Tribuna Ribeirão
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A Colômbia e sua Literatura (53): Andrés Caicedo

Rosemary Conceição dos Santos*

 

 

De acordo com especialistas da Grande Enciclopédia da Colômbia do Círculo de Leitores, volume de biografias, Andrés Caicedo foi um escritor de Cali que pertenceu ao renomado projeto cultural Ciudad Solar. Começando a escrever aos nove anos, desenvolveu interesse por cinema e fundou a revista especializada Ojo al Cine. Cometeu suicídio em sua cidade natal após ler a primeira edição de seu romance “¡Que viva la música!”. Atuando em filmes e escrevendo roteiros, Caicedo escreveu peças, contos e um romance, além de refletir, em ensaio, sobre a arte da escrita. Para ele, a ação vinha primeiro, depois a reflexão, o que o levou a produzir em um ritmo vertiginoso, a ponto de quase deixar de existir como pessoa, tamanha era a grandiosidade de sua obra. Seus críticos o viam como uma figura sem raízes, desajustada ou trágica, mas além dessa visão superficial, havia o artista ávido por viver a vida plenamente.

A produção intelectual de Andrés Caicedo começou aos nove anos de idade. Suas primeiras obras dramáticas, “La piel del otro héroe” e ” Recibiendo al nuevo alumno”, foram publicadas no final da década de 1960. Simultaneamente, encenou peças como ” La noche de los asesinos”, de José Triana, e ” Las sillas”, de Eugène Ionesco, bem como adaptando para o teatro o romance “Moby Dick”, de Herman Melville. Enquanto isso, seus primeiros contos começaram a ser publicados nos suplementos dominicais dos jornais de Cali. Participou dos encontros do grupo de escritores Los Dialogantes. Caicedo era um cinéfilo, que fundou e dirigiu, juntamente com amigos da área, entre outros, o Cineclube de Cali, que se reunia aos sábados às 12h30, primeiro no auditório do Teatro Experimental de Cali (TEC), depois no Teatro Alameda e, finalmente, no Teatro San Fernando. Em 1972, tentou adaptar seu roteiro Angelita y Miguel Angel para o cinema, mas o projeto não obteve sucesso. Documentou suas experiências como cinéfilo em artigos publicados nos jornais El Diario de Occidente e El Pueblo, ambos de Cali; e mais tarde começou a publicar a revista Ojo al Cine, que em 1974 se tornou a mais importante revista especializada em cinema do país, embora tenha publicado apenas cinco edições.

Ainda segundo especialistas, seus diários revelam que sua rotina era rigorosa no que diz respeito à leitura, produções teatrais e escrita. Desde as primeiras horas da manhã até às últimas horas da noite, Andrés parecia não pensar em nada além de forjar a sua própria obra, inventar o seu próprio universo, dar vazão aos seus próprios caprichos e “tentar acumular o máximo possível de escritos, filmes vistos e obsessões, para chegar bem preparado na hora da morte […]”. A precocidade de Andrés é evidente na disciplina incomum que manteve em todos os seus projetos, desde muito jovem. Vale ressaltar que todas as suas leituras estão registradas em uma pasta consideravelmente volumosa, onde ele descreve cada livro lido com um comentário de aproximadamente uma página. Nessas anotações, podemos quase ver um plano de leitura que ele impôs a si mesmo desde os onze ou doze anos, como se soubesse de antemão que precisava preencher todas as lacunas em seu conhecimento o mais rápido possível, segundo Sandro Romero e Luis Ospina.

Em 1969, Caicedo escreveu sete versões do conto “Los dientes de Caperucita”, que ganhou o segundo prêmio no Concurso Latino-Americano da Revista Imagen, em Caracas. Em 1972, seu conto ” El tiempo de la ciénaga” foi premiado no concurso da Universidade Externado da Colômbia, em Bogotá. Em 1974, ele viajou para os Estados Unidos com quatro roteiros de longa-metragem que havia escrito, pronto para vendê-los a Roger Corman, diretor que admirava profundamente. No entanto, embora traduzidos por sua irmã, os roteiros nunca chegaram a Corman. Nos Estados Unidos, Caicedo dedicou-se a assistir filmes, começou a escrever o único romance que chegou a terminar: “¡Que viva la música!”, iniciou um diário que pretendia transformar em romance (Memorias de una cinesífilis) e aprofundou sua paixão pela música (blues e rock, especialmente os Rolling Stones). Retornou à Colômbia e, em 1975, com o patrocínio de sua mãe, publicou o conto “El atravessado”. Continuou escrevendo compulsivamente e submeteu a versão final de ¡Que viva la música! para publicação. Recebeu um exemplar do romance antes de cometer suicídio em 1977.

“¡Que viva la música!” rapidamente se tornou um sucesso e um símbolo do sentimento juvenil; o romance foi reeditado e também publicado na Itália. A obra inédita de Andrés Caicedo inclui dezenas de contos, vários romances, peças teatrais, adaptações cinematográficas, roteiros, reflexões e extensa correspondência. Os temas predominantes em sua obra são as tolices da juventude em meio ao delírio e à perdição produzidos pela cidade concebida como um subúrbio. Poucos anos após sua morte, sua família e amigos criaram uma fundação para publicar toda a sua obra inédita.

Professora Universitária*

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