Tribuna Ribeirão
Artigos

Um exemplo a ser comparado

Feres Sabino *


advogadoferessabino.wordpress.com



O fato de não se apreciar uma liderança política, ou por opção ideológica fanática, ou por preconceito, não pode proibir o espírito crítico de registrar no oponente virtudes que não se encontram em qualquer outra pessoa conhecida, que tenha ocupado o mesmo cargo ocupado por quem merece uma apreciação de justiça.

Essa reflexão deve-se a inusitada presença internacional do Presidente Lula, figura indispensável em fórum internacional, particularmente nesse que o levou a Malásia e a Indonésia, onde recebeu o título honroso, mais um, de doutor honoris causa.

Sim, ele errou em frase de seu discurso de improviso, falando de traficantes e usuários de drogas, numa mistura nada acertada.

Mas, prender-se a esse erro, pelo qual ele pediu desculpas públicas, é ignorar o gigantismo de sua liderança, preocupada em representar dignamente o país, defender nossa soberania e a dignidade nacional, abrindo mercados para os produtos brasileiros, levando empresários para conhecer e trabalhar o potencial de compra e venda dessas economias com as quais temos laços ainda pequenos, constituiu uma tarefa inusitada e sem precedentes, que necessitam de honestidade da comunicação e da sua interpretação.

Não dá para comparar essa altivez com o que apresentou e apresenta o ex-presidente, condenado,que para afetar simplicidade no conclave internacional foi comer pastel na sarjeta, no mesmo país estrangeiro em que batera continência para a bandeira dele, num ato de sabujice que envergonha cada um de nós, vendo o símbolo de nossa Nação conspurcado pela alienação da consciência nacional, até mesmo como militar reformado, o que agrava o deslize.

Tanto para ser preso, como já preso, Lula deu exemplo de dignidade. Poderia ir para uma embaixada, como tantos o aconselharam, nem dormiu uma noite só em qualquer uma delas. Ele, quando perdeu eleições jamais disse que as urnas eram fraudadas, nem nunca criticou ou pretendeu desmoralizar o Supremo Tribunal Federal, permaneceu firme, aceitando a prisão, mas fixado sempre em tirar a máscara de seus perseguidores, como depois ficou provado tratar-se de um bando de assaltantes de toga.

O relator da Corregedoria do Conselho Nacional da Magistratura desventrou inclusive o sumiço de bilhões de Reais que estavam sob a custódia da 13ª Vara de Curitiba.Tem-se ainda depoimentos que revelam a festa da cueca filmada com a presença de Ministros do Superior Tribunal de Justiça, que teriam sido vítimas de pressão, ou achaque, por causa desse filme.

Promotores e juiz e juíza suspeitos, identificados como lava-jatistas estão à beira da execração pública, apesar de existirem Ministros querendo funcionar como “emenda de blindagem”, a esse bando que ignorou o Estado Brasileiro, entrando em contato e recebendo à socapa representantes da justiça estrangeira. Uma equipe do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

É narrativa perversa e mentirosa dizer que Lula,apesar de seus processos anulados por suspeição do Juiz,não era e não é inocente. Juiz parcial é juiz corrupto, juiz suspeito é juiz corrupto, intoxicando de nulidade qualquer ato de um processo.

Juiz parcial é um juiz totalmente carente de ética e prevaricador. Esse até orientava os promotores sobre a maneira como eles deveriam agir. Uma vergonha que lambuzou a dignidade e a legitimidade do Poder Judiciário. Levou à falência empresas brasileiras – como se estivesse a mando de interesses espúrios – que concorriam, no exterior, com as norte-americanas, destruindo milhares de empregos. 

Suspeito que decide é corrupto, porque parcial, porque viola o postulado fundamental da magistratura que é a de ser honesto e imparcial.

A coerência do Juiz suspeito, parcial e corrupto, é apodrecer tudo, é contaminar tudo, e nulificar tudo, como se tudo não existisse. Um serviçal, fiel e apodrecido, de interesses estrangeiros.

Também, Lula não colocou parentes na senda milionária da política, mulher, filhos, sogras e noras, que serviram ao ex-Presidente, condenado, na prática parlamentar da indecência da chamada “rachadinha”, cujo dinheiro vivo ficava escondido, e amontoado, num cofre de agência bancária, no centro do Rio de Janeiro, do qual só saia, parcial e coincidente, para a aquisição de imóveis em dinheiro vivo, que chegaram ao patrimônio da família em número de cinquenta e seis.

Todos comprados com dinheiro vivo que jorrara da fonte corrupta e miliciana da política.

Lula não instrumentalizou órgãos do Estado para inibir investigações de filhos, parentes e amigos.

Lula sempre respeitou a religião, já que religião é para humanizar as pessoas, não é para servir de trampolim na política, muito menos para servir de moeda, ou pedágio, para o paraíso futuro.

O crente entrega bens, às vezes todos, ao templo para pagar essa estrada do céu, enquanto o pastor convertido em corretor da felicidade permanece com todo o dinheiro e toda as benesses terrenas. Esse aproveitamento da religião na política sufoca a virtude e a humanidade da pessoa religiosa e humanizada, quando não a mata pela tortura.

Como o ser humanizado pela religião defende a tortura da pessoa,se é no rosto do outro que aparece a sacralidade do Criador? Como defender torturadores, considerados exemplares, se torturar é o mesmo que repetir o calvário até a crucificação, que ilumina nosso mundo ocidental por mais de dois milênios.

Lula não é nenhum super-homem.

No entanto, sua experiência de vida e sua coerência com a realidade que viveu, fazendo-se homem de Estado, e com o gabarito surpreendente a ponto de ser convidado como presença necessária em eventos internacionais, nos impõe, primeiramente, respeito, depois admiração, pois, temos que considerá-lo um fenômeno nascido das terras secas do nordeste brasileiro.

A liderança internacional de Lula, cuja presença é exigida em foros internacionais, constitui orgulho para o Brasil.

* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras

Postagens relacionadas

Sindicatos fortalecem a economia e os direitos de todos

Redação 5

Neurociência da vida cotidiana (24): Memória 

Redação 2

O nosso terremoto

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com