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A bolha – 1

Luiz Paulo Tupynambá *
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Uma das palavras que provoca pânico no capitalismo é “bolha”. É a descrição de um acúmulo de financiamento para um determinado setor da economia. Por natureza e necessidade, empresas captam recursos no mercado de capitais para executar projetos buscando crescimento e futura expansão do lucro ao melhorar sua posição no mercado. A bolha se forma quando há um excesso de investimento (empréstimos) captado por um segmento que, tempos depois, se percebe não conseguirá entregar o lucro esperado ou pior, nem devolverá o capital investido. Aí a bolha explode. E as pessoas perdem muito dinheiro.

Existem muitas maneiras de financiar empresas. Pode ser financiamento estatal. O Estado injeta dinheiro a custo quase zero numa ou mais empresas para gerar um benefício social, que é o “lucro” do poder público. Pode ser usado, como no modelo econômico chinês, para alavancar o crescimento de setores específicos da economia.

Para crescer, uma empresa precisa de investimento constante, evitando ser engolida pelas concorrentes. Capitalismo é renovação de processos produtivos, evolução de sistemas de controle administrativo e financeiro, identificação de novas necessidades de mercado e atendimento dessas necessidades com novos produtos. No sistema capitalista, empresa que não investe não sobrevive. E investir significa captar financiamento, seja no sistema bancário oficial ou privado, seja na agregação de novos “sócios” por meio da oferta de ações nas bolsas de valores.

Os grandes investidores em ações são os fundos de capitalização. Podem ser criados por bancos, financeiras e empresas do tipo. Também existem fundos financeiros semi-estatais de aposentados e pensionistas, existentes em quase todos os países. São as “galinhas dos ovos de ouro” do mercado financeiro. Corretor que administra um fundo desses vira mandachuva, seja na Faria Lima, seja em Wall Street. Normalmente, o corretor observa os relatórios com vários dados da empresa, como produção, vendas, balanço, etc. Quanto melhores são esses números, melhor avaliada é a empresa. E ações bem avaliadas sobem seu valor, gerando lucro para quem comprou por um preço menor, tempos atrás. Porém, empresas de um determinado segmento podem mostrar resultados e expectativas que não estão “calçadas” na realidade do mercado. Isso acontece muito quando atuam em novos mercados, com muita especulação sobre o lucro que será gerado por esse novo mercado. Aí é que mora o perigo. Administradores são humanos. Podem se entusiasmar, arriscar, jogar para vencer. Mas quem arrisca, geralmente perde.

Alguns dos melhores jogadores desse “cassino” chamado mercado de ações começam a manifestar preocupação com a economia da Inteligência Artificial. Questiona-se sobre o que realmente essas empresas vão entregar para o mercado. O primeiro a falar foi o cara que descobriu a crise dos sub-primes de 2008, Michael Burry. Uma fabricante de peças para os sistemas de IA como a NVidia é algo visível e compreensível. Fabrica e entrega um produto. Hoje é a empresa mais valiosa do mundo. Todo data center no planeta usa suas placas, aos milhares de unidades em cada um deles. Mas espere um pouco. Para uma empresa com o tamanho que tem na bolsa de valores, ela tem um número muito pequeno de clientes importantes, seis para ser exato. A NVidia vale hoje quatro trilhões e oitocentos e dez bilhões de dólares. Assim mesmo. Tri e bi.

As empresas compradoras dos produtos da Nvidia são as “big techs”, donas de data centers gigantes. Mas ninguém sabe direito o que elas estão vendendo. E será que isso vai gerar receita real? Que serviço tão valioso elas prestarão a ponto de conseguir rentabilidade para pagar o que foi investido?

A recente valorização das empresas ligadas a IA nas bolsas estadunidenses está em contradição aos princípios de crescimento de mercados setoriais. E se uma bolha desse tamanho estourar, a crise de 1929 vai parecer garoa de verão comparada a um tsunami duplo. E o Michael Burry? Ele apostou contra os sub-primes, ganhou e ficou rico, os outros quebraram. A História ensina.

* Jornalista e fotógrafo de rua

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