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O último gole? 

Cinco mortes por intoxicação por metanol foram confirmadas, todas no Estado de São Paulo (Foto: Divulgação)

Por: Adalberto Luque 

De acordo com a Agência Brasil, o País tem 209 casos em investigação de intoxicação por metanol misturado em bebidas alcoólicas. Os dados são do Ministério da Saúde, divulgados no domingo (5). A maioria dos casos notificados é do Estado de São Paulo: 14 confirmados e 178 em investigação. 

Segundo a Agência Brasil o País registrou 15 mortes. Destas, cinco foram confirmadas, todas em São Paulo. Outras 10 estão em investigação, metade em São Paulo. 

As notícias sobre as adulterações que causam problemas físicos e neurológicos em pessoas intoxicadas após ingerirem bebidas com metanol levaram autoridades municipais, estaduais e federais de saúde e segurança pública a se mobilizarem para combater o crime. 

Na região de Ribeirão Preto, em poucos dias de fiscalização, mais de 10 mil garrafas foram apreendidas. Os produtos, encaminhados para análise, apresentavam indícios de fraude ou falsificação nas embalagens. Além disso, os donos não apresentaram nota fiscal nem comprovação de procedência. 

A adulteração e a falsificação de produtos continuam desafiando autoridades e consumidores no Brasil e em outros países, causando pânico entre comerciantes e consumidores, que têm reduzido a busca por uísques e vodcas, por exemplo. 

Ribeirão Preto registrou um caso suspeito, e ações foram intensificadas pela Secretaria Municipal da Saúde, Polícia Civil e outros órgãos (Foto: Max Gallão Mesquita)

Problema muito maior 

A adulteração e a falsificação de produtos, sobretudo gêneros alimentícios, é questão muito mais ampla. Os casos envolvem desde alimentos e bebidas até combustíveis e medicamentos, representando risco direto à saúde e à segurança pública. 

As práticas criminosas variam conforme o tipo de produto, mas todas têm em comum a busca pelo lucro fácil, em prejuízo da qualidade e da vida das pessoas. 

Nos últimos meses, casos de intoxicação por metanol chamaram atenção em vários estados. As investigações apontam suspeita de adulteração em bebidas como uísque, gin e vodca, com mortes confirmadas em São Paulo. O metanol, substância tóxica usada em combustíveis e solventes, é empregado de forma criminosa para aumentar o volume de bebidas falsificadas, mas pode causar cegueira e morte, mesmo em pequenas quantidades. Em setembro de 2025, uma facção criminosa foi apontada como possível responsável pelo fornecimento do metanol usado tanto em combustíveis quanto em bebidas adulteradas. 

Alimentos 

Entre os alimentos, o azeite de oliva lidera o ranking das fraudes. Análises realizadas em 2024 revelaram que muitos produtos vendidos como azeite puro continham óleos de qualidade inferior. Esse tipo de adulteração, difícil de ser percebida, compromete o sabor e as propriedades nutricionais do produto. 

O leite, tanto “in natura” quanto em pó, também segue como alvo frequente. Há registros da adição de água, amido e até ureia, além da extração indevida de gordura. Essas práticas reduzem o valor nutricional e podem causar problemas de saúde, especialmente em crianças e idosos. 

Em dezembro de 2024, cinco pessoas foram presas durante a Operação Leite Compensado, no Rio Grande do Sul. Elas usavam soda cáustica e água oxigenada para aumentar o volume do produto, o que causou intoxicação em diversas pessoas. 

Em 2013, uma grande fabricante quase fechou as portas após a descoberta de ureia e formol em lotes de leite. Os produtos foram retirados de circulação e a empresa teve que realizar recall para troca das unidades.

Operação realizada em Ribeirão Preto vistoriou 71 estabelecimentos, dos quais 17 foram autuados, e 44 garrafas com indícios de adulteração foram apreendidas (Foto: Maury Júnior/Matão Urgente)

Carnes e sucos 

No setor de carnes, as fraudes vão desde a substituição por carne de qualidade inferior até o uso de espécies diferentes das informadas no rótulo. Há ainda casos de produtos que passam por processos para mascarar sinais de deterioração. O consumidor, ao comprar uma carne aparentemente em bom estado, pode estar levando um alimento fora das condições ideais. 

Os sucos de frutas também sofrem adulterações. Em muitos casos, são usados concentrados de baixa qualidade ou grandes quantidades de açúcar para disfarçar o sabor artificial. 

O vinho e outras bebidas alcoólicas, como uísque e vodca, estão entre os produtos mais falsificados. A alteração de cor e sabor com substâncias químicas e o uso de rótulos falsos para simular marcas famosas são práticas comuns. Essas misturas, feitas sem controle sanitário, colocam em risco a saúde dos consumidores. 

Entre os industrializados, o queijo parmesão ralado foi alvo de escândalos. Em 2016, nos Estados Unidos, uma empresa foi condenada por adicionar celulose, derivada de polpa de madeira, e misturar queijos mais baratos ao produto. O caso serviu de alerta sobre a necessidade de fiscalização rigorosa.

Combustíveis 

Os combustíveis são alvos recorrentes de fraudes. Na gasolina, a adulteração mais comum é o excesso de álcool anidro acima do limite permitido ou a mistura com solventes e metanol, o que danifica motores e representa risco de incêndios. 

No diesel, a fraude ocorre pela adição ilegal de querosene. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) intensificou a fiscalização e, em 2023, registrou número recorde de apreensões de combustíveis adulterados com metanol. 

A Operação Carbono Oculto, a maior da história contra o PCC, combateu a cadeia de combustíveis, desde a produção até a venda, incluindo usinas, postos e aplicações bilionárias feitas por fintechs ligadas à facção criminosa (Foto: Reprodução)

Carbono Oculto 

Em agosto deste ano, Receita Federal, Ministério Público de São Paulo (Gaeco), Polícia Federal e outros órgãos deflagraram a Operação Carbono Oculto para desarticular um esquema bilionário ligado ao crime organizado, com suspeita de envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) na produção e comercialização de combustíveis. A investigação revelou uma rede que atuava desde a importação de insumos, como metanol, até a venda adulterada em postos, movimentando cerca de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. 

Foram identificadas empresas responsáveis por importar produtos como nafta e hidrocarbonetos, usados na formulação de combustíveis adulterados com metanol acima do limite. A estrutura contava com mais de mil postos em dez estados e teria causado prejuízo superior a R$ 7,6 bilhões em tributos. 

Pelo menos 251 postos — três em Ribeirão Preto — foram listados por ligação direta com o PCC. O MPSP não confirmou se houve denúncias, pois o caso corre em segredo de Justiça. 

O grupo usava fintechs e fundos de investimento para lavar dinheiro e ocultar patrimônio. Uma das instituições financeiras envolvidas, com sede na avenida Plínio de Castro Prado, em Ribeirão Preto, movimentou cerca de R$ 46 bilhões no período investigado. Pelo menos 40 fundos serviram para comprar imóveis, usinas e frotas. 

A operação cumpriu cerca de 350 mandados em oito estados e resultou no bloqueio de mais de R$ 1 bilhão em bens. Segundo o Ministério da Fazenda, foi uma das maiores ações de combate à sonegação e à lavagem de dinheiro já realizadas no País, além de atingir o núcleo financeiro do PCC.

Medicamentos 

A falsificação de medicamentos é uma das formas mais perigosas de fraude. Em setembro de 2025, a agência reguladora americana alertou sobre produtos falsificados de GLP-1, usados para perda de peso, que continham informações falsas sobre fabricação. No Brasil, uma operação da Polícia Federal em agosto desarticulou uma rede que falsificava medicamentos contra o câncer em Fortaleza. 

Também há registros de fraudes envolvendo canetas injetáveis usadas para emagrecimento. Criados para controle de diabetes, esses produtos de alto custo foram adulterados e vendidos em plataformas de e-commerce. Além de ineficazes, representam risco à saúde dos usuários por conterem substâncias desconhecidas. 

A falsificação e a adulteração de produtos, seja no setor alimentício, de combustíveis ou farmacêutico, têm se mostrado cada vez mais complexas. As operações recentes revelam quadrilhas atuando em várias frentes e países. As consequências vão além do prejuízo financeiro: atingem a saúde dos consumidores, a confiança no mercado e a credibilidade das marcas. 

Operação em Ribeirão Preto 

Em ações conjuntas, Prefeitura, Vigilância Sanitária e Polícias Civil e Militar realizam operações permanentes de fiscalização e combate à adulteração de bebidas. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, entre 30 de setembro e 7 de outubro foram vistoriados 71 estabelecimentos. 

Misturado às bebidas destiladas para aumentar o volume e o ganho dos ambiciosos adulteradores, a prática trouxe à discussão outros tipos de fraudes igualmente nocivas, como misturas com leite, com combustíveis e com vários outros produtos (Foto: Divulgação)

Destes, 17 foram autuados. Os agentes interditaram 218 garrafas e 6.943 copos. Além disso, 44 garrafas com indícios de falsificação e adulteração foram apreendidas. A cidade registra um caso suspeito de intoxicação por metanol, ainda em investigação. 

Um morador de Barrinha, na região metropolitana, foi encaminhado ao Hospital das Clínicas – Unidade de Emergência (HC-UE) de Ribeirão Preto, mas o caso de intoxicação foi descartado, e ele já recebeu alta. 

 176 casos de intoxicação por metanol 

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) informou que foram registrados 176 casos de intoxicação por metanol, sendo 18 confirmados e 158 em investigação. Ocorreram 10 mortes, das quais cinco foram confirmadas e sete seguem em apuração. Já foram descartados 85 casos. 

“Como as primeiras horas são decisivas para salvar vidas, a Secretaria de Estado da Saúde tem adotado um protocolo padrão para pacientes que procuram as unidades após consumo de bebidas destiladas e quadro incomum. Entre os sintomas estão sonolência, tontura, dor abdominal, náuseas, vômitos, confusão mental, taquicardia, visão turva, fotofobia, convulsões e acidose metabólica”, informou a pasta. 

Ações de combate à fraude totalizaram 378 mil apreensões desde 29 de setembro
(Foto: João Valério/Governo de SP)

De acordo com o protocolo aplicado, os casos são considerados suspeitos até o resultado do exame. “A intoxicação por metanol é grave, pode causar cegueira permanente e até levar a óbito. O metanol pode estar presente em bebidas alcoólicas clandestinas e adulteradas, além de produtos como combustíveis, solventes e líquidos de limpeza.” 

A SES-SP confirmou que Ribeirão Preto tem um caso suspeito. Na região, há dois registros em Cajuru, um em Morro Agudo e um em Rincão. Em Barrinha, o caso foi descartado. 

Na atualização de 7 de outubro, a força-tarefa apreendeu, em um único dia, 103 mil vasilhames vazios em um galpão na zona Leste da Capital. A ação, realizada pela Polícia Civil, encontrou garrafas vazias de destilados — gins, vodcas e uísques — prontos para serem envasados. No mesmo local, foram apreendidas 6 mil garrafas com bebidas alcoólicas sem comprovação de origem. 

Nas ações da Polícia Civil em todo o Estado, mais de 16 mil garrafas foram apreendidas em uma semana, todas com indícios de falsificação ou adulteração. Desde janeiro, o número de rótulos e outros itens falsificados, como lacres e selos, ultrapassou 15 milhões. Foram 378 mil apreensões desde 29 de setembro. 

A Polícia Civil efetuou 42 prisões, sendo 21 nos primeiros sete dias de outubro. Um dos presos é apontado como o principal fornecedor de insumos para falsificação de bebidas. 

As investigações apuram o uso de metanol tanto para lavar embalagens quanto para aumentar o volume das bebidas. Em caso de suspeita, as denúncias podem ser feitas pelo Disque Denúncia da Polícia Civil, no número 181, ou pelo site www.webdenuncias.sp.gov.br.

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