Aquela velha dicotomia entre a educação formal e informal acompanha até os dias de hoje as discussões que envolvem as práticas educacionais nos dois ambientes, como se fossem dissociados. Nas mídias têm sempre alguém defendendo que a educação vem da família, e é em casa que se aprende o comportamento social. Entretanto, esse argumento não se sustenta, talvez em algum momento do século passado, essa afirmação tenha encontrado guarida, entre os defensores da educação repressora e violenta, que jazia nos lares e era reproduzida com requintes de crueldade no ambiente escolar.
Até meados do século passado, as crianças não eram consideradas sujeitos de direitos, e isso abria um leque de teorias educacionais, onde prevalecia a violência física como sendo o carro chefe. O Movimento da Escola Nova, de 1932, mostrou que havia outras possibilidades de educação, em que a violência física e psicológica não cabiam. Porem, mudar uma cultura secular alicerçada na violência não é algo fácil, mas a luta dos grandes educadores brasileiros,mostrou que havia outros caminhos, que uma educação fincada no respeito, solidariedade, honestidade, afetividade e responsabilidade era possível, e com isso surgiram novos horizontes.
Entretanto, os caminhos da educação libertadora, sonhada na construção da Nação foram obstruídos, e com o tempo as velhas ideias estigmatizadas e escoradas na violência voltaram com mais força, e com isso a dicotomia da educação formal e informal voltou a demarcar seus campos, como se fossem coisas distintas. A fenda aberta no regime militar a partir de 1978, despertou na população brasileira o interesse por uma educação básica pública e de qualidade para seus filhos, e esse interesse da população trouxe em seu bojo os educadores comprometidos com uma nova ordem. As Conferências Brasileiras de Educação (CBE), que aconteceram nos anos 1980, Conferências que tiveram a força da participação da popular,que através de muitas lutas queriam garantir um futuro melhor para seus filhos, e essa luta teve como resultado o Capítulo Educação da Constituição cidadã.
Contudo, mesmo com a Constituição garantindo uma educação básica pública de qualidade, ela não se materializou no chão da escola, e os parcos avanços que mostraram que uma educação básica pública de qualidade forma cidadãos conscientes e éticos, foram e estão sendo combatidos pelos cupins do atraso, que agem no obscurantismo tentando destruir o alicerce fincado na Constituição cidadã. As agressões criminosas contra as pedagogias libertadoras tomaram conta do ambiente escolar. A proliferação de mentiras foi o primeiro passo para tentar criminalizar os educadores que lutam por uma educação de qualidade e cidadã. Inventaram a ideologia de gênero, a mamadeira de piroca, o banheiro unissex e a doutrinação esquerdista, e com estes argumentos falsos e criminosos colocaram as famílias contra os educadores, e com isso a liberdade de cátedra foi obstruída.
O resultado maléfico de tanta iniquidade se expressa no cotidiano, onde a desinformação e notícias mentirosas contaminam o ambiente, e o exercício da cidadania fica comprometido, e a democracia vai sendo relativizada, e o povo que paga a conta, acaba alijado dos seus direitos. O exercício da cidadania, não pode se resumir no direito de a cada dois anos, a população poder escolher seus representantes, que depois de eleitos viram as costas para o eleitor.
O que estamos assistindo no Congresso Nacional, principalmente na Câmara dos deputados é o resultado de décadas de promiscuidade e traição ao povo brasileiro, resultado da péssima qualidade da educação básica pública, mas isso é projeto de “Estado” pensado há séculos, para que a segregação seja permanente, e o povo na ilusão de viver em uma democracia, e ter o direito de votar, pensa que está exercendo a sua cidadania, mas está sendo enganado e aviltado e roubado.
A base de uma Nação é a educação, que não pode ser dualista, tem que ser integral, com o amalgamento da educação familiar e escolar, afinal para vivermos em uma sociedade de paz, onde não cabe a desigualdade – tem que haver a solidariedade.

