Rosemary Conceição dos Santos*
De acordo com especialistas, León de Greiff (1895-1976) foi um poeta latino-americano notável por suas inovações estilísticas. De Greiff, de ascendência sueca e alemã, teve como primeiro livro de sua autoria a obra “Tergiversaciones” (1925; “Tergiversations”), livro de poemas caracterizado por uma linguagem complexa, som rico e exploração de temas como natureza, imaginação, viagens e fuga da realidade. Diferentemente da visão romântica, Greiff se distancia da natureza, buscando fuga por meio da imaginação e de viagens, embora com uma corrente oculta de amor pela natureza. Etimologicamente, o termo se refere ao ato de usar desculpas, evasivas ou rodeios para evitar uma resposta direta ou uma afirmação clara. Em termos jurídicos, a palavra pode também designar o crime de um advogado que defende simultaneamente partes opostas num mesmo processo.
Concluindo seus estudos básicos no Liceo Antioqueño e três anos de Faculdade na Escola de Minas da Universidade de Antioquia, em Medellín, diversas inimizades o levaram à decisão de abandonar esta profissão. Depois, por um breve período, estudou direito na Universidade Livre de Bogotá. Aos 18 anos, foi secretário particular do general Rafael Uribe, pouco antes deste ser assassinado. De volta a Medellín, o autor se reuniu com outros doze intelectuais, todos com cerca de vinte anos, para formar o grupo Panidas. Em 1916, De Greiff trabalhou como caixa e contador no Banco Central. Mais tarde, administrou a extensão da Ferrovia Antioquia ao longo do Rio Cauca, na área de Bolombolo. Este lugar surgiu de repente no universo poético de De Greiff, como o lugar onde convergiam as diversas personagens que o povoavam, nascidas de leituras e sentimentos, de uma necessidade de se desintegrarem em histórias de “outros”, sendo também os seus nomes belos sons, carregados de reminiscências de temas literários.
Entre junho e setembro de 1925, foi publicada a revista Los Nuevos, na qual uma “nova” geração começou a se fazer sentir. León de Greiff nela participou e, embora exibisse a musicalidade comum aos poetas modernistas latino-americanos, foi inovador na invenção de palavras, no uso de adjetivos estranhos e na quebra do fluxo da linguagem, na tentativa de retratar um mundo carregado de significados simbólicos “Libro de los signo”s (1930; “Livro dos Sinais”), outra obra poética do autor, utiliza os mesmos recursos estilísticos, trazendo como temas predominantes a solidão, o tédio da existência e o passado. Há uma busca consciente pela perfeição formal, numa tentativa de criar uma união da linguagem poética com os sons da música. Por sua vez, “Variaciones alrededor de la nada” (1936; “Variações sobre nada”) contém poemas profundamente confessionais, com especulações filosóficas sobre a natureza do amor, o ideal artístico e o sentimento do poeta sobre a vida como uma aventura.
Sua obra revela o interesse contínuo do poeta pela linguagem e pela experimentação sonora. Os poemas posteriores abordam temas que revelam o lado paradoxal da natureza humana, sendo sua poesia frequentemente irônica, humorística e satírica, chegando ao ponto da autodepreciação. Seu último livro, “Nova et Vetera. O oitavo mamotreto” foi publicado em 1973. Novos e antigos, este volume resgata poemas inéditos das primeiras obras de León de Greiff, que remontam a 1915, e abrange todos os seus períodos. Um poema?
DECLARAÇÕES FALSAS
Porque veem minha barba, meu cabelo e meu cachimbo alto,
dizem que sou poeta…, quando não é porque estou iludido
que costumo rimar – em versos de contorno difuso –
minha jornada byroniana pelas planícies de Zipa…,
como um agrônomo barrigudo de hipa
que, por um capricho de sua mente obtusa
, se imagina fingindo o paraíso…! o
Poe alucinado que o álcool estripa!, o
diabólico Baudelaire, o angelical Verlaine,
o malévolo Arthur Rimbaud, o sensorial Rubén,
e finalmente… até mesmo o oniforme Padre Victor Hugo…!
E tanta terra inútil por falta de músculos!
tanta indústria nova! tanto espaço de armazenamento…!
Mas é tão lindo ver o crepúsculo fugir…
Professora Universitária*

