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A vacinação e a união para fazer o bem

Foto: Arquivo

André Luiz da Silva *
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Eu sou parte daqueles que carregam uma história inscrita no braço: a pequena e inconfundível marca da vacina BCG, um escudo protetor contra formas graves da tuberculose, administrada logo após o nascimento.

Essa marca é um portal para o passado. Lembro-me da época da escola, das filas para a aplicação de algumas vacinas, uma da “pistola” e uma com a agulha pré-aquecida. Naqueles dias, a rede de saúde não tinha a capilaridade de hoje e a estratégia era vacinar a criançada no ambiente escolar. Mas, tragicamente, muitos ficavam de fora, graças ao brutal índice de evasão de 40%.

O maior inimigo era a falta de acesso. E a mente se enche de angústia ao imaginar o custo humano: quantas crianças sucumbiram ou tiveram que conviver com sequelas de diversas doenças que poderiam ter sido evitadas por uma simples dose.

Foi no mesmo chão da escola que conheci as primeiras vítimas da paralisia infantil. Crianças que dependiam de aparelhos fixadores nas pernas, muletas e cadeiras de rodas para se mover. Algumas se submeteram a inúmeras cirurgias corretivas, muitas delas sem o sucesso esperado. Em 1975, para citar um ano, foram 3.596 casos em todo o país — uma tragédia silenciosa.

Posteriormente, o destino me apresentou a uma pessoa que vivia com a Síndrome Pós-Pólio: uma condição neurológica cruel que resgata, décadas depois, sintomas debilitantes como fadiga extrema, fraqueza muscular e dor. Os efeitos tardios vão de atrofia muscular a dificuldades respiratórias, impactando drasticamente a qualidade de vida.

A vida seguiu, e há quase 20 anos, encontrei o Rotary e sua épica jornada contra a pólio. O que começou nas Filipinas em 1979 transformou-se no programa global Pólio Plus (lançado em 1985) e, em 1988, culminou na criação da visionária Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite, em parceria com a Organização Mundial de Saúde e o UNICEF, entre outros.

Por todo planeta, rotarianos agem incansavelmente, incentivando a vacinação. Aqui, no Distrito 4540 (que abrange parte do noroeste de São Paulo e sul de Minas Gerais), o governador Rafael Alves Ferreira mobilizou seus companheiros para ações sintonizadas, com a subcomissão Pólio Plus, liderada por Celia de Freitas Merlos.

Vi de perto o impacto. Os voluntários do Rotary Club de Ribeirão Preto-Jardim Paulista, por exemplo, uniram forças com técnicos da Secretaria Municipal da Saúde para mapear bairros com baixa cobertura vacinal. A estratégia foi simples e poderosa: distribuíram dez mil informativos casa a casa e criaram músicas inéditas com mensagens de vacinação que eram tocadas em um “trenzinho” vibrante, circulando pelas principais vias e alertando famílias sobre datas e horários de funcionamento das Unidades de Saúde.

Por mais inspirador que seja, este trabalho precisa enfrentar a resistência sombria dos que continuam a disseminar narrativas perigosas e notícias falsas.Mas a luz supera a sombra e, hoje, destacamos os que estão unidos para fazer o bem. O Rotary reafirma, com cada dose aplicada, uma retumbante vitória pela vida. A campanha End Polio Now (Elimine a Pólio Agora) continua a ser a força motriz que inspira milhões de voluntários em todos os continentes, formando uma inquebrável corrente global de saúde, esperança e solidariedade.

Hoje é um dia crucial: o Dia D. Segundo o Ministério da Saúde, a Campanha de Multivacinação 2025 foca em atualizar a caderneta de crianças e adolescentes, mas se estende a outros públicos e deverá ir até 31 de outubro em muitos locais. As vacinas de rotina estarão disponíveis, com uma mobilização especial para públicos específicos, como adolescentes que ainda não tomaram a dose contra o HPV.

Que a força e a dedicação dos valorosos profissionais da saúde, pesquisadores e cientistas inspirem o surgimento de novos voluntários. Que, a exemplo dos rotarianos, mais pessoas devotem seus esforços pela vacinação, pela saúde e pela vida da nossa comunidade. Esta é uma luta que não pode ser perdida.

* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista

 

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