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A proporção de famílias com dívidas chegou a 79,5% em outubro de 2025 | Reprodução

O Brasil atingiu um marco preocupante: segundo a pesquisa “Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic)” da CNC, a proporção de famílias com dívidas chegou a 79,5% em outubro de 2025, o maior nível desde que a série histórica teve início em 2010. A parcela de famílias que apresentam inadimplência manteve-se em 30,5%, empatando o pico do mês anterior. Além disso, 13,2% das famílias afirmaram que não terão condições de pagar suas dívidas em atraso, outro recorde.

Essa situação se agrava quando se considera que 49% das famílias têm contas em atraso por mais de 90 dias e 32% declaram dívidas com mais de um ano de vencimento. Também subiu para 19,1% a fatia que compromete mais da metade do rendimento mensal com dívidas. A CNN Brasil reportou que, segundo a CNC, há previsão de que o endividamento suba mais 3,3 pontos percentuais até o fim de 2025, e a inadimplência, mais 1,5 ponto.

Esses números colocam em evidência uma dualidade cruel: o crédito abre portas para consumo, mas também cria armadilhas para famílias que já convivem com renda estagnada e custos de vida elevados. Dados da Serasa Empreendedor indicam que, em fevereiro de 2025, cerca de 75 milhões de pessoas tinham dívidas registradas em cadastros de inadimplentes — um claro reflexo da crise de crédito entre as famílias brasileiras.

Quando o consumo depende de crédito e o crédito se torna endividamento, estamos diante de um ciclo em que a promessa do “ter” se sobrepõe ao direito de “ser”. A cultura da compra impulsiva, a facilidade de parcelamento, o marketing agressivo e a manutenção de padrões acima da renda real tornam-se vetores de risco.

O Brasil, então, vê-se frente a um paradoxo: para sustentar o motor do consumo interno, o crédito é estimulado; mas para garantir a saúde financeira das famílias, seria necessário que esse consumo fosse contido, planejado e sustentável. Sem essa cautela, o que deveria alimentar a economia se torna lastro de crise individual — e, por extensão, coletiva.

Os resultados da pesquisa da CNC não são apenas números frios: são sinais de alerta. Quando 4 em cada 5 famílias estão endividadas, a estabilidade econômica se fragiliza. E quando quase 1 em cada 3 está inadimplente, o consumo futuro, a saúde financeira e a própria dignidade ficam em jogo.

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