Luiz Paulo Tupynambá *
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A Inteligência Artificial utiliza uma fonte de energia diferente da nossa ou de qualquer outro ser vivo do nosso planeta. Enquanto nós retiramos toda a energia que necessitamos por meio de processos químicos orgânicos que transformam matéria orgânica em energia utilizável, a Inteligência Artificial usa energia elétrica para qualquer processo que execute. Só que a relação entre o que ela necessita para pensar o “beabá” é mil vezes mais dispendiosa em termos de energia do que um maratonista gasta durante uma prova de duas horas e tanto.
Existem dois tipos de datacenters: aqueles de armazenamento de dados, conhecido como “nuvem”. Tem gasto energético relativamente pequeno, já que não precisam de processamento potente. São como pendrives gigantescos, usados para armazenar dados. Gasta mais com refrigeração para manter a temperatura correta para funcionar.
O segundo tipo de datacenter é um verdadeiro “buraco negro” devorador de energia e dinheiro. Para conseguir processar imagens, sons, aplicativos de mídias sociais e administrativos, as placas e circuitos demandam uma imensa quantidade de energia, num processo de ciclo contínuo, vinte e quatro horas por dia. Um datacenter desse tipo pode chegar a ter milhares de servidores de processamento, trabalhando em conjunto para conseguir processar a demanda das milhões de solicitações (inputs) que chegam ao mesmo tempo, exigindo uma resposta rápida (feedback). A demanda por mais datacenters deste tipo está em crescimento exponencial e sem perspectiva de que vá diminuir logo. E aí vem a perguntinha besta que não quer calar: “E tem energia suficiente no mundo para isso”? A resposta é óbvia: ”Não”. E como se resolve isso? Com muito, muito dinheiro, construção de novas geradoras de energia, sejam elas hidrelétricas, eólicas, solares ou a combustão de fósseis, como carvão e petróleo. Sim, senhor, petróleo e gás estão de volta, como os principais geradores de energia do planeta. Pela demanda já criada pela IA em três anos, deverão continuar reinando até que consigamos fazer a fusão nuclear estável.
A demanda energética provocada pelos novos datacenters deve ter uma taxa de crescimento superior a 16% ao ano, até 2028. E com as novas tecnologias previstas para os próximos três anos, essa parece ser uma estimativa modesta. Aqui no Brasil temos apenas datacenters de “nuvem”. Mas já existem diversos pedidos para a instalação de vários datacenters de processamento nas regiões sul, sudeste e nordeste. Estima-se que os datacenters já existentes em 2024 representaram 1,7% do consumo total de energia elétrica no país. Já para o ano de 2029 esse percentual deve saltar para 3,6%. Mais do que o dobro em apenas quatro anos. Esse aumento de demanda vai exigir um gigantesco investimento na produção e distribuição de energia elétrica no mundo. Por que você acha que os irmãos Batista, donos da holding J&R compraram da Eletrobras uma parte da Usina Nuclear de Angra dos Reis, por módicos 535 milhões de reais? Para fazer churrasquinho de boi é que não foi.
Por mais que os ambientalistas façam força para trazer o mundo para a realidade da mudança climática, parece que mais o sistema atual baseado na queima dos combustíveis fósseis teima em forçar a barra para o caminho inverso. Não há uma perspectiva real a curto prazo que satisfaça o apetite pantagruélico das Big Techs e sua busca por lucro e poder político. No curto prazo, as geradoras de eletricidade que consomem combustíveis, conhecidas aqui no Brasil como termo-elétricas, parecem ser a solução óbvia para os “mocinhos” defensores da liberdade total do capital para ferrar o restante da humanidade. Vai poluir, provocar mais chuva e mais seca, desregular as estações, bagunçar com a produção agrícola do mundo inteiro? Não interessa, desde que o Whatsapp não saia do ar, o Instagram receba novas maquiagens e o ChatGPT comece a rezar missa com mais saber religioso do que o Papa.
E por falar nisso, o que esse pessoal das Big Techs fabrica que tenha valor agregado? Não produzem um parafuso, não colhem uma espiga e nem manufaturam uma camiseta. Sabe onde está a próxima bolha financeira? Pois é.
* Jornalista e fotógrafo de rua

