Cúpula do Clima antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada de 10 a 21 de novembro Chefes de Estado, líderes de governos e representantes de alto nível de mais de 70 países estão em Belém do Pará para participar da Cúpula do Clima até esta sexta-feira (7).
Considerando embaixadores e pessoal diplomático, a lista ultrapassa uma centena de governos estrangeiros representados na capital paraense. O evento antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada de 10 a 21 de novembro. O objetivo é atualizar e reforçar os compromissos multilaterais para lidar com a urgência da crise climática.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva abriu a cúpula no fim da manhã desta quinta-feira (6). À tarde, houve uma plenária com o tema “Clima e Natureza, Florestas e Oceanos”.
Nesta sexta-feira, mais duas plenárias estão previstas. Centenas de discursos dos chefes de delegações estão agendados ao longo desse período, e Lula manterá reuniões bilaterais com diversos líderes, entre eles o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro do Reino Unidos, Keir Starmer. Ontem, Lula voltou a falar sobre o senso de urgência para as medidas mitigadoras das mudanças no clima, ao comentar sobre as “dramáticas perdas humanas” com o aquecimento global. Ainda neste tema, ele também classificou que “forças extremistas fabricam inverdades” para obter ganhos eleitorais.
A fala remete ao constante discurso da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre “negacionismo climático”. Sem citar nomes, o presidente brasileiro mencionou ainda que “rivalidades estratégicas e conflitos armados” desviam a atenção e acabam concentrando recursos financeiros que, de outro modo, poderiam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global.
O relatório de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que o planeta está sendo direcionado para o patamar de 2,5º mais quente, até 2100.
Neste cenário de alerta, mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano, de acordo com o chamado “Mapa do Caminho Baku-Belém”. O PIB global pode encolher até 30%. “A COP30 será a COP da verdade”, declarou Lula, repetindo lema que a presidência brasileira tenta emplacar. O cerne da discussão é o financiamento. No ano passado, na COP em Baku, no Azerbaijão, foi estabelecido que os países desenvolvidos devem “assumir a liderança” no fornecimento de, pelo menos, US$ 300 bilhões anuais até 2035, muito aquém do que é considerado necessário.
O Brasil se comprometeu a apresentar, junto ao Azerbaijão, um roteiro de como alcançar a meta de US$ 1,3 trilhão. O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, anunciou um aporte de € 1 milhão no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). A Noruega mais US$ 3 bilhões. O anúncio foi feito ontem na Cúpula de Líderes. “Portugal ficará como um país fundador”. disse Montenegro. Até o momento, apenas o Brasil havia aportado US$ 1 bilhão no fundo. A Indonésia anunciou que fará um aporte, mas ainda não detalhou valores.
O contexto geopolítico refratário ao multilateralismo, simbolizado com a futura saída do Estados Unidos do Acordo de Paris no início de 2026, representa um dos principais empecilhos para o compromisso de angariar recursos trilionários para a seara climática.
O presidente Lula abriu a Cúpula do Clima cobrando ações concretas dos países para conter a elevação da temperatura global em até 1,5º Celsius, meta definida desde o Acordo de Paris, assinado há dez anos. “Em um cenário de insegurança e desconfiança mútua, interesses egoístas imediatos preponderam sobre o bem comum de longo prazo”, reconheceu.
A necessidade urgente de mobilização de recursos financeiros para que os países mais pobres e em desenvolvimento possam promover uma transição energética e alcançar as metas climáticas do Acordo de Paris deu o tom do discurso do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres, na abertura da Cúpula do Clima, em Belém.
Na avaliação de Guterres, o momento não é mais de negociação, mas de implementação dos compromissos assumidos nas últimas décadas. “Precisamos demonstrar um caminho claro para podermos chegar a US$ 1,3 trilhão em financiamento climático a países em desenvolvimento, até 2035”, disse.
“Os países envolvidos têm que liderar para mobilizar esses investimentos, para que eles possam oferecer financiamentos acessíveis. Não é mais tempo de negociar, estamos na hora de implementar, implementar e implementar”, afirmou. Em seu discurso, Guterres lembrou que, no ano passado, os investimentos em energias renováveis superaram em US$ 800 milhões o valor destinado a combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. Segundo ele, é preciso romper com lobbies do segmento que é o maior responsável pela emissão de gases poluentes que aquecem a atmosfera do planeta.
“Os combustíveis fósseis ainda levam muitos subsídios dos contribuintes, muitas empresas e corporações estão lucrando cada vez mais com a devastação ambiental, com bilhões sendo gastos com lobbies para enganar o público e obstruir o progresso.
E muitos líderes globais ainda se mantêm em linha com esses interesses”, observou o chefe da ONU. A iniciativa brasileira re.green, voltada à restauração de florestas e captura de carbono, venceu o Prêmio Earthshot 2025 na categoria Proteger e Restaurar a Natureza. A cerimônia de premiação, que contempla os ganhadores com 1 milhão de libras (cerca de R$ 7 milhões), reuniu o príncipe William, herdeiro do trono britânico. Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, também esteve na cerimônia da noite de quarta-feira 5), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Chamado de “Oscar da Sustentabilidade”, o prêmio foi criado pelo príncipe William, por meio da The Royal Foundation, em 2020. Ele também discursou ontem na Cúpula do Clima.

