essas camadas de “deep learning” são a espinha dorsal das redes neurais profundas, que simulam eletronicamente o funcionamento do cérebro humano para reconhecer padrões, tomar decisões e aprender com dados.” – IA da Microsoft.
Essas camadas podem ser visíveis ao usuário ou não. A camada de “input” ou entrada de dados, é onde você insere o seu questionamento, problema, imagem, etc. Para a IA, cada “neurônio” é uma representação de uma característica do dado. Um píxel de uma imagem, por exemplo, seria um neurônio. Já a camada de “output”, ou saída, é aquela que apresenta o resultado computado para o seu “input”. Um bom exemplo da IA que está à disposição de todos é o Google Lens nos celulares Android. Aponte a câmera e identifique aquela flor ou crie um clip de vídeo, com narração por IA. Tudo depende da sua necessidade.
Já as camadas ocultas são aquelas encarregadas de processar o que foi solicitado no “input” e entregar o resultado esperado. Quanto mais complexo é o pedido, mais camadas ocultas são necessárias para realizar o processamento. Por isso, é fundamental a criação e produção de placas de processamento e conexão de redes cada vez mais rápidas. A produção de um vídeo por Inteligência Artificial demanda uma quantidade de camadas infinitas vezes maior do que a simples resolução de uma equação de segundo grau. Dependendo do tipo de demanda, bilhões de dados têm que estar armazenados na “nuvem”. Aqui ocorre o aprendizado de máquina. Ao acessar esses dados armazenados e realizar processamentos cada vez mais complexos, as redes de IA criam e reconhecem padrões que poderão ser acessados e utilizados posteriormente. É como fazemos com nosso cérebro com o velho e bom “decoreba” escolar. Você não vai fazer a conta toda vez que precisar somar dois mais dois. Ou multiplicar três por dois. Nem perde o caminho de casa. Não gastará “massa cinzenta”, pois já decorou, memorizou o padrão. A IA faz o mesmo e assim economiza processamento, tempo e energia.
| Conceito | Humano (Biológico) | Artificial (Computacional) |
| Inteligência | Adaptativa, emocional, contextual | Estatística, baseada em dados |
| Raciocínio | Flexível, simbólico, emocionalmente influenciado | Algorítmico, lógico, limitado ao treinamento |
| Consciência | Subjetiva, experiencial, integrada | Simulada, sem experiência ou subjetividade |
| Memória | Associativa, afetiva, reconstrutiva | Indexada, precisa, não emocional |
Nosso cérebro tem maior capacidade de interagir com um ambiente em constante mudança, que exige a cada instante uma tomada de decisão corretamente apropriada a situações complexas e anárquicas. É o exigido para viver em nosso planeta. Nossa civilização é moldada por esse ambiente e essas tomadas de decisão, geração após geração. Se em poucos anos conseguirmos desenvolver exponencialmente a Inteligência Artificial, ainda teremos resultados inferiores aos conseguidos pelo nosso cérebro. Somos animais com uma inteligência capaz de ter sinergia adaptativa complexa com o meio ambiente, o que nos dá imensa vantagem sobre a IA.
Um mundo artificial perfeito gerado pela IA parece ser o próximo passo das “big techs”. Cada uma com seu próprio mundo. Dizem ter conseguido criar óculos capazes de interagir realisticamente com o “mundo virtual”. Acho que vai ser tão chato quanto torcer em jogo de futebol no videogame. Ainda sou daqueles que pensam que uma pitada de imperfeição é necessária para alcançar a receita da harmonia, seja numa obra de arte, seja numa relação amorosa. A arte só é Arte quando transgride. E transgredir é incluir a imperfeição numa regra perfeita. Mundos perfeitos não existem, sua existência seria a própria negação da evolução.

