Animais estavam em reabilitação após serem resgatados em áreas urbanas e vítimas de maus-tratos
Na última segunda-feira, 29 de setembro, o Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) Morro do São Bento, vinculado à Secretaria de Meio Ambiente e que atende no Bosque e Zoológico Municipal Doutor Fábio Barreto, em Ribeirão Preto, soltou 32 gambás em área de preservação ambiental (APA). Os animais, que estavam em tratamento e passaram por processo de reabilitação, foram considerados aptos para retornar à vida livre, em ação realizada em parceria com a Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Segundo o zootecnista e responsável técnico pelo Cetras, Alexandre Gouvea, a devolução desses animais ao habitat natural é essencial para a conservação do meio ambiente, mas também revela um desafio recorrente: os gambás estão entre as espécies mais vitimadas por maus-tratos ao adentrarem áreas urbanas.

“O período de procriação dos gambás se estende da primavera até o verão, por isso, neste momento, observamos um aumento da presença desses animais no perímetro urbano e, consequentemente, dos casos de maus-tratos. É importante reforçar que os gambás não atacam se não forem ameaçados e não representam riscos”, diz.
“Muitas vezes são confundidos com ratos e ratazanas, o que leva a agressões injustificadas. Caso sejam encontrados em residências, a orientação é acionar a Polícia Ambiental ou o Corpo de Bombeiros”, destaca.
Durante esse período, as fêmeas saem em busca de alimentos, principalmente em lixos e rações de pets, e procuram locais seguros para construir ninhos, como forros de casas, telhados, garagens e até buracos em paredes.
A prefeitura de Ribeirão Preto reforça que, de acordo com a Lei nº 9.605/1998 (Crimes Ambientais), maltratar gambás é crime passível de multa e outras penalidades. Em caso de encontrar o animal em local fechado, a recomendação é ligar para o Corpo de Bombeiros (193) ou para a Polícia Militar Ambiental PMAmb), que farão o resgate e, se necessário, o encaminhamento ao Cetras para avaliação e cuidados.
Em setembro, o Cetras Morro do São recebeu seis filhotes de animais silvestres vítimas de ações humanas como incêndios florestais e atropelamento em rodovias. São cinco de cachorros-do-mato e um cervo-catingueiro.
Embora nenhum apresente lesões, parte deles estava abaixo do peso, exigindo tratamento baseado em nutrição intensiva. Para o cervo-catingueiro, foi desenvolvido um composto a partir de leite de cabra, o que possibilitou a recuperação e ganho de mais de um quilo em menos de um mês. Já os cachorros-do-mato receberam dieta específica, com substituto do leite, ovos e carne, assegurando desenvolvimento saudável. Quando atingirem a idade adequada e condições de sobrevivência, os filhotes serão devolvidos ao habitat natural, em processo de reintrodução.
Em casos de denúncias de contrabando ou criação de animais silvestres, a população deve entrar em contato com a Polícia Ambiental pelo telefone: 3996-0450. Integrante da rede de 28 Cetras do Estado de São Paulo, o Cetras Morro do São Bento vem se consolidando como referência na região, fortalecendo a proteção da fauna e contribuindo para o equilíbrio ambiental.
O Cetras Morro do São Bento, instalado no Bosque Zoológico Municipal Doutor Fábio Barreto, em Ribeirão Preto, já reintroduziu mais de mil animais em seus habitats naturais em pouco mais de um ano. São bichos vítimas de maus-tratos, do tráfico, da caça ilegal e de incêndios e atropelamentos.
O trabalho desenvolvido pelo Cetras é essencial para a conservação da fauna, oferecendo atendimento clínico e cirúrgico a animais silvestres que chegam debilitados, em sua maioria após contato com áreas urbanas. Grande parte do atendimento envolve aves que passam por tratamentos clínicos e nutricionais específicos para recuperar o tônus muscular e voltarem a voar. Desde sua criação, em 2024, o Cetras Morro do São Bento já atendeu cerca de 1.700 animais silvestres, promovendo reabilitação e soltura sempre que possível.
Quando a reintegração à natureza não é viável, os animais recebem assistência no Bosque Zoológico Municipal Doutor Fábio Barreto, onde o centro está instalado. O Bosque Fábio Barreto iniciou neste mês de setembro a utilização do Zoo 360, software desenvolvido pelos próprios técnicos da instituição que integra, de forma inédita, as áreas de nutrição, biologia e medicina veterinária, com atualizações em tempo real.
A ferramenta representa um avanço para a gestão de animais silvestres, ao unificar processos e garantir mais eficiência nos cuidados. Com a implantação, todo animal que chega ao zoológico ou ao Cetras já é cadastrado no programa. Outra inovação é a capacidade de auxiliar o setor de nutrição na elaboração de dietas adequadas, ajustadas inclusive às variações climáticas.

