José Eugenio Kaça *
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A violência no ser humano é inata, e por conta disso vive o tempo todo lutando contra o bem e o mal que habita seu interior, e muita das vezes seus demônios internos ganham a batalha, e o ser humano acaba revelando a sua desumanidade. A história mostra que a melhor maneira de praticar a violência contra outro ser humano é desumanizá-lo.
Para convalidar a escravização dos povos africanos, e não ter nenhum problema ético e de consciência, recorreram a Igreja Católica, que forneceu os argumentos que os invasores, chamados de colonizadores pudessem exercer livremente seu comércio, e para desumanizar os escravizados, afirmaram que eles não tinham alma, e por conta disso não eram considerados seres humanos. No regime nazista aconteceu a mesma coisa com o povo judeu.
O regozijo pela morte de outro ser humano, demonstra que continuamos vivendo presos na escuridão, onde os sentimentos de amor e solidariedade não existem. Entretanto, o regozijo frente a morte está no âmago da maioria dos seres humanos, que se eximem de suas responsabilidades terceirizando seus atos e para manter o poder, e para isso criaram um “Deus” que seja a sua imagem e semelhança, que vai estar sempre ao seu lado, ajudando a combater os que não comungam de suas ideias. E essa ideia de poder é tão forte, que já atravessou milênios, e continua produzindo seus efeitos na atualidade.
A chacina ocorrida em dois bairros do Rio de Janeiro mostra que não é mais a polícia combatendo o crime – é uma guerra declarada, e como disse um ex-capitão do BOPE: “é uma guerra, e como acontece em uma guerra, o inimigo tem que ser eliminado e não combatido”. A violência contra o povo periférico no Brasil é histórica; chibata, pouvora e execução arbitraria sempre foram os modus operandi dos donos do poder. Criaram as polícias para proteger os donos do poder e seus patrimônios, e não para proteger a vida da população.
Neste mês, em que se comemora o Dia do Professor, a mídia expôs as condições precárias de muitas escolas, onde professor e aluno sofrem diariamente com a violência, que alguma coisa tem que ser feita para que a paz conviva no ambiente escolar, entretanto, a violência é estimulada no cotidiano. Fiquei estarrecido com os pronunciamentos de parlamentares da extrema direita, exaltando a violência policial no Rio de Janeiro, afirmando que deveria ter morrido muito mais, pois na visão dessa gente de “bem”: “bandido bom é bandido morto”, mas só até a pagina dois.
Uma pesquisa feita com a população, apontou que de cada dez entrevistados, sete era a favor da operação policial, pois vivem o tempo todo sendo achincalhados pelo trafico e pelas milícias, mas não entendem que este tipo de operação não vai mudar nada no seu cotidiano, pois o Estado não retomou o território, e a situação dos moradores pode até piorar. O livro do jornalista Caco Barcelos “Rota 66, A História Da Polícia Que Mata”, mostrou que defender este tipo de operação policial, que bandido bom é bandido morto, acaba em algum momento atingindo os próprios defensores desta necropolítica.
Qual o exemplo que estamos passando para as nossas crianças e adolescente, afinal e educação é um espelho, que reflete as atitudes dos adultos, e a nossa meninada vai se espelhar, e como só existem imagens que exaltam a violência de uma ser humano contra o outro fica difícil esperar que tenhamos um mundo melhor. Desumanizar o ser humano, para poder justificar as atrocidades é trazer o passado de crueldade para o cotidiano. Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor. (Paulo Freire).
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação