Tribuna Ribeirão
Artigos

A Colômbia e sua Literatura (35): José Maria Vargas Villa

Rosemary Conceição dos Santos*

 

De acordo com estudiosos, José Maria Vargas Villa (1860 – 1933) nasceu em uma família católica, vindo a se tornar um intelectual autodidata, revolucionário liberal radical, professor, escritor, poeta, panfletário, jornalista político-intelectual, cosmopolita, orador político e diplomata — este último como representante político da Nicarágua e do Equador, não da Colômbia — cuja figura controversa e obra prolífica constituem, hoje, um capítulo central na história da literatura modernista latino-americana. Sua figura corresponde a uma das vozes que proclamaram a liberdade dos povos e as ideias libertárias, entre o final do século XIX e as três primeiras décadas do século XX, diante da tirania na América Latina, do regime clerical, da moral cristã e do imperialismo ianque. Desde muito jovem, entre 1876 e 1885, Vargas Vila abraçou apaixonadamente a ideologia liberal radical e trabalhou como professor. Mas isso não significava que se considerasse um homem sociável; Vargas Vila preferia a solidão a todo custo e se declarava misógino e ateu.

Ainda segundo estudiosos, enquanto a atmosfera cosmopolita, intelectual, jornalística e política proporcionava terreno fértil para o desenvolvimento de sua pena cáustica, a escrita profusa e multifacetada do autor germinava e crescia — estima-se que tenham sido aproximadamente 84 títulos, sem contar seu diário, artigos de jornais políticos e escritos epistolares — no isolamento emocional de seu espírito e gênio. Da implacável pena de aço, com a qual açoitava diretamente os rostos de seus inimigos por meio de panfletos e diatribes raivosos, também destilavam, em caligrafia elegante e belamente adornada, histórias macabras repletas de cenas lascivas e mórbidas; reflexões sarcásticas; demonstrações de conhecimento sobre figuras e eventos históricos; bem como sua arrogância e egolatria.

Vargas Vila foi o primeiro colombiano a fazer fortuna escrevendo. Obras-primas como “Aura o Las violetas ” (Contra os Bárbaros) e “Íbis” adentraram os círculos editoriais, mesmo os clandestinos, garantindo seu selo autoral e catapultando-o para o sucesso em toda a América Latina e países europeus. A postura revolucionária do escritor irreverente, o estilo de vida extravagante, os motivos literários desavergonhados, a indisciplina gramatical e o pensamento estético-político libertário deram origem a lendas e a uma enxurrada de críticas corrosivas, das quais ele, no entanto, permaneceu ileso.

“Aura o las violetas” (1887) é o primeiro romance sentimental do autor. Narra a história de amor de Aura e seu amigo de infância, cujo pacto, selado com um buquê de violetas, ela rompe na adolescência ao se casar com um velho rico que não ama, embora o jovem que ama lute para impedir o casamento. O infortúnio, representado pela impossibilidade de se amarem sem transgredir as normas sociais e morais, leva Aura a tomar uma decisão que determina o sentimento amoroso do jovem. Por sua vez, “Íbis”, após seu lançamento, foi calorosamente recebida, cativando o público leitor, mas sofreu críticas implacáveis e subsequente censura. A causa: o erotismo provocativo e exacerbado, impregnado de misoginia, com que o autor retrata a figura feminina e transgride o espírito e a moral cristãos, zombando, no processo, do decoro da classe burguesa. Por esta e muitas outras razões, este romance tem sido alvo de críticas literárias. “Íbis” conta a história de Teodoro, um jovem guiado por seu mestre em direção a uma filosofia de vida aristocrática com o objetivo de fortalecer seu intelecto. Um dos preceitos essenciais da educação é desfrutar do prazer que as mulheres proporcionam aos homens, sem realmente amá-las. O jovem consegue manter esse comportamento até o dia em que se apaixona por Adela, uma noviça que ele mais tarde rapta do convento para se casar com ela. Claramente, ao experimentar o prazer sexual, Teodoro perde a fé e sucumbe ao amor, então ele resolve se distanciar de seu mestre, criticando sua filosofia. Com o passar do tempo, sua vontade enfraquece porque a força tirânica do amor o aniquila enquanto ele decifra o mal que Adela personifica. Teodoro recorre ao seu mestre em busca de conselhos, e é lá que ele luta com as contradições em relação às mulheres e ao amor, em busca de uma solução para sua tragédia. Esta obra, odiada e amada por muitos, marcou um antes e um depois na vida de Vargas Villa como romancista e também uma nova etapa na literatura americana.

“Emma”, também de sua autoria, é um romance curto que trata do amor casto e profundo de um jovem casal que compartilha o mesmo teto desde a infância, mas que, com o tempo, se torna impossível; inicialmente porque Armando viaja a Roma para estudar; depois, porque notícias falsas o levam a dedicar sua vida ao sacerdócio; e, finalmente, porque o reencontro torna seu amor ainda mais trágico. “Lo Irreparable”, por sua vez, é uma história de intrigas ambientada nas origens da opressão dos povos em nome de Deus. Seu protagonista é Juan, um escravo que, em decorrência de uma disputa entre dois irmãos, é injustamente julgado e condenado ao exílio por um assassinato que não cometeu. Diante da impossibilidade de amar e provar sua inocência, lamenta sua condição por estar sujeito à justiça divina e à justiça dos homens.

Professora Universitária*

Postagens relacionadas

A mais terrível das hienas

Redação 1

O QUE ou QUEM É DEUS? (II) 

Redação 2

A Literatura Paraguaia na Contemporaneidade: Caputo, Kent, Colombino, Bogado, Recalde, Barreto e Casartelli

William Teodoro

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com