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A Bíblia e Gaza

Mário Palumbo *
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Na Bíblia aparecem páginas onde se diz que Deus manda exterminar povos para doar a terra aos israelitas: “É o Senhor teu Deus que irá à tua frente; ele mesmo, à tua vista, destruirá todas essas nações, para que ocupes suas terras. ” (Dt 31,3)

Sacerdotes costumam interpretar estes textos de maneira alegórica, referindo-se às lutas contra os inimigos interiores de cada um de nós. Os textos, porém, são muito claros em dizer respeito à dominação. O Deus imutável que cria a humanidade para a felicidade será que muda de opinião?

Ele pode se enfurecer contra povos e exterminá-los para dar a terra ao povo “eleito”. Que Deus é esse que permite que os filhos de Babilônia sejam arremessados nas rochas? “Ó cidade da Babilônia, destinada à destruição, bem-aventurado aquele que lhe retribuir o mal que você nos fez! Bem-aventurado aquele que pegar as suas crianças e despedaça-las contra as rochas! ” (Sl.137:8-9)

Será isso que Benjamin Netanyahu decreta a morte por fome para as crianças de Gaza? Cada criança palestina é uma ameaça ao novo Herodes, por isso deve ser exterminada?

Será que tudo isso não é uma extensão da nossa maldade e que atribuímos a Deus? Será que Benjamin Netanyahu se aproveita desses textos para, em nome deste deus bélico, exterminar palestinos que moram em Gaza e se apropriar de terras para ampliar seu domínio? Será que essa é a vontade de Deus, que irmãos se matem uns aos outros em guerras fratricidas? Ao tempo de Jesus, o povo de Israel esperava um messias que os libertasse da dominação romana. Pedro e os apóstolos também tinham esta ideia de libertação e perguntaram a Jesus “porquê não implorava ao céu para fazer cair fogo e destruir ‘os inimigos’?”.

Como ver isso à luz do profeta Isaías que anuncia a reunião de todos os povos e línguas conforme está no Livro de Isaías 66,18?

Como ver isso à luz de Cristo? Ele, que quer dos dois povos fazer um só como visto em Efésios: “Porque Ele, Cristo, é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um só corpo, matando com ela as inimizades. ” (Efésios 2:14-16)

Com Cristo não existe mais a separação entre gregos e romanos, em Gálatas afirma-se que em Cristo Jesus, não há distinção entre um e outro pois, todos são Um, filhos de Deus que os ama. Essa passagem enfatiza a unidade e igualdade entre todos os crentes em Cristo, superando barreiras culturais, sociais e de gênero.

“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. ” (Gálatas 3:28)

O messias tanto esperado pelos judeus ainda não é reconhecido e continua-se na teologia do domínio e do terror, matando crianças e inocentes que não sabem o porquê de tanta maldade. Terror este que se pretende justificar pelos textos bíblicos do antigo testamento que são usados como legitimação espiritual de tais atrocidades e genocídios.

O Deus-Amor transformará as atrocidades do ódio em glória e vida plena dos oprimidos.

* Professor e padre casado 

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