Na grande área de avaliação psicológica com ênfase nas dimensões cognitivas, dois conjuntos de habilidades têm sido muito estudadas. A primeira delas é denominada de habilidades cognitivas, ou inteligência humana. Qual a importância de estudarmos as habilidades humanas? É a de sermos capazes de avaliar, através delas, a eficácia das pessoas, individualmente. Entretanto, grande variedade de crenças populares sobre as habilidades não tem qualquer fundamento. Neste contexto, alguns professores têm sido expostos à ideia de que há, pelo menos, 10 diferentes tipos de “inteligências”, bem como, que cada criança é excelente, ao menos, num tipo de habilidade cognitiva. Outros, à ideia de que nosso patrimônio genético tem um papel importante sobre nossas habilidades mentais e que as influências ambientais têm mais importância que as genéticas. Em meio a tantos “achismos”, pergunta-se: “São algumas dessas concepções corretas? O que faz com que as pessoas diferem em suas habilidades cognitivas? ”.
É próprio da cultura ocidental enfatizar diferenças individuais das habilidades. Um exemplo? Basta analisar as diferenças entre colegas que estes mesmos percebem entre si na escola ou quando, já adultos, eles se candidatam para empregos variados. Conhecendo como essas habilidades originam-se, e desenvolvem-se, talvez seja possível desenvolvermos estratégias educacionais para maximizar o potencial de cada criança. Como? Se conhecermos como a estimulação fornecida durante a infância melhora algumas habilidades mentais, os governos poderiam, talvez, implementar programas de enriquecimento cognitivo para as crianças pré-escolares. A avaliação das habilidades faz parte, também, de uma das histórias de maior sucesso da psicologia como ciência e profissão. Os testes de habilidades, ou inteligência, particularmente, são extremamente úteis na psicologia aplicada, os quais têm ajudado empresas, indústrias, escolas, governos a economizarem bilhões de dólares permitindo-as selecionar candidatos a emprego com o maior potencial de sucesso.
A segunda delas tem sido denominada de funções executivas. Dentro deste domínio os estudiosos para além de tentarem decompor as várias funções que podem ser separadas e mensuradas operacionalmente, têm também explorado a relação entre funções executivas e inteligência, desempenho acadêmico e funcionamento social e emocional. Ademais, destacam a importância das funções executivas na adaptação e diagnósticos clínicos. Assim considerando, para este grupo de estudiosos as funções executivas constituem um constructo cognitivo neuropsicológico que representa mecanismos neurais responsáveis por coordenar percepção, emoção, cognição e ação. Na realidade é um constructo multifacetado, tal como as próprias definições de habilidades cognitivas ou inteligência humana.
Num estudo muito criativo e bem delineado experimentalmente, Reis, Aragão, da Conceição e Silva Abreu (2025), publicado na Trends in Psychology, os autores discutem a relação entre funções executivas, metacognição e regulação emocional em adultos típicos. Os autores partem da suposição de que as funções executivas são processos que permitem a resolução de problemas e a conclusão de tarefas. Como tais, elas incluem memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva, as quais são essenciais para o desenvolvimento socioemocional saudável. Como podem observar, diferentemente dos estudiosos da inteligência humana, esta definição envolvem componentes, cognitivos, emocionais e afetivos. Os dados que emergiram de suas análises com 246 adultos entre 18 e 55 anos, revelaram nenhuma correlação entre funções executivas e metacognição. Também, mostraram que a flexibilidade cognitiva previu maior pontuação em redirecionamento atencional, enquanto o controle inibitório previu mais uso de supressão emocional. Também, interessante foram as análises das diferenças de gênero e idade, as quais indicaram que os homens mostraram mais frequência de conhecimento e regulação de cognição em comparação às mulheres. Ao passo que, a idade foi um preditor significativo de funções executivas, com desempenho inferior em adultos, mas velhos.
Tomados em conjunto, os estudos dos colegas do Grupo Aprender Criança preenchem uma lacuna na pesquisa sobre a associação entre metacognição de pensamentos e sentimentos e funções executivas. É um excelente estudo. Vale a pena ler na íntegra.

