Por Hugo Luque
Como é tradição, o futebol de Ribeirão Preto celebra os dias mais importantes de seu calendário neste mês de outubro, quando os arquirrivais Botafogo e Comercial comemoram seus respectivos aniversários. O Pantera faz 107 anos neste domingo (12), enquanto o Leão do Norte completou 114 anos na última sexta-feira, com festa na loja oficial do clube, no Estádio Palma Travassos.
Os clubes da cidade vivem momentos distintos e estão mais distantes do que nunca no quesito divisões – o Tricolor está na elite do Campeonato Paulista e disputa a Série B do Campeonato Brasileiro e enxerga o rival longe, na modesta Série A4 do estadual. Mesmo assim, quem deve terminar o ano com mais esperanças de um futuro melhor é o Bafo.
O resgate alvinegro
Talvez nem mesmo o mais otimista comercialino imaginasse um fim de temporada positivo para a equipe, que começou 2025 rebaixada pela segunda vez para o quarto nível do Paulista (que já não é mais a última divisão, como em 2018). As arquibancadas da Joia viam poucas pessoas dispostas a acompanhar o Leão e a única opção parecia a transformação da agremiação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Logo em fevereiro, antes da queda, veio a primeira proposta, da Total Player, empresa dos irmãos e ex-jogadores Calucho e Paulo Jamelli. A diretoria admitiu a possibilidade de passar o comando do Comercial, mas tirou um tempo para analisar.
Com a sequência da temporada, o descenso veio e o presidente Antônio Carlos Campanelli decidiu fazer mudanças: contratou o veterano Pinho para o cargo de gerente de futebol, que trouxe Roberval Davino para comandar o time na Copa Paulista. Com pouco dinheiro, o Leão apostou no “poder da amizade”. Alguns atletas da Série A3 permaneceram, enquanto outros, como Carlos Bajé, chegaram indicados pelo técnico.
“Eu me acostumei com o Comercial e com Ribeirão Preto. Tenho um carinho muito grande pelo Comercial, pela cidade e pela torcida do Bafo”, disse, na época, Pinho.
“Minha vida como treinador foi assim: passei um tempo sendo campeão. (…) Depois, passei a tentar salvar alguns ‘pepinos’, algumas equipes que estavam mal. Dentro disso, chegou a vez de o Comercial, novamente, me procurar numa dificuldade”, destacou Davino, em sua apresentação.
Com o elenco formado, restava superar as dificuldades e, acima de tudo, a desconfiança da torcida. Logo de cara, Bajé foi quem chamou a responsabilidade e garantiu vitórias sobre Francana e Itapirense. Em seguida, o Bafo quebrou um tabu de dez anos e voltou a vencer um Come-Fogo, em casa.
A vitória no clássico animou a torcida e a campanha alvinegra continuou positiva. No returno da fase de grupos, mais uma vitória sobre o Botafogo, desta vez no Estádio Santa Cruz/Arena Nicnet, e classificação antecipada para o mata-mata.
Vice-líder da chave, o Comercial perdeu Bajé para o começo das eliminatórias, mas conseguiu bater a Inter de Limeira nos pênaltis, nas oitavas de final, e o forte São José, nas quartas, com vitórias na ida e na volta. Na semi, apesar de muita luta, o time foi eliminado pelo XV de Piracicaba e não conseguiu voltar a ter calendário nacional pela primeira vez desde 2003.
Mesmo assim, a torcida, que voltou a ocupar as arquibancadas do Palma Travassos, celebrou a campanha digna e exaltou o trabalho de Roberval Davino. A diretoria, então, foi rápida e renovou, na última semana, o contrato do treinador até o fim da Série A4. Agora, a meta é renovar com boa parte do elenco.
“Eu quero sempre ser o Barcelona ou o Real Madrid, mas infelizmente não é para todo mundo. Então você tem um Comercial sofrido, com a torcida que gosta demais do clube, e praticamente a gente fez uma equipe de guerreirinhos”, enfatizou Davino.
Junto com a boa campanha e a retomada do orgulho comercialino, o clube também recebeu mais uma proposta de um grupo de investidores, desta vez liderado pelo empresário Marcelo Zaparolli, que teria o técnico Nelsinho Baptista como executivo de futebol. A ideia, que passa por avaliação da cúpula do Bafo, é injetar dinheiro no time até o fim da gestão de Campanelli, em 2027, com a intenção de “preparar o terreno” para uma futura SAF.
O drama tricolor
Raros têm sido os anos em que a parte alvinegra de Ribeirão Preto chega ao fim mais feliz. Em 2025, porém, é o que pode acontecer, independentemente de rebaixamento ou não do Botafogo para a Série C. A longa má fase dentro de campo, que vem de outras temporadas, faz com que o torcedor sinta quantidades incômodas de “água no chopp” no aniversário tricolor.
Assim como no ano passado, o time não consegue engrenar. O sonho de seguir o exemplo do Mirassol e brigar pelo acesso à primeira divisão do Brasil não se concretizou e o Pantera tenta, mais uma vez, não cair. O clube, que celebra mais um ano de vida, tem sete partidas pela frente no ano para somar o máximo de pontos que conseguir.
No momento, a equipe ocupa a 17ª posição, com 32 pontos, e tem quatro de desvantagem para o primeiro time fora do Z-4, que soma 36. Matematicamente, não é uma tarefa impossível, mas as apenas oito vitórias em 31 partidas e a evidente instabilidade do grupo de jogadores deixam o objetivo mais distante.
Após seis jogos sem vencer na Série B, o Tricolor voltou a sair de campo contente ao bater o lanterna Paysandu por 1 a 0, em casa, diante de apenas 1.006 pessoas – pior público do clube no ano –, na última terça-feira. Um dos destaques foi a defesa, que, apesar de ser a segunda pior da competição (46 gols sofridos), conseguiu passar 90 minutos sem ser vazada. Esse, para o zagueiro Ericson, é o grande trunfo para que o time se mantenha no segundo nível nacional em 2026.
“É incômodo isso, o tanto de gols que a gente sofreu, mas ter essa regularidade agora no final vai ser importante. Quanto menos a gente tomar, tenho certeza de que a gente vai fazer. Conseguir deixar o placar zerado vai ser importante. A gente trabalha para isso, para melhorar, e não são só os defensores que passam por isso, mas a parte da frente e o meio-campo. Tem de enaltecer também quando a gente sai zerado, porque eles nos ajudaram demais”, disse.
A retaguarda, todavia, perdeu uma de suas peças na quinta-feira, quando o zagueiro Edson teve seu contrato rescindido após ser expulso contra o Coritiba e, na sequência, agredir o lateral Zeca, do Coxa, com um tapa na cara. Sem Allan Aal, demitido do comando técnico, a equipe foi comandada pelo interino Ivan Izzo, que comemorou no vestiário depois do triunfo do meio de semana.
“Vocês não merecem passar por isso. Vocês trabalham, são unidos, se ajudam, falam. Vocês não estavam merecendo passar por isso. A situação ainda é crítica, temos que ser conscientes. Não podemos nos deixar levar por uma vitória. Já tivemos experiência disso. Podemos recuperar? Podemos, temos condições. Só foi um jogo. Faltam sete”, exaltou.
Apesar do alívio contra o Papão, o Bota ainda é um dos quatro times com mais chances de ser rebaixado na Série B, segundo o Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para alcançar os 45 pontos, número que evitou o descenso nas últimas seis edições, o Tricolor terá de somar mais 13 em sete jogos – ou seja, quatro vitórias e um empate.
O próximo adversário é a forte Chapecoense, que briga pelo acesso, na Arena Condá, nesta terça-feira, às 19h30. Na sequência, os embates serão com Cuiabá (em casa), Novorizontino (fora), Volta Redonda (fora), Amazonas (em casa), Criciúma (fora) e Avaí (em casa).
Foto 01:
Comercial levou a melhor nos dois encontros com o Botafogo na Copa Paulista
(Raul Ramos)
Foto 02:
Bafo superou desconfiança e quase garantiu calendário nacional para 2026
(Raul Ramos)
Foto 03:
Pantera tem a difícil missão de evitar o retorno à Série C
(Raul Ramos)

