José Aparecido Da Silva*
No ensino básico, fundamental e médio, os românticos educacionais estão tentando fazer o que não pode ser feito e negligenciando o que pode ser feito. Já na educação superior, um arcaico sistema de ensino está sob pressão, tanto do mercado, quanto das novas tecnologias. Não obstante, em qualquer um destes níveis, muito pode ser realizado atacando pontos estratégicos e vulneráveis deles. Primeiramente, consideremos, novamente, as habilidades, sejam estas a geral ou específicas, não importando a quantidade destas últimas. Para aqueles que têm um “mínimo” de habilidade, o potencial da educação é representado pela extremidade mais afunilada deste, sem muitas chances de alterações. Já quando a habilidade se eleva, o potencial da educação se expande. Para outros, no nível mais elevado de habilidade, a largura do funil é limitada, apenas, pela amplitude do conhecimento, disponível, a ser ensinado. O funil aplica-se à educação de todos os tipos, seja ensinar alguém a jogar basquete, tocar um violino, desenhar uma figura, vender, meditar, ler ou fazer contas. Entretanto, quando se trata de leitura e matemática, os românticos educacionais recusam aceitar que a analogia do funil se aplique a ambas.
Nos últimos trinta anos, estes românticos têm estado obcecados sobre como fomentar grandes ganhos no desempenho de matemática e leitura para aqueles que estão na parte mais estreita do funil, onde, apenas ganhos marginais são realmente possíveis. Portanto, acabar com esta obsessão é o primeiro passo para implementar uma mudança radical em todos os níveis educacionais. A única maneira de fazê-lo é através da evidência científica que tem sustentado que, seja em leitura, ou em matemática, os desempenhos médios dos estudantes, com baixa habilidade nas mesmas, enquadram-se dentro dos limites previstos por suas habilidades verbal-linguística e lógico-matemática, mensuradas quando adentram às escolas, não importando quais escolas eles atendem. Logo, mesmo as melhores escolas não podem elevar os desempenhos em matemática e leitura das crianças de baixa habilidade. Assim, os românticos devem parar de privar a sociedade do discernimento de tal problema, sendo, sim, mais realistas, analisando, com mais atenção, a imensa literatura publicada a respeito. Se as escolas têm por tarefa educar os seus estudantes, elas necessitam conhecer quais habilidades e potencialidades aquelas crianças trazem para as escolas. A rigor, “o quê” você conhece, e não “como” e “onde” você aprendeu, é que faz a diferença.
Em relação às crianças talentosas, se elas chegam ao ensino médio lendo, entusiástica e prazerosamente, e realizando, de modo otimizado, tarefas intelectuais, as escolas têm cumprido sua missão. Para estas crianças, a solução é óbvia e simples: devemos deixá-las ir tão rápido quanto elas possam ir. Se uma criança de terceira série está lendo no nível da sexta série, deixe-a ler como ela está lendo. Se ela também faz operações matemáticas de um nível de sexta série, deixe-a fazer como está fazendo. Por quê? Porque as crianças talentosas desempenham melhor quando a elas é fornecido um currículo complexo, acelerado e desafiador. E, quando elas também têm professores com altas expectativas, assim como, quando estão com colegas que compartilham seus interesses, sem entendia-las por serem brilhantes, elas, certamente, desempenham melhor. Os educadores devem entender que as crianças talentosas também devem ter uma educação diferenciada, no sentindo de atender as elevadas expectativas intelectuais que elas têm.
É sem sentido, e eticamente indesejável, não fomentar as habilidades acadêmicas dos talentosos. Para finalizar, portanto, propomos apenas uma recomendação: quando crianças, cujas habilidades variam amplamente, são misturadas nas classes, suas diferenças são destacadas, não mascaradas. Que os professores delas fiquem atentos a isto. Tratando-as igualmente, as deficiências das crianças mais lentas se destacam para todos os seus pares. Ao contrário, valorizando apenas as mais brilhantes, as demais rapidamente compreendem o que está ocorrendo. Ou seja, em conjunto, todas estas crianças entendem que as habilidades variam e conhecem os talentos intelectuais de cada classe. As crianças lentas serão rotuladas, independentemente de estarem ou não agrupadas. Fato este que trará prejuízo a elas. Logo, os educadores não têm a opção de prevenir tais prejuízos. O que os educadores podem fazer é colocar a relação de desempenho na classe e o mérito de uma pessoa em perspectiva. Lembrando que mérito e habilidade acadêmica de uma pessoa são coisas distintas.
No caso da educação superior, o nosso sistema educacional atual supervaloriza o diploma de graduação. Nele, se uma pessoa gosta de um curso, e tem dinheiro para pagá-lo, esta é incentivada a prosseguir. Entretanto, o cenário educacional brasileiro atual cria desvantagens para os jovens que não querem fazer graduação, bem como, para os que não têm dinheiro para custeá-la e, tampouco, habilidade para tal. Tal problema surge porque o diploma de graduação, no país, funciona para os empregadores como um sinalizador do conhecimento e das habilidades que os estudantes trazem consigo. Na verdade, os empregadores interpretam e entendem que diplomas de graduação atestam, invariavelmente, a competência cognitiva de quem carrega o diploma. Todavia, entendemos que, tanto jovens estudantes, quanto empregadores, necessitam de um sinal de que melhor espelhe o que uma pessoa conhece, ao adentrar no mercado de trabalho.
Professor Titular Sênior – FEARP-USP*




