Artistas paulistas Aline Moreno e Corina Ishikura ocupam o Marp com obras que repensam natureza, território e presença humana
Até 19 de dezembro, com reabertura de 6 a 16 de janeiro de 2026, o Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi (Marp) apresenta a exposição “Paisagem, mero artifício”, das artistas paulistas Aline Moreno (Campinas) e Corina Ishikura (São Paulo), com curadoria de Marina Frúgoli (assistência de Letícia Castro) e curadoria institucional de Nilton Campos.
A entrada é gratuita. A mostra, contemplada pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), faz parte do Projeto Mensurando Horizontes, reunindo 16 trabalhos em pintura, escultura, instalação e vídeo – sendo cinco inéditos. As artistas dialogam em torno da ideia de paisagem como construção simbólica, cultural e política – uma paisagem feita de matéria, gesto e memória, propondo ao público um olhar expandido sobre o território e sobre as relações entre natureza e artifício.

“As duas artistas trabalham pela matéria e pelo espaço: madeira, pedra, tinta a óleo, carvão, vídeo. O visitante percorre a sala e encontra paisagens ora construídas por dados e mapas, ora reinventadas pelo gesto”, resume a curadora Marina Frúgoli. Segundo Aline Moreno, a pesquisa avança entre fragmento e totalidade. “A pedra é fragmento; a montanha, imagem de conjunto. Interessa tensionar essas escalas”, diz a artista, que pinta diretamente sobre madeira e produz relevos artificiais a partir de simulações topográficas.
“Quando multiplico a linha do horizonte ou reorganizo cortes verticais, a paisagem permanece presente, mas não se oferece inteira.” Para Corina Ishikura, o ponto de partida é cartográfico e aéreo. “Trabalho com mapas, imagens de satélite e dados reconfigurados em pinturas e instalações”, explica. “O foco recai sobre traçados urbanos, nas áreas verdes e nas ausências que revelam como ocupamos o território”. Em suas peças recentes, madeira, carvão e cinzas operam como comentário material sobre extração e transformação.
A montagem evita separar autorias: obras de Aline e Corina aparecem lado a lado, promovendo encontros formais (veios de madeira, superfícies e dobras) e choques de escala (do relevo simulado ao plano urbano). “Esse diálogo já existia antes do projeto”, lembra Aline. “Visitamos nossos ateliês, trocamos técnicas, acompanhamos processos.”
A curadora completa: “Minha função foi mediar e amarrar: pensar espacialmente o conjunto e acentuar as vizinhanças conceituais”, explica Frúgoli. Percurso expositivo – Aline Moreno e Corina Ishikura transitam entre linguagens bi e tridimensionais, com obras que dialogam com a espacialidade da sala e refletem sobre a ocupação humana do território. Ambas partem das ações humanas na constituição da paisagem: Corina pelas cartografias urbanas e desigualdades ambientais; Aline pela própria constituição do imaginário de paisagem e natureza.

As artistas se aproximam de recursos da cartografia, topografia, dados censitários, imagens e medições de satélite e a geração de paisagens artificiais através de algoritmos computacionais. A exposição tensiona questões sobre as formas de ocupação do território e apropriação da paisagem, questionando se existem outras maneiras de lidar e conviver com a natureza sem que esta seja tratada como mero recurso a ser consumido. O objetivo é despertar o pensamento ecológico, urbano e territorial que o projeto se propõe a desenvolver.
Entre as séries apresentadas por Moreno, estão pinturas de paisagens montanhosas (óleo sobre madeira), esculturas derivadas de simulações de relevo e obras que aproximam a pedra jaspe madeira aos veios de madeira compensada, contrapondo tempo geológico e tempo humano. No trabalho de Ishikura, destacam-se instalações em madeira, carvão, pinturas a óleo (com incidência de carvão e cinzas) e um vídeo que condensa natureza geológica e artifício humano.
“É uma experiência de circulação”, afirma a curadora. “Estar na sala para pensar espaços que estão fora dela”, complementa. Livro em produção – O projeto da exposição inclui a construção do livro Paisagem, mero artifício, em fase de produção. Mais que um catálogo, a publicação reunirá entrevistas, textos críticos e ensaios fotográficos.
“É uma publicação que amplia a discussão sobre a nossa relação com a paisagem, a partir de um recorte mais amplo da produção das artistas”, antecipa a curadora do projeto. A publicação, prevista para o início de 2026, amplia o debate sobre a paisagem na arte contemporânea. O Museu de Arte de Ribeirão Preto abre de terça a sexta-feira, das 9h30 às 12 horas e das 13 horas às 17h30. Atenderá nos sábado 13 de dezembro e 10 de janeiro, com visitação das nove às 15 horas. O Marp fica na rua Barão do Amazonas nº 323, na região Central da cidade, na esquina com a rua Duque de Caixas, em frente à praça Carlos Gomes.

