Rosemary Conceição dos Santos*
De acordo com estudiosos, Porfirio Barba-Jacob (1883 – 1942) foi um proeminente poeta e escritor cuja vida foi marcada por turbulência e criatividade. Criado pelos avós após uma infância desafiadora, iniciou sua jornada literária ainda jovem, fundando a revista literária El Cancionero Antioqueno por volta de 1902. Sua obra inclui poesia, com poemas notáveis como “Campiña Florida” e “Parabola de la vida profunda”. Ao longo de sua vida, Barba-Jacob adotou vários pseudônimos, sendo o mais famoso “Porfirio Barba-Jacob”, enquanto enfrentava turbulências políticas que o forçaram a fugir de vários países, incluindo Guatemala e Cuba, devido às suas opiniões e associações controversas.
Após fundar o jornal literário El Cancionero Antioqueño, que dirigiu como Marín Jiménez, escreveu o romance “Virgínia”, que nunca foi publicado porque os originais foram apreendidos pelo prefeito de Santa Rosa por serem “imorais”. Apesar desses desafios, ele contribuiu significativamente para a cultura literária na América Central e no México, tornando-se amigo de figuras influentes como Porfirio Díaz. Seu legado literário abrange temas de tristeza e reflexão existencial, o que lhe rendeu apelidos como “el Poeta Maldito” (o Poeta Amaldiçoado). Acometido pela tuberculose, suas cinzas foram devolvidas à Colômbia, em homenagem ao seu impacto na literatura colombiana. Sua história ilustra a intersecção entre arte e luta pessoal, repercutindo entre aqueles interessados nas complexidades de figuras literárias em contextos históricos tumultuados. Um poema?
CANCIÓN DE LA VIDA PROFUNDA
Há dias em que somos tão móveis, tão móveis, como leves rajadas de vento e acaso…
Talvez sob outro céu, a Glória nos sorria… A vida é clara, ondulante e aberta como um mar…
E há dias em que somos tão férteis, tão férteis, como a paisagem de abril, tremendo de paixão;
sob a influência providente das chuvas espirituais, a alma brota florestas de esperança.
E há dias em que somos tão plácidos, tão plácidos… infância no crepúsculo! Lagoas de safira
que um verso, um trinado, uma montanha, um pássaro atravessando, e até as nossas próprias tristezas! nos fazem sorrir…
E há dias em que somos tão sórdidos, tão sórdidos, como as entranhas escuras de sílex escuro;
a noite nos surpreende, com suas lâmpadas profusas, em moedas cintilantes, avaliando o bem e o mal.
E há dias em que somos tão luxuriosos, tão luxuriosos, que uma mulher nos oferece sua carne em vão:
depois de cingir uma cintura e acariciar um seio, a redondeza de um fruto nos emociona novamente.
E há dias em que somos tão sombrios, tão sombrios, como o pranto do pinhal em noites sombrias:
Então a alma geme sob a dor do mundo, e talvez nem o próprio Deus possa nos consolar.
Mas há também, ó Terra! um dia… um dia… um dia… em que levantamos âncora para nunca mais voltar…
um dia em que sopram ventos inescapáveis. Um dia em que ninguém pode nos deter!
Professora Universitária*