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Caso Bigodini: Vereador é indiciado por 3 crimes

Bigodini foi indiciado por embriaguez ao volante, falsidade ideológica e fraude processual (Thaisa Coroado/Câmara Municipal

A Polícia Civil concluiu, nesta sexta-feira, 24 de outubro, o inquérito criminal contra o vereador Roger Ronan da Silva (MDB), o Bigodini, de 33 anos, que se envolveu em acidente de trânsito e é suspeito de dirigir embriagado e de cometer fraude processual ao mentir para policiais.

Segundo o delegado Gustavo André Alves, da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), o vereador foi indiciado por embriaguez ao volante, falsidade ideológica e fraude processual, confirmando que ele não disse a verdade após o acidente. Somadas, as penas podem chegar a dez anos de prisão em caso de condenação.

O barbeiro e influenciador também pode ficar inelegível por oito anos. Já a namorada dele, a assistente social Isabela de Cássia de Andrade Faria, de 29 anos, responderá por falsidade ideológica, fraude processual e autoacusação. O casal não será preso e acompanhará o trâmite do processo em liberdade.

O delegado vai enviar o relatório final do inquérito para o Ministério Público de São Paulo (MPSP), que pode optar por arquivar o caso ou oferecer denúncia à Justiça de Ribeirão Preto. Neste caso, o vereador e a namorada passam a ser considerados réus e serão julgados pelos crimes a eles imputados. Como não houve morte, a possibilidade de júri popular está descartada.

Delegado Gustavo André Alves vai enviar o inquérito para o Ministério Público que pode optar por arquivar o caso ou oferecer denúncia contra Bigodini | Foto: Max Gallão Mesquita

Segundo Alves, as investigações reuniram diversas imagens de câmeras de segurança coletadas em diversos pontos por onde o vereador e sua namorada haviam passado naquela noite e madrugada que antecederam o acidente. Inicialmente, o casal estava com duas amigas, mas depois Bigodini e Isabela de Cássia seguiram passando por vários locais.

O delegado disse que, através das imagens, é possível afirmar que era sempre Bigodini quem conduzia o carro. Eles foram a diversos bares e a Polícia Civil conseguiu levantar o que ele consumiu. Os vídeos foram submetidos à perícia comprovam que Bigodini estava ao volante do Chevrolet Tracker cinza alugado. O rastreamento foi possível porque o carro que Bigodini dirigia era alugado e monitorado por GPS.

As imagens também mostram que o vereador dirigia o carro em altíssima velocidade. À 1h32 de domingo, 28 de setembro, o carro dirigido pelo vereador Bigodini estava a 113 quilômetros por hora na avenida Presidente Vargas; à 1h52 , foi flagrado a 131 km/h na Maurílio Biagi; e às 2h06, manteve os 131 km/h na avenida Brasil.

Às 2h08, estava a 165 km/h na Rodovia Anhanguera (SP-330), onde foi visto a 183 km/h às 3h19. De volta á avenida Brasil, às 3h57 estava a 133 km/h. Às 4h29, na rua Florêncio de Abreu, dirigia a 72 km/h e passou no sinal vermelho; e, por fim, no momento do acidente na avenida do Café, estava a 66 km/h.

Segundo o mapa da Polícia Civil, que rastreou os passos do vereador e de sua namorada naquele último final de semana de setembro, antes da meia-noite de sábado (27) Bigodini havia consumido duas caipirinhas (uma de vodca e uma de cachaça) num bar da cidade.

Por volta de uma hora da madrugada de domingo, consumiu ao menos duas jack coke (mistura de uísque com coca-cola) numa casa de shows. Imagens do local mostram o vereador com andar cambaleante, sendo escorado por uma geladeira. Ele ainda comprou três cervejas em duas lojas de conveniência de postos de combustíveis.

Na noite do acidente, Bigodini fez uso de bebidas alcoólicas como vodca, cachaça e uísque, além de cerveja que comprou em loja de conveniência | Foto: Polícia Civil/Divulgação

Em todas chega e sai dirigindo o veículo. O casal se recusou a fazer o teste do bafômetro. Às 3h22, uma câmera de monitoramento flagrou Bigodini dirigindo o veículo na avenida Brasil. Em seguida, ele entra na avenida Antônio da Costa Lima, perde o controle da direção e quase colide em um poste. Imagens mostram o vereador descendo do carro e voltando ao veículo do lado do motorista.

Minutos antes do acidente, Bigodini perde novamente o controle do veículo e quase bate no muro e em um poste em frente à uma empresa. Poucos segundos e metros antes do local da colisão, imagens mostram que o motorista trajava camisa branca, da cor da vestimenta do vereador e incompatível com os trajes de Isabela de Cássia.

Outra câmera mostra que o passageiro usava roupas compatíveis com a da namorada do vereador, inclusiva blusa preta. As imagens foram encaminhadas para exame pericial que atestaram o retro concluído. Bigodini também é alvo de processo de cassação na Câmara.

Policiais militares deram novo depoimento, enfatizando, segundo Alves, que o vereador estava visivelmente embriagado e refizeram a divergência inicial. O delegado também encaminhou para a Polícia Militar para apurar se a conduta dos PMs foi correta e submeter se podem ou não ser punidos pelo regimento, uma vez que teriam mudado o depoimento.

Na tarde de quarta-feira (22), o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Ribeirão Preto realizou sua segunda reunião para dar continuidade à análise do processo de cassação.

O colegiado é presidido pelo vereador Diácono Ramos (União Brasil) e conta com a participação de Franco Ferro (PP), Maurício Vila Abranches (PSDB), Brando Veiga (Republicanos) e Jean Corauci (PSD). O presidente do colegiado informou que a reunião foi realizada devido a um formalismo processual.

Tanto o ofício emitido pela Delegacia Seccional de Ribeirão Preto, que trata do termo circunstanciado referente ao acidente, quanto à defesa apresentada pelo advogado de Bigodini, Renato Cassiano, já foram juntados aos autos do processo.

Câmeras de monitoramento mostram Bigodini pilotando o GM Tracker a mais de 100 km/h pelas ruas da cidade: atingiu 183 km/h na Anhanguera | Foto: Polícia Civil/Divulgação

“Saliento que, tanto o vereador Bigodini, quanto seu advogado foram devidamente notificados dos atos praticados, bem como desta reunião”, afirmou Ramos. Corauci ressaltou que “os documentos entregues serão analisados pelo Conselho de Ética para, em seguida, dar continuidade aos trabalhos”, finalizou.

A defesa de Bigodini pede a anulação do processo de cassação por falta de provas. Na segunda-feira (20), Bigodini protocolou na Câmara novo atestado médico com duração de mais dez dias para justificar sua ausência das atividades parlamentares. Desde 29 de setembro, o vereador está afastado de suas funções legislativas e foi internado em clínica particular para tratamento.

Ele apresentou atestados médicos de ansiedade e estresse. O primeiro, com prazo de quatro dias, venceu em 2 de outubro. O segundo, de dez dias, expirou no dia 15. Aponta transtorno de estresse agudo, caracterizado por uma resposta emocional intensa a um evento traumático.

Como o período de afastamento não chega a 15 dias, o suplente não será convocado. A Lei Orgânica do Município (LOM) determina que a convocação só deverá ocorrer quando a licença médica ultrapassar 15 dias ininterruptos.  O vereador têm feito pedidos sucessivos, impedindo a posse dos reservas.

No dia 16, o vereador e a namorada dele faltaram ao depoimento na Delegacia Seccional de Ribeirão Preto. O advogado do casal, Wesley Rodrigues, apresentou à Polícia Civil uma petição que concede a dupla o direito de se abster de depoimentos e permanecer em silêncio durante interrogatório.

Conselho – O acidente de trânsito envolvendo o Chevrolet Tracker cinza alugado pelo vereador ocorreu na madrugada de 28 de setembro, na avenida do Café, Zona Oeste. Na Câmara, passou a ser investigado após o jornalista Rodrigo Leone da Silva entrar com pedido de cassação. O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar tem 180 dias para concluir os trabalhos e emitir parecer sobre o caso.

Imagens comprovam que o motorista do carro usava blusa branca (Bigodini) e o passageiro (Isabela de Cássia) estava com vestimenta preta | Reprodução

Defesa – Em nota distribuída a imprensa, os advogados Wesley Felipe Martins dos Santos Rodrigues e Paulo Roberto Pereira Marques dizem que tomaram conhecimento das imagens divulgadas pela Polícia Civil através da mídia. Citam que o processo tem 233 páginas, motivo pelo qual não houve tempo hábil para que a defesa procedesse à análise minuciosa de todo o conteúdo apresentado.

“Não por outra razão, a defesa ainda não teve a oportunidade de exercer o contraditório em relação aos elementos probatórios recentemente encartados aos autos, circunstância que inviabiliza a formulação de conclusões temerárias acerca de provas cuja idoneidade não pôde, até o momento, ser aferida pela própria defesa”, dizem, lembrando que Bigodini sempre esteve à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento

Nota da Câmara Em nota enviada à redação do Tribuna, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara informa que aguarda o recebimento oficial do inquérito policial referente ao vereador Bigodini (MDB), conforme previamente comunicado pela Polícia Civil durante a tramitação das investigações.

“Assim que o material for encaminhado, o conselho fará a análise técnica e jurídica dos autos”, diz.  “Caso o inquérito não seja formalmente remetido até a próxima reunião do conselho, será deliberado o encaminhamento de ofício à Polícia Civil, solicitando acesso integral aos documentos para conhecimento e eventual deliberação. O conselho reafirma seu compromisso com a transparência, a responsabilidade institucional e o devido processo legal”, finaliza.

Inabilitada – A namorada de Bigodini, que não tem Carteira Nacional de Habilitação (CNH), afirmou que ela estava dirigindo o veículo. No BO, consta que ela não apresentava sinais de embriaguez. Os dois foram levados para a Central de Polícia Judiciária (CPJ), onde a ocorrência foi registrada.

No boletim de ocorrência, a PM diz que Bigodini apresentava sinais de embriaguez – troca de palavras, odor etílico, fala pastosa, falta de equilíbrio –, e o outro BO não faz menção ao consumo de bebida alcoólica.

Vídeos – Ainda no dia do acidente, vários vídeos começaram a circular nas redes sociais. Num deles, no momento da colisão, mostrou uma pessoa com camiseta branca no volante da Tracker. A namorada de Bigodini vestia blusa preta. Já o vereador usava uma camisa branca.

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