José Eugenio Kaça *
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Cada vez que ouço algum homem ungido, representante da corrente Petencostal dizer que os simbolismos das religiões de matriz africana são contrárias a tradição cristã – será que Cristo só nos ensinou o ódio? A perseguição as religiões de matriz africana é algo naturalizado neste seguimento religioso. A Igreja Universal fez uma campanha pesada na Bahia, para demonizar as vestimentas das baianas que vendiam o Acarajé; deu resultado, pois muitas baianas deixaram estas vestimentas, convencidas que estas vestimentas eram demoníacas – estão conseguindo matar uma tradição.
Uma notícia divulgada na mídia há algum meses, mostra um policial militar do Estado de São Paulo, relatando que os policiais militares estão sendo obrigados a participar de eventos, dentro da Igreja Universal do Reino de Deus, eventos ministrados por pastores, aí cabe a pergunta: Qual é a intenção de se obrigar polícias militares a uma doutrinação, muitas vezes contrárias a sua fé? Há algo sinistro por trás de tanta dedicação.
A demonização das religiões de matriz africana sempre aconteceu, mas havia uma convivência e tolerância, conheci muitas pessoas que iam na sexta-feira na Umbanda ou Candomnblé, e no domingo frequentavam a missa na Igreja Católica;nos dias de hoje isso é quase impossível. A educação básica pública é cantada em versos e prosas, como o único caminho para sermos um País evoluído, porem, as ideias progressistas estão sendo jogadas na lata do lixo. O Brasil é pródigo em fazer leis para melhorar a qualidade da educação básica e criar um ambiente escolar solidário, entretanto, a maioria não saí do papel.
Só o conhecimento liberta, e a educação escolar é o caminho para que o conhecimento ajude a acabar com os preconceitos e mostrar para as novas gerações que é possível se construí uma sociedade solidária, onde a origem ao nascer e a cor da pele não sejam mais impedimentos para uma convivência harmônica. A doutrinação religiosa calçada exclusivamente no ódio, está abrindo às portas do inferno, e a figura do inimigo se torna fundamental. .O fato gravíssimo que aconteceu em uma escola da educação infantil na cidade de São Paulo começa a mostrar os efeitos desta doutrinação que os policiais estão sendo expostos.
A Lei 10638/2003, torna obrigatório na educacão básica, o ensino da cultura afro-brasileira em todas as escolas, públicas e privadas, e a Lei 11645/2008, ampliou a obrigatoriedade para incluir também a histórias e cultura dos povos indígenas.Combater o racismo, valorizar a diversidade e reconhecer a contribuição africana e indígena para a formação do povo brasileiro é imprescindível. Acontece que o ódio destilado pelos fundamentalistas religiosos está prevalecendo. Uma escola da educação infantil, na cidade de São Paulo, foi invadida por um pai de aluno, acompanhado de policiais militares, armados com metralhadora, que foram intimidar, professores e a direção da escola, para cobrar explicações da escola, sobre desenhos de personagens religioso de matriz africana. Este fato não é um fato isolado, é o resultado da doutrinação que os policiais militares estão sendo expostos.
Não podemos admitir que policiais militares doutrinados por uma igreja que persegue as religiões de matriz africana, intimidem professores, diretores e funcionários, em nome do ódio e preconceito, se colocando acima da Constituição. Não podemos aceitar calados tamanha iniquidade – é hora de reagir antes que seja tarde. A tradição cristã deveria ser de amor e não de perseguição e ódio.
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação

